quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Apêndice

Várias coisas que faço caíram em desuso. Gosto de desenhar em papel, dar bom dia para todos, Assistir TV e falar de carnaval. Antes, assim como o futebol que temos 200 milhões de técnicos, também tínhamos a mesma proporção de carnavalescos. Sabe a história de chover no molhado? Pois bem, era com chover no Oceano Atlântico. Tudo o que envolve o Carnaval é muito gostoso e ainda um dia, tenho pretensão de organizar um desfile, mesmo que em uma escola pequena. E antes, o imaginário sobre isso acalentava todos os seres humanos do planeta. Todos querem estar nesse clima de escola. De samba, naturalmente.
Muitos julgam conhecer, e por vezes se acham formado em samba e carnaval. O senso comum americano, acha que somos todos Carmem Miranda. Até o recente saudoso Jerry Lewis, fez o filme Morrendo de medo, de 1953, cantando, vestido da nossa pequena notável, Mamãe eu quero! O carnaval foi inventado em Sodoma, aperfeiçoado em Gomorra e dominado pelo Rio de Janeiro, mas propriamente na Lapa. Tudo começa a ser organizado em 1893, pasmem, pela elite carioca que decidiu se afastar do passado lusitano e flertar a aproximação com as novas potências capitalistas. Mas nosso genoma popular fala mais alto e se tornou uma festa de todos, sem distinção de raça e condições sociais, deixando aquela Galeria Alaska sair de dentro de todos, pelo menos por 5 dias.
Os blocos de rua estão tomando folego nos últimos anos, tendo para todos os gostos. Blocos infantis, blocos LGBTs, blocos em homenagem a um cantor ou grupo de rock, bloco dos famosos, além dos tradicionais com mais de 100 anos e que hoje arrastam milhares de foliões para além do manto diáfano da fantasia. Isso, deu força para o fortalecimento do samba de raiz e a adoração dos mais novos pelo gênero, principalmente nas composições de Agepê; Alberto Lonato; Anescarzinho do Salgueiro; Aniceto do Império; Antônio Rufino; Ataulfo Alves; Beto sem Braço; Candeia; Cartola; Casquinha da Portela; entre outros. Não posso esquecer de nomes como Clara Nunes; Cláudio Camunguelo e Clementina de Jesus, que somado a algumas doses de cevada, podem deixar de passar os dias vendo as lindas mulatas para ver bem de perto os mulatos fungando no seu cangote, numa cela abarrotada de gente.

As experiências de uma avenida são únicas, tanto desfilando, quanto na arquibancada. No desfile, você perde a noção de tempo e espaço. Algo que os grandes cientistas podem estudar esse fenômeno quântico, afinal, o desfile demora um pouco mais de uma hora, mas para quem está no chão é uma eternidade. O paradoxo mais lindo do planeta. Já na arquibancada, está presente, muitas bandeiras, torcidas inflamadas. Choros e lágrimas, regadas a odores variados como feromônios, suores, lança-perfumes e da menina da zona sul com seu indefectível Chanel número 5. A portela ganhando estará tudo azul, se ganhar a esperança será a Império. Agora se ganhar a Verde e rosa…será a verde e rosa! Contenção na prosa, mas quando a mangueira entra (sem duplo sentido), tudo para. Ponto de fusão e ebulição juntos com o velho cisco no canto do olho. Tudo é esquecido também. Aliás, onde ficou minha carteira?

Como falei antes, várias coisas que faço caíram em desuso. Uma delas, o charmoso e intrigante, desfile das fantasias. Antes, no começo do século, eram populares as fantasias na rua como caveira, odalisca, malandro, diabo, príncipe, bobo da corte, pierrô, colombina, vedete e palhaço. O Pierrô, o Arlequim e a Colombina são personagens da Commedia dell’Arte italiana nascidos no século XVI e foram muito bem incorporados a realidade brasileira. Afinal de contas, mais de mil palhaços no salão, o Arlequim está chorando pelo amor da Colombina no meio da multidão.
Acordei com saudades do carnaval, é verdade. Tenho a verve do Rock e MPB nas veias, mas quem pode resistir a esse clima. Eu sei que minha vida poderia ser enredo de uma tremenda letra de samba. Mas isso é outra estória.  Mesmo tentando fugir para descansar e não participar da festa da carne, você acaba vendo os desfiles pela TV, participando de alguma forma dos climas nas ruas e ficando em família, rindo tudo que poderia rir nesse período. E quantas lembranças colecionamos? Me falta Savoir Faire nesses momentos.

Amanhã já poderia ser carnaval. 

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