quinta-feira, 22 de março de 2018

Mundos paralelos


Acho que vivo em mundos paralelos. Sabia que o ódio estava presente sempre, mas o caso da Marielle, transbordou a barreira do ponderável. Como é possível, que uma pessoa que tem ódio a um partido, passa por cima covardemente da morte de um ser humano, faz pouco caso nas redes sociais, dissemina inverdades para desqualificar uma pessoa com todas as qualidades e lutas das minorias e cospe em cima dos Direitos Humanos, sem nem ao menos saber o que é Direitos Humanos? O que faz uma pessoa odiar tanto a outra pessoa que é capaz de qualquer barbaridade para se sentir glorificado com suas ações?
A sensação de passar por entre frestas desses mundos sem poder fazer nada, ao menos ajudar a pessoa a ter no mínimo compreensão da sua fala é ambígua. Sabemos que se formos atrás de cada notícia, cada desvio de atenção, qualquer fofoca, onde no Brasil o inconsequente e o essencial se confundem, não temos tempo de respirar direito e a nos dedicar a outras coisas. Assim mesmo, sempre seguimos em frente e firmes, com o pensamento incômodo de: Será que estamos perdendo algum detalhe?
Mas esse modelo fascista que todos estão assustados, que aparece nas redes sociais de forma brutal, crescente, pondo inclusive um representante político no páreo da corrida presidencial, foi de uma hora para outra? Quantas pessoas estão tendo que fazer verdadeiras faxinas de amizade virtual? E quantos tinham aquele amigo de longa data que de repente está tendo um discurso diferente do que conhecia anos atrás?
O fascismo é sempre um produto de uma inconsistência econômica. A inconsistência cria uma necessidade frequente de justiça. A pressão econômica é grande, o poder de compra encolhe e a sociedade começa a disputar a quem pertencem o bolo onde está o verdadeiro dinheiro, que vão ficando cada vez mais difíceis de alcançar. Junto com isso, você percebe um sentimento de desânimo com seu Estado, seu País. A pessoa se acha inferior, incapaz de produzir sua riqueza, principalmente vendo que as necessidades básicas estão cada vez maiores enquanto poucos fazem e desfazem tudo em prol dos seus e de seus amigos.
Os ânimos ficam exaltados. Tanto a esquerda quanto a direita vão ficando mais extremadas.  O vazio que o centro ocupava dá lugar para um político novo – Aquele político que você não conhece sua luta social, mas sim com a promessa de exterminar com as mazelas. Ele pode ser famoso ou elegante ou surgir como um super-herói da cultura pop americana que soluciona tudo de maneira rápida, reivindicando ao povo pelo sangue ou por deus. Daí vemos o renascimento do Nacionalismo. Lembram da apropriação de símbolos nacionais? O pato amarelo já é uma apropriação indevida, por que não falar em roubada a imagem do artista plástico holandês Florentijn Hofman.
Esse grupo de pessoas, localizam a fonte de problemas naqueles que não têm encaixe na sociedade dita de bem, que são inferiores para eles– às vezes, não apenas moral, mas étnico, sexual, socialista, comunista – e os apontam o dedo. É muito mais fácil acreditar que todos os problemas estão neles, que querem destruir sua sociedade, seu modo de vida. A criação de mentiras a cerca destas pessoas, já provocam um sentimento de verdadeira crença que mesmo sendo desmentidas, não trazem de volta aquela revolta dessa turba influenciável. O incrível poder destrutivo da difamação.
Mesmo sabendo que toda execução de um político é um ato político, pois matam o corpo físico para tentar matar tudo aquilo que ele representa também. Mas esquecem que algumas pessoas morrem para virar heróis e acabam sendo mais fortes, pois dão vozes multiplicadas e Marielle passou a vida lutando contra o feminicídio, a guerra às drogas, a desigualdade, e assassinato da população pobre seja ela a população trabalhadora, como policiais.
Agora vemos a luta da sociedade com ela mesmo, o momento que Umberto Eco já chamava de Fascismo eterno, onde a classe média desesperada e precisando de prosperidade, reage ao seu declínio dando apoio ao ressurgimento do fascismo. E a esquerda? Ela está mais uma vez dividida, travando uma luta contra si, sem compreender novamente o fenômeno, sem lutar contra esse extremo. E vamos ver o quanto é cíclico a história da pior maneira.


Participação em Live


Semana passada, participei da Live na BiblioIdéias, falando sobre o processo de criação do livro Cdinome Boto, pela DataCoop, lançado no último dia 05/03. O vídeo na íntegra pode ser conferido pelo link direto: https://www.facebook.com/biblioideias/videos/1806585246027126/UzpfSTEwMDAwMDAyNTQ0MjUxMzozMDYwNjExMjk0OTk0MTQ6MTA6MDoxNTIyNTY1OTk5Oi02NjcxMjMyODc2Mzc5MDE4OTE2/

quinta-feira, 15 de março de 2018

Só sei que me disseram


Dois amigos em um pé sujo, se encontram no horário do almoço. Depois de uma conversa frívola e bem animada, o riso acaba dando lugar a suspiros e eis que um deles começa:
- Sabe amigo, não entendo a história da humanidade. Sabemos um tanto de dois mil anos para cá, mas não sabemos nada para trás! Não é louco isso?
- Loco! E quando falam que forças invisíveis estão manipulando a nossa nação? Não entendo isso. Falam sobre o capitalismo, mas como funciona isso?
- Já me falaram na quinta série, mas esqueci.
- E aquele espião que foi envenenado? Foi queima de arquivo? Isso existe de verdade?
- Só vi em filmes do James Bond.
- Sabe uma coisa louca?
- O que?
- Olha quantas personalidades, como presidentes, foram também afetadas por câncer...foram os presidentes do Brasil, da Venezuela, Paraguai, Argentina...tudo de uma vez só…não é curioso? Como se quisessem acabar com eles de uma forma....
- Olha…rapaz…não sei o que falar......
- Será que o que aparece nos filmes pode acontecer?
- Hunf…não…não sei....
- Muito louco isso....
- Mas quer saber uma coisa?
- Hã?
- Trabalhar com linguagem Python é impossível. Não sei nada sobre isso.
- Ué? E Windows? Quem sabe?
- É um desafio, se você quer saber!
- E por acaso, você sabe como funciona um computador?
- Assim...na teoria, sim....
- Jura?
- Para dizer a verdade, não. Não sei como lidar com Smartphone!
- Não sei usar o zap! Eu me enrolo todo em responder. Não sei usar as carinhas e a pessoa fica dizendo oi...oi...oi...oi...me dá um nervoso e não sei o que responder!
- Loco!
- Na verdade nem sei como usar a minha própria TV.
- Isso já me falaram. Tem a ver com cabos e internet. São a partir de ondas via satélite.
- Nooossa!
- Pois é!
- Mas já que você falou sobre isso...não sei nada sobre fogão!
- O que? Se é para abrir o jogo, vou falar de uma vez: Não sei como se usa chave!
- Chave de carro?
- Pior...chave de casa!
- Eita!


quinta-feira, 8 de março de 2018

Diferença do novo cinema


No dia em que os céus receberam de braços abertos nossa diva do cinema, a querida Tônia Carrero, nos EUA se celebrou a maior festa de cinema do mundo, o Oscar. E já era esperado, nesta cerimônia, as manifestações políticas que se tornaram importantes em outros festivais do ano passado. Muitos dizem que o mundo ficou muito perigoso e caminhando para o fundo do poço. É bem verdade, que muitas coisas realmente fazem parte dessa luta entre patrões e trabalhadores e que nesse momento estão vendo essa virada de mesa através da força, falta de respeito e intolerância, mas ao mesmo tempo, a resistência das minorias se tornaram muito importante e com uma força descomunal. Parabéns aos envolvidos.
Como se distingue hoje um cinema moderno e engajado com as realidades dos dias de hoje? Até a pouco tempo era fácil distinguir. A evolução técnica era o mote principal. Tanto dos efeitos especiais, quanto da evolução de câmeras e com o olhar fotográfico mais premiado nesse avanço. Hoje, você percebe, depois do discurso da excelente atriz, Frances McDormand pedindo para que todas as envolvidas diretamente com a premiação se levantassem, seja qual área fossem. Não eram poucas e envolvidas em todas as áreas de produção. A força feminina de crescimento neste setor, não precisou ser corpulenta e barbada como a atriz Keala Settle, fazendo o papel de Lettie Lutz (que na vida real se chamava Annie Jones), no filme com Hugh Jackman. A barba não quer dizer mais nada ideologicamente. Filmes que podemos ver essa força, podem ser conferidos nos últimos da saga Star Wars, com protagonistas femininos e Mulher Maravilha, que ultrapassou apenas o estigma de filme de herói e deixou cada menina que assistiu ao filme, com lágrimas nos olhos pela representação. Muitos filmes se multiplicaram desde filmes como Anna Karenina, Antes do Pôr do Sol e Thelma e Louise.
E o discurso? Os americanos precisaram usar legislação para inserir o negro na filmografia. E mesmo assim, durou muitas décadas até formarem atores negros com papéis que falem de si e inclusão social, como no reconhecimento da academia ao texto de Jordan Peele. Assim como Mulher maravilha, a Marvel também acertou com o filme do Pantera Negra, com uma constelação de atores, direção de artes e temática dinâmica.  Não só os negros americanos conseguiram se impor na indústria, como além de o reconhecimento estar acontecendo, conseguiram criar uma história inovadora do cinema de suspense. O melhor filme do gênero é negro, com Run, texto de Peele. Falando em barba, como simbologia, a disputa pelo melhor ator teve o Denzel Washington, que já exibiu uma barba furiosa, se transformou fisicamente para interpretar um personagem no filme Inner City. Ninguém destoou. O discurso a favor da justiça social foi certeiro. Ninguém se manifestou ao contrário, pois a mudança de comportamento veio para ficar, assim como as cólicas.
Portadores de deficiência e diferenças de gênero foram ovacionados, tanto nos bastidores quanto em frente das câmeras. O que dirá o filme Chile vencedor de melhor filme estrangeiro, com: Uma mulher fantástica. Foi o primeiro filme estrelado por uma pessoa transexual a levar o Oscar. A atriz Daniela Vega interpreta Marina, uma jovem vítima dos preconceitos da sociedade chilena. Nada mais moderno e inclusivo. Ano passado tivemos a Garota dinamarquesa, filme com uma atuação primorosa, contando o primeiro caso de transexual operado no mundo, o artista plástico artistas Einar Wegener. O filme foi arrasador em todo lugar que foi exibido. E todo filme inclusivo é emocionalmente forte e poético. Ninguém esquece o filme Intocáveis, um delicioso filme dramático com muito humor dirigido por Olivier NakacheÉric Toledano, e a sensacional atuação de Omar Sy (Driss). Outro filme indicado a melhor filme, tinha a temática homossexual como Me chame pelo seu nome. O que prova, o quanto o olhar sobre as minorias e o respeito ao próximo é um avanço mundial e chegou para ficar. Afinal, existe realmente alguma diferença profissional? E cá para nós, se todos se lambuzam comendo manga, qual seria a diferença entre nós? Apenas a beleza da diversidade. Seu desempenho em produzir um belo filme não está mais em questão. O melhor filme foi a história de amor entre uma deficiente física e um monstro do mar, de um ótimo diretor mexicano: Del Toro.
O desafio é assistir a um filme emocionante e não fazer mais essas separações para grande parte da população. Apenas saber que é um grande filme. Deixa as separações para quem for fazer teste de DNA.

Ecos do lançamento do livro Codinome Boto, na livraria da Travessa




Registros desse momento do lançamento do livro Codinome Boto, na livraria da Travessa. Tem mais fotos no facebook: https://www.facebook.com/andre.l.barroso


quinta-feira, 1 de março de 2018

Chuvas interruptas


O caos instalado em Niterói, pelas chuvas de poucos minutos, mas extremamente intensas, foram capazes de para a cidade. Eu mesmo, levei 4 horas para passar em um trecho que poderia através um pouco mais de 20 minutos. O prefeito atual caçoou em visita a São Paulo daqueles que para ele superdimensionaram a catástrofe. Chegou a afirmar também que a cidade reagiu bem a chuva. Estamos realmente com o mesmo prefeito? Passei aperto em 2010, na chuva que acabou derrubando o morro do Bumba na cidade. Um drama pessoal que guardo até hoje achando que não haveria tragédia natural maior a ser vivida, por causa da chuva. Mas um bom termômetro, foi o zelador do meu prédio, Seu Antônio. Ele contou que veio do Nordeste para o Rio de Janeiro, com mais de 20 anos. Hoje com quase 67 anos, disse que vendo as ruas laterais do prédio, nunca tinha vista uma chuva como aquela. Eu confio no depoimento do meu zelador, e não no nosso prefeito que ainda congelou 90% do orçamento para enchentes. Pode isso, Arnaldo?
Em retrospecto do Rio de Janeiro, de uma maneira geral, sempre foi carente de bons governantes. No final de 1800, os governantes eram indicados pelo presidente da república; e muitas vezes, no começo, foram demitidos ou afastados por motivos de saúde, foram substituídos pelo vice governante. Não passavam de um ano no cargo. Pareci já predestinado a uma vida de caos. Somente no fim de 1893, que Henrique Valadares conseguiu governar por dois anos seguidos. Paulo de Frontin, governou por 6 meses. Apenas em 1922, que tivemos governantes atuando por 4 anos, com Alaor Prata. Mas já nessa época, em que o Rio de Janeiro; um imenso Mangue, já sofria com fortes chuvas. As construções das galerias pluviais já não davam vazão desde aquela época.
Fico imaginando nosso excelentíssimo governante carioca, que em seu lema de campanha dizia que sua gestão seria para cuidar das pessoas, tenha coisas prioritárias do que esse momento de calamidade natural. A opinião pública é injusta com nosso prefeito-missionário. Ele provavelmente tem participado de alguma comissão, deve estar ocupado dando suporte ao maior festa da cidade, ou em alguma viagem pelo exterior estudando a segurança da cidade (desmentidos oficias das empresas no exterior são blasfêmias do tinhoso), ou até em algum grupo de whatsapp com troca das melhores piadas para se contar sobre o Rio de Janeiro, pois não se deve fazer feio, com uma piada que não cause boa impressão em outra cidade falando sobre bolsa-desabrigado, ou até no seu domicílio eleitoral colhendo subsídios de suas ovelhas. As más línguas poderiam falar que ele estaria atendendo apenas aos ensejos de seu grupo da igreja. Só falta falar que é um mau filho, pois dizem que viaja sempre pelo Brasil ou exterior, mas não sabem que pode estar visitando sua mãe ou parente adoentado, quem sabe.
O que o povo gosta, não são aqueles prefeitos que estão atuantes em cada problema da cidade, tentando resolver o intrincado mundo corporativo, ajudar as comunidades carentes ou desafogar a máquina do estado. Não. O governante exemplar, parâmetro tanto para seus pares no Brasil, quanto para o povo, é o que chega atrasado ou nem vai para as reuniões estratégicas porque esqueceu onde fica a prefeitura e acaba em um templo. Ou quando possível, quando não pode ir ao templo, leva o templo até a prefeitura. Dá até uma lembrança boa do serviço público de verdade, aquele que seus pais falavam de um tempo que não volta mais, quando podiam marcar sua presença e colocavam o paletó na cadeira e podiam curtir um dia livre no parque mais próximo ou até, tendo companhia, no motel da esquina, por que não?
É bem verdade que passamos por essas tragédias de temporais de tempos em tempos, mas basta chover, que todos já sabem que pode acontecer e vai acontecer. Por que não existe um planejamento para acabar com algo sistemático que passa pela cidade paralisada, alagada, submersa e com deslizamentos de morros? Dos 50 rios que alimentavam a Baía de Guanabara, poucos são visíveis para os habitantes do Rio de Janeiro e Niterói e, assim mesmo, sua influência é sentida em cada tempestade e enchente. São tantas as estórias na história. Entre 21 e 22 de setembro de 1711, as chuvas permitiram que o corsário Duguay Trouin chegasse às portas da cidade quase sem ser notado. Humilhou e saqueou a cidade, deixando para trás apenas os alagamentos. Em 1811, uma semana de chuvas, causou desabamentos no Morro do Castelo. D. João VI, chegando de Portugal exigiu um inquérito sobre a enchente e, mais que a vontade de Deus, as causas encontradas eram “a falta de conservação das valas e drenos pelos entulhos e lixos e demais imundícies lançadas nelas” (Rora & Lacerda, 1997, p. 43).

Essa semana vai acontecer mais chuvas sucessivas e muito fortes. Ainda nem chegou as águas de março.

Lançamento do livro Codinome: Boto






SINOPSE
Compilação de histórias em quadrinhos publicadas nos grandes diários brasileiros e internacionais. Tais como histórias completas, tiras de humor e a história principal que traz o personagem do folclore nacional (O Boto) enfrentando uma missão do dia-a-dia das grandes cidades, juntamente com a polícia e forças especiais. Material com muito humor para jovens e adultos. Prefácio do colunista do Estadão e atual presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro.
DADOS DO PRODUTO
título: CODINOME: BOTO - BIU OLHO AZUL E OUTRAS HISTORIASisbn: 9788563637031idioma: Portuguêsencadernação: Brochuraformato: 19,5 x 26,5páginas: 74ano de edição: 2018edição: 

autor: Andre Barroso