quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Arroz Benz

 

"Se não têm pão, que comam brioches." Célebre frase mais associado à imagem de Maria Antonieta. Na França, acabou em guilhotina, mas aqui, não terá maiores repercussões. A frase está no livro Confissões, do filósofo Jean-Jacques Rousseau, publicado em 1778. Um grupo de insurgentes insuflou o povo e conseguiu seu apoio para destituir e assaltar a Bastilha, símbolo de abastança em meio a uma população famélica. Ou seja, a população precisou ter apoio de concepção da derrubada de poder, de outra classe social, mesmo em menor número.

Para algumas pessoas mais velhas, vivenciamos em um passado recente, uma experiência de desabastecimento galopante. Na época de Sarney, tínhamos falta de produtos, mercados sem estoque sendo mostrado na TV, e muita confusão. Outro dia, foi mostrado uma turba atacando um caminhão frigorífico tombado no chão. Mesmo com a polícia do lado, não foi possível conter uma população privada de comida, sem dinheiro e no meio de uma pandemia. O mesmo que sempre reclamaram sobre a Venezuela. As revoltas a partir da fome são bem conhecidas.  E nesse momento, acaba qualquer apoio.

Em alguns casos, vemos um proposital desabastecimento por parte dos empresários ligados ao setor de alimentos para enfraquecer o governo. Uma clara queda de braços entre ricos e governos populares de esquerda. Em uma outra ponta, vemos esses mesmos empresários tomarem de assalto e imporem seus desejos, sem que o governo tome providências. Como é o nosso caso. A famosa mão invisível do mercado, que deve atuar sozinha sem interferência presidencial, apenas teve um pedido chinfrim na porta do palácio de abaixarem o preço e serem patriotas. Vergonha absoluta.

E se uma classe empresarial conquista esse benefício, de não ser regulamentado, o que acabou acontecendo? O preço das roupas dispara e lojas culpam custo do algodão. Reparem, que tudo isso acontecendo, com muita gente com salário diminuído a metade ou sem recursos, desemprego recorde, tendo que sobreviver com auxílio emergencial, que em breve será cortado pela metade. Cadê aqueles que protestavam contra a gasolina a R$2,80 e agora está pagando R$ 40 num saco de arroz? Certamente, seria algo que colocaria a população nas ruas, afinal, vivemos no mesmo país em que foi feito manifestações por 20 centavos.

Só lembrando, que arroz caro, é tirar da mesa de mais da metade da população a única refeição do dia. Falar que Bolsonaro exporta arroz barato para depois importar arroz caro ou que a safra foi muito ruim e que temos que fazer sacrifícios e substituir arroz por macarrão, não adianta para uma população que precisa ao menos sobreviver. A alta do arroz está ligada à alta do dólar, que torna as exportações mais lucrativas para os produtores. Isso tem a ver com administração pública. Alguns países asiáticos até suspenderam a exportação, nesse período de pandemia, para ter arroz para seu povo. Mas isso não é importante para muitos. Só que isso não vai ficar apenas no arroz. E enquanto tiver pandemia, sem ninguém aglomerando, nada pode mudar esse foco que vai piorar. Na Bielorrússia, já estão ignorando a quarentena para derrubar o governo opressor e déspota, que se segura por ter elevado os salários de policiais e soldados ao extremo, na ânsia de conter a população.

No Japão, também outro grande consumidor de arroz, em 1918, teve aumento de preços do produto. Por lá, gerou uma grande revolta popular, levando à renúncia do então primeiro-ministro japonês. Coube as mulheres japonesas, que estavam mais na linha de frente no cuidado ao lar e das financias caseiras de promover a rebelião pelo país. O mesmo acontece na Bielorrússia atualmente pela organização feminina. As mulheres tiveram papel preponderante nesses dois casos. A revolta do arroz, já aconteceu em outros países como na Libéria.

Ainda bem que o sal está barato, porque o tanto de banho de sal grosso que eu vou ter que tomar para acabar com esse pesadelo, não será pouco. Se ele tivesse caro igual ao arroz, nem uma fezinha dava para fazer.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

7 de setembro

E lá se vão 198 anos de 7 de setembro e em plena eleição de 2022 completaremos 200 anos. E o que isso nos diz como nação? Se olharmos para trás, dentre acertos e erros, somos um país com muitos problemas de autoafirmação. E hoje, mais do que nunca, temos um presidente que idolatra a bandeira americana e esquece seu povo a toda sorte em plena pandemia. Diz Eugênio Egas em 1909, que a música teria sido composta pelo Imperador Pedro I, ainda no dia do Grito do Ipiranga, 7 de setembro de 1822 e feito a partitura às pressas pelo mestre André da Silva Gomes, para execução na noite desse dia, na Casa da Ópera. Em um refrão temos: “Filhos clama, caros filhos, E depois de afrontas mil. Que a vingar a negra injúria. Vem chamar-vos o Brasil. Que a vingar a negra injúria. Que a vingar a negra injúria. Vem chamar-vos o Brasil. ” E nesse tempo todo, ainda temos injúrias internas e externas, sema sede de vingança da letra.

Ninguém pode negar o grande marketing no teor nas palavras, e imortalizada no quadro de Pedro Américo: “Independência ou morte”. E morte houve. Não foram poucas.  A Guerra de Independência se estenderia até 1824, deixando 1.800 baixas, mas sem nenhuma objeção do lado de Portugal em termos Pedro como imperador. Assim, se tornou o detentor da independência do Brasil de forma conciliatória. Aliás, o quadro de Pedro Américo fica no imaginário popular como sendo a cena heroica marcante deste evento, mas também não passou de exaltação histórica. Nada daquele evento era real, a não ser pela casinha de pau a pique. As primeiras fake news do projeto de nação. Ainda pagamos 2 mil libras esterlinas para tal ato acontecer. Prefiro a versão do Jaguar para a capa do Pasquim, que deu prisão para todos os editores do jornal, onde substituindo a icônica frase, D. Pedro I gritou: “Eu quero Mocotó! ”. Hoje, seria mais apropriado e mais moderno gritar: ” Bolsonaro, por que o Queiroz depositou 89 mil reais na conta da Michele?”

47 anos depois, tivemos a fundação, em Salvador, da Sociedade Abolicionista Sete de Setembro. Um movimento culminaria na abolição da escravatura, 19 anos depois. Um dos poucos pontos de orgulho nessa data. De lá para cá, aproveitaram a data de forma política, como a inauguração da Avenida Rio Branco em 1904 e a Presidente Vargas em 1944. Poderia falar da estreia de Pelé no Santos em 1956, mas o futebol brasileiro não tem dado muitos exemplos de orgulho com seu comportamento diante da pandemia.

Tivemos 38 presidentes, desde 1889, que comemoram o 7 de setembro. E não temos muito do que nos orgulharmos nesse período. Tivemos muitos golpes de estado e uma ditadura. Hoje, completam-se 51 anos de uma missa infantil que levou um padre do interior de SP a ser condenado com base na Lei de Segurança Nacional. Não podemos comemorar. Hoje, um presidente que presta continência a bandeira americana, queima a floresta Amazônica e o Pantanal, mostra o quanto estamos longe do ideal de orgulho de nação.

Hoje temos um país partido. Um país que em um ponto quer ser conservador, outro de extrema-direita e vários progressistas. Queríamos todos os irmãos juntos e unidos, mesmo com as suas diferenças extremas, mas volta e meia, vemos o desejo de separar imantado em grupos sulistas. Olhamos o futuro como a Espanha que se dividiu suas colônias em vários pequenos países? Ainda precisamos construir, lutando todos os dias por um país independente. Lutando contra a entrega de nossos bens aos estrangeiros, nossas riquezas dizimadas e nosso orgulho indo para os lugares mais escuros de nossa alma. Hoje enfrentamos esse dilema de amar o Brasil e estar acuado com políticos de rapina assaltando e detonando a nação, mais que no período de exploração de Portugal.

Neste 7 de setembro, desejo sinceramente, que o Brasil se liberte de uma vez por todas do colonialismo. Se hoje, D. Pedro I se retorce em seu descanso eterno, penso e acredito que ele irá, em um dia futuro, finalmente repousar, pois um dia, nosso país será um exemplo de nação.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Se vai na SEVAI?

O filósofo Walter Benjamim na década de 20 e o teórico da Mass media Marshall McLuhan na década de 60, decretaram o fim do livro. Assim como decretaram o fim do rock e o fim das guloseimas de São Cosme & Damião, nada tirou o sono nessas previsões. Tanto os livros físicos, como o livro digital, estão mostrando a sua força em cada evento literário no país. E convivem em harmonia. O livro físico, desde a criação por Johannes Gutenberg, sobrevive a 565 anos com altos e baixos, seja por crises econômicas ou não. Poderia se falar que a escrita e o amor pela escrita, vem desde a criação do alfabeto, ou mesmo quando quando não existia o alfabeto; mas o desejo de contar uma estória ou narrar um fato, nasce junto com o ser humano.




Começou no dia 29 de agosto e vai até o dia 6 de setembro, a Primeira Semana Virtual do Autor Independente. A Sevai é um evento criado para o escritor nacional que está sempre à margem no universo literário. E começou com o pé direito, com a fala do imortal da Academia Brasileira de Letras, Antônio Torres, que possui a sua origem no jornalismo, tem livro infantil e possui um livro incrível chamado: Um cão uivando para a Lua. Nesse momento de pandemia, evidentemente o evento será totalmente online. O que não tirou o brilho do presencial, aliás, aproximou mais os escritores, que ficaram órfão com os grandes e tradicionais encontros literários que adiaram seus eventos. A lacuna deixada por eles, foi preenchida com muito êxito pela SEVAI.



Serão mais de 80 autores participando de todo o Brasil que se apresentarão em salas de bate-papo, lives, podcasts que já estão disponíveis no canal do Spotify Sevaicast, com os temas: “Etapas na criação de um livro” e “Feminismo na Literatura”. Ontem, houveram várias lives pelo Youtube e Facebook com temas variados de discussões. A sala de ontem, às 20h30, teve a participação dos autores André Barroso, Dani Moraes, Lydianne Facó e S. Hamilton, que conversam sobre como é a vida do escritor independente. A moderação coube as meninas do @riodelivros. Ainda está disponível para ver e ouvir nessas plataformas. Corre lá para conferir este bate-papo de ontem e ficar de olho nos próximos com a participação dos escritores como: Mônica Cristina, Ariane Fonseca, Crys Carvalho, Aretha V. Guedes, Eduardo Maciel, Mari Sales, entre outros.



A chance de ler um autor independente, conhecer seu trabalho e disponibilizar muitos deles de forma gratuita ou com promoção é único. E tudo na ponta dos dedos. Afinal, a quarentena deu um empurrãozinho para a leitura digital. Um mercado que cresceu 115% em três anos, segundo a Câmara Brasileira do Livro e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Isso demonstra não só a força do livro, mas também sua capacidade de transformação. Parte da crença que o livro não sobreviveria aos tempos modernos, seria a sua incapacidade de ser absorvida pelo mundo digital. E vemos que não só demonstrou ao contrário, como temos uma nova forma de consumir literatura: Os audiobooks.

Paradigmas são quebrados a todo instante nas conversas e debates ouvidas desde sábado e serão ouvidas até o próximo fim de semana. As procuras de tendência mudam. Estamos vivenciando uma nova busca por temáticas atuais, tais como o feminismo (Não à toa que a maioria dos escritores atuais são formados por mulheres), o empoderamento, a luta contra o racismo e a homofobia; assim como informações contra o fascismo e o que aconteceu na década de quarenta. Gêneros como romance e literatura erótica, tiveram um boom grande, com as mulheres mostrando que também são detentoras desse desejo e conseguiram tirar as amarras do machismo estruturado na sociedade.

Enfim, uma delícia de evento voltado ao mundo literário para leitores, editores em busca de novas linguagens e talentos e amantes do debate. Acesse o site http://www.sevai.com.br para conhecer toda a programação, rol de autores e parceiros literários. E comprem o livro digital NÃO FALE MAL ATÉ VINTE DIAS, de André Barroso pela Amazon. Ajudem o escritor que vos fala a um dia poder experimentar um caviar.