quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Talebã de lá e o talebã daqui

 A retomada do poder do Talebã no Afeganistão, depois de 20 anos de ocupação dos Estados Unidos e a imagem dos helicópteros militares evacuando seu povo para os aeroportos de Cabul lembrando a saída vergonhosa de Saigon na guerra do Vietnam, deixa claro que a invasão do país nunca foi para instalar a democracia. A invasão americana a alguns países estratégicos na época, não via viabilidade que justificasse a entrada americana. A extrema-direita forçou como pode para ter apoio internacional no seu intento. Acusaram países de terem bombas de destruição em massa, que no final não existia nada. No final, depredaram países, surrupiaram petróleo, levaram riquezas museológicas, prenderam inocentes e todo tipo de problemas, além do revés de militares mortos.

Todo mundo reduz a entrada americana nos conflitos a queda das torres gêmeas em 2001, que tenho meus argumentos sobre uma possível auto bombardeio ao Word Trade Center, mas são décadas e décadas anteriores. Desde a Guerra Fria entre americanos e Russos, onde a União Soviética ocupa o Afeganistão que já tinha problemas e conflitos diversos, inclusive étnicos, com a queda da monarquia. Os americanos começam a financiar um grupo contrário a essa ocupação chamado Murad. Era um grupo fundamentalista religioso. Reagan chega a se reunir com esse grupo na casa Branca. Com isso, o grupo de fortaleceu, nomes como Bin Laden, parceiros dos americanos crescem e os Russos se retiram do país, deixando um vazio no poder. Em 1994 surge o Talebã com a dissidência de pessoas chaves do Murad e finalmente em 1996 eles ocupam Cabul, com a maioria étnica do país. Para completar, o Talebã estreita laços com a Al-qaeda.

É importante lembrar novamente que são grupos de extrema-direita que combateram o “comunismo”, renegando a ciência, cultura, educação, persegue minorias, tiram direitos das mulheres. Lembra de alguém na atualidade que também tem seu ideário em Deus, Pátria, família e armas? O tamanho do problema na época de Bush filho foi enorme. Vilipendiar o país apenas, sem planejamento e organização, levou ao aumento geométrico do ódio aos Estados Unidos. Quando os americanos encenaram a organização do poder no país, esqueceu que conciliar um governo viável com todas as etnias do Afeganistão, é só pensar em divergências. O mesmo ocorre aqui no Bolsonarofegaristão, entre as etnias Luis Miranda, que se opõe a etnia Ricardo Barros, que procura buracos na etnia CPI. Enquanto isso, a etnia Bolsonaro bombardeia tudo e todos que encontra na frente.

A ocupação americana só fez fortalecer os grupos milicianos do ópio, que em 20 anos mostrou o fracasso do projeto, gastando mais de um trilhão e matando centenas de cidadãos americanos. Agora, Rússia e China foram os únicos países que reconheceram o novo governo do país. Bolsonarista criadores do lema que nazismo é de esquerda, dizem agora que o talibã é comunista. Só que o talibã é de extrema-direita tal qual o nosso governo. Na estrutura geopolítica, Rússia e China estão muito próximos do Afeganistão. China com interesse na rota da seda e a Rússia com aliados comerciais que mantém relações com o país. Será que teremos algum sucesso entre esses países, diferente do fracasso americano?

Os americanos prometeram proteção dos direitos das mulheres afegãs na época da ocupação, porém, agora, temos a volta da burca. Mas a notícia que mais aproxima as duas extremas-direitas do Afeganistão e Brasil é de que o diretor de saúde da província de Paktia informou que o Talibã fechou os postos de vacinação e proibiu a aplicação de doses da vacina contra a Covid-19. Os governos fundamentalistas não acreditam na vacinação.

Mais que nunca o poder de mobilização nas ruas se faz necessário. Tanto no Afeganistão quanto no Brasilquistão.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Vergonha impressa

 

Aqui estão agora os volantes mais birutas do mundo para realizar mais uma Corrida Maluca, numa disputa pelo título de volante mais biruta do mundo. Aí estão eles se alinhando: A tanqueciata. A nova modalidade de tentar abarcar apoio popular através do desfile militar de seu poderio na frente do Congresso Nacional, no dia em que forçaram a votação do voto impresso, contou com Tanque M113 de 1960, Astros II de 1983, M114 de 1942, EE-9 cascavel de 1974, M60 Patton de 1961 e Leopard I de 1956. Alguns deles exibindo problemas no motor, que lembrava o alto-falante ligado falando: "Pamonhaaa, olha a Pamonhaaa fresquinha na sua porta!”.

A grande ideia que apoiadores dizem que foi coincidência de datas, pois todos os anos, são feitos exercícios entre as Forças armadas em várias capitais, com o objetivo de integrar os comandos entre as tropas, porém, o desvio para a esplanada, no dia da votação da PEC do voto impresso, com intuito de intimidar os parlamentares, foi uma das formas encontradas para essa finalidade. O que antes poderia ser uma ideia de demonstração de que as forças armadas estão apoiando o governo, se traduziu em um fiasco na concepção e na adesão dos espectadores. Ainda colocaram pentecostais para ligarem aos parlamentares para forçarem uma virada de intenção, mas em vão.

Por que essa experiência foi bizarra? Por que claramente a ideia estapafúrdia de implantação do voto impresso defendida pelo presidente para tentar controlar o sistema eleitoral, descontrola totalmente as ações de Bolsonaro e suas pautas ideológicas, que apenas conversam com seus apoiadores. Torna um caos o país com discursos e postagens na internet durante meses. Uma comissão rejeita a pauta do voto impresso, forçam a ida da votação em plenário, que mais uma vez derruba a questão. Para 2022, não existe mais chance de mudança de regra. Bolsonaro irá acatar essa decisão? Ele não tem mais chances legais para isso, apenas através de golpe.

Poder-se-ia pensar em um plano como a Máquina do Mal com o seu volante malicioso e cheio de más intenções... Dick Vigarista e o seu ajudante Mutley, sempre prontos a aplicar um golpe sujo. Tumultuar até 2022 vai continuar até o dia das eleições. Ledo engano daqueles que acham que essa pauta irá terminar aqui. Mesmo sabendo que o golpe armado hoje em dia é mal visto no exterior, que investidores irão fugir, parceiros comerciais irão desfazer seu apoio e dessa forma, apressaremos nosso título de República das Bananas afetando absolutamente em tudo em relação ao funcionamento do país.

Penso que defenestrando a extrema direita do país em 22, levaremos, pelo menos, mais 10 anos de reconstrução do país para que esse quadro instalado possa voltar ao eixo. No momento, a pergunta que fica: Qual Regime que tem gente exilada, preso político, queima de arquivos, universidade sucateada, arte censurada, militares no poder, professores perseguidos e tanque nas ruas. Ditadura militar? Não, Brasil de Bolsonaro, 2021. O tumulto que temos diariamente seja pelo voto impresso, seja pela abolição das máscaras, seja a imposição da Lei de Segurança Nacional, temos um presidente que, sem apoio popular ou sem base no congresso, que se acha o Pinochet da cocada preta. Enquanto isso, o povo sofre sem vacinas, sem emprego, sem ciência e sem democracia.

A verdade é que deviam pintar o Palácio do Planalto. Seria mais barato, já que nos coloriram desde o golpe de 2016, cobrindo nosso rosto de branco, pintando sobrancelhas e olheiras exageradas, com uma grande boca vermelha cômica e uma bola vermelha no nariz. Isso porque no final, para ficarmos palhaços perfeitos, ainda falta um cenário combinandinho.

 

Toy arte

 


Chegou o protótipo do toy arte do personagem infantil O GATO QUE CONHECEU A HISTÓRIA, fabricado pela Meme Toys de São Paulo. Ficou incrível, não acham?

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A olimpíada dos fármacos e excluídos

 

Fármacos. Foi a palavra que me ocorreu com o caso da ginasta Simone Biles. Sempre olhamos os atletas e seus feitos incríveis e superação das dificuldades com olhar de admiração, outros com olhar de impossibilidade e até de inspiração para futuras gerações, mas esquecemos de ter um olhar misericordioso com esses semideuses e seus momentos de glorificação eterna. Ficamos com o olhar viciados vendo apenas as histórias dos vencedores. E de como chegaram até ali, mostrando que é possível qualquer um chegar até ali ou não. Mas os holofotes dos píncaros da glória, também pode ser aquilo que tem o poder de transladar as impurezas.

Simone Biles foi holofote não por um pequeno momento de sucesso do que se esperava, dentro do olhar do mundo moderno, mas por ser NEURODIVERGENTE.A cena em que ela tenta dar sua decisão, com várias câmeras se comprimindo perto dela, para pegar talvez um momento como uma lágrima caindo, mostra o estado de saúde precário não da ginasta, mas nossas mesmo. Isso porque a decisão de Biles é uma decisão humana. Simone não ensinou sobre cuidado. Ensinou sobre aceitação de si. Coisa que a sociedade cada vez mais dependente de vencedores adolescentes robóticos. Enquanto nos preocupamos com esses detalhes, aumentando nossos problemas psicológicos, Bile se preocupou em curtir as apresentações. A imagem dela torcendo pela Rebeca Andrade foi o motivo da minha crença que essa geração tem possibilidades de reabilitar a humanidade no futuro.

Simone Biles nunca precisou reafirmar o quanto é vencedora. Na evolução do solo feminino da ginástica, de Ágnes Keleti a Simone Biles, nunca houve alguém com essa capacidade. Nem a minha favorita de todos os tempos, Nadia Comăneci. A maior nota desta final de solo era da Jade Carey: 6.300. Todas com 5.900. Biles teve 6.700 de dificuldade no primeiro dia de competições. E são essas atitudes pessoais que realmente deveriam influenciar positivamente os jovens. O quanto à busca pela perfeição, por momentos de glória, por um falso ideal narcísico contamina o mundo em que vivemos. O quanto isso ocultamente leva a sintomas graves de depressão, levando a jovens a não se aceitarem como indivíduos, piorando secretamente sintomas em que quando vemos, pode ser tarde demais para ajudar.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio já entram para a história, não como a única no meio da pandemia, mas como "a Olimpíada da diversidade e de defesa de igualdade de gênero".  Com 160 atletas assumidamente LGBTQIA+, histórias de superação econômica, manifestações a favor das pessoas oprimidas, além de religião, pele, cultura, imaginários e escolhas políticas. A história de Vitoria Rosa, que após a eliminação na prova dos 200mrasos, resolve desabafar o quanto foi uma ida solitária ao campeonato mais importante da vida de um atleta, sofreu como muitos, a falta de patrocínio e o salário reduzido. Um país economicamente forte tem esporte forte. Tivemos esse momento com diversos programas de políticas públicas, mas agora amarguramos um governo que eliminou o status de ministério e cortou todos os programas de incentivo ao esporte, levando a conquistas minguadas, que podiam estar recheadas de momentos mais felizes.

Vivemos um momento de apagão político e de futuro incerto na nossa sociedade, por isso a cada vitória é comemorada como um pódio pessoal. Parece que tentamos empurrar cada um daqueles que estão lá por conta própria ou aqueles que superaram tudo que a vida atual impõe.

Mas a imagem que me impressionou este fim de semana foi a de Sifan Hassan. Na classificatória dos 1500m feminino, a holandesa caiu na última volta após se chocar com outra atleta. Eu iria parar por aí. Mas ela não. Ela se levantou e ainda venceu a bateria. Nunca torci tanto numa corrida de 1500.

Superação. Existe outra palavra.