quinta-feira, 28 de maio de 2020

Reunião da Legião do Mal



A reunião de Bolsonaro, liberada por Celso de Mello, na última sexta-feira, causou muita indignação. Não para menos de 30% da população. Eu, particularmente, depois de muito asco, percebi que estava vendo a reunião da Legião do mal, aquela liderada pelo arqui-inimigo do Superman, Lex Luthor. Não sei vocês recordam, a Legião do mal era o contraponto da Liga da Justiça, e assim como no desenho, os super-vilões que se reuniam em seu QG do mal antes de um ataque, a reunião ministerial não teve estratégias coordenadas com os ministérios, apenas ideias de ataques a instituições, meio-ambiente e todos aqueles contrários ao governo. Tudo envolto a ódio e palavrões. Podemos até fazer um paralelo de quem poderia ser seu correlato na Liga do Mal. Tente adivinhar quem seria o Lex Luthor, Espantalho, Gorila Grood, Capitão Frio, Charada e Nevasca.
Chama a atenção alguns pontos. O ponto central, da acusação de Moro, está esclarecido sobre a interferência. O Presidente fala sem sombra de dúvidas em interferência, onde quer que seja, além de afirmar possuir um sistema próprio de informações, que é mais grave. Bolsonaro e os filhos estão cercados, em diferentes frentes de investigação, no STF e na Polícia Federal. Marielle, rachadinhas, Queiróz, milícias, fake News e vídeo agrava ainda mais a situação do presidente, porque confirma o Moro, no que toca a intervenção na PF; já são mais de 36 os pedidos de impeachment. Um recorde.  Aquela agenda de medidas anticorrupção feitas como promessa de campanha, foi demonstrada que nunca foi interesse de ser implementada. Agora, outra promessa, a de ser um herói solitário contra corruptos também foi por água abaixo, tendo que fazer alianças política duvidosa para permanecer-se no poder.
Outros pontos: O Ministro da Educação, chamando de Vagabundos os Ministros do STF. O pior ministro da educação da história, que recentemente negava o adiamento do ENEM, alegando que não é um ministério de assistência social e teve votação recorde no senado contrário (apenas Flávio Bolsonaro votou contra), falou de maneira inapropriada e criminosa contra as instituições do país. Anteriormente, em redes sociais, já falou impropérios sobre a China e tem teorias estapafúrdias sobre a história. Uma frase, que pode ser linkada com o Ministro do Meio Ambiente, “Odeio esse negócio de povos indígenas. ”, mostra o abismo em que estamos lidando. A vergonha alheia é tão grande que quando a Coreia do Sul estava no meio de uma crise política e a beira de um impeachment, o BTS lançou uma música indignada sobre a elite social e ainda usou falas do ministro da educação.
A Ministra dos Direitos Humanos, falando em prender governadores. Como se não bastasse a agenda conservadora baseada na religião evangélica, defendida na reunião, pediu, criminosamente, a prisão de governadores. Curiosamente, conseguiu reunir no mesmo contexto: ucranianos, ciganos, aborto e seringueiros.
O Ministro do meio ambiente, propondo, aproveitar a pandemia para aprovar a passar a boiada, um pacote contra o meio ambiente. Nesse caso, o próprio ministro pediu para unir esforços para tal crime, mas com não existem planos ou estratégias, fica no discurso, para que exista o esforço apenas do presidente que a devastação ocorra o mais rápido possível. Nunca se viu na história do Brasil, uma devastação nesse grau de violência, descaso, desarticulação de instituições de apoio e legislação para grileiros.
Dentre outras falas, como a do Ministro Paulo Guedes, falando que o Servidor público é um problema, que auxílio emergencial gera vagabundo, chama a atenção o nível de mais baixo calão usado entre seus interlocutores. As cenas não liberadas, já podemos imaginar o que viria a ser. Agora, o mais triste para a sociedade é a intenção de armar a população para enfrentar uma guerra civil no futuro. Inaceitável. Mas o presidente que a todo custo essa possibilidade. A insistência, lembra bastante um ídolo de Bolsonaro:
"Mussolini diz que só um povo armado é forte e livre" (Correio da Manhã, 12/8/1937)

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Cloroquina goela abaixo


Em um mês, tivemos dois Ministros da Saúde que caíram no governo Bolsonaro e por que? Mesmo tendo ministros alinhados com o pensamento fascista, não foram capazes de traírem sua vocação na medicina. Ela falou mais alto. A responsabilidade com o paciente é mais importante do que manchar sua reputação a vida inteira. Teich ainda entrou determinado a acabar com o isolamento social, mas ao fazer visitas a campo, vislumbrou a dimensão real da doença, coisa que o presidente não foi capaz de fazer. Essa interferência na pasta, por um genocida ou até por uma pessoa normal, em uma área que tem que obedecer estritamente a ciência, se deve a quê?
Tudo começa com a insistência de Trump ao remédio, que fez com que seu copycat, Bolsonaro, a ter a mesma reação, que é a nova cara desta direita violenta. A insistência começou com uma discussão, no Twitter, entre um advogado e um investidor de criptomoedas dos EUA. Com estudos falsos e argumentos rasos, sem ciência, recebeu toda atenção de Elon Musk, que divulgou o assunto. O presidente americano, que negava o vírus, ao ver mortes perto de sua residência, resolveu adotar o remédio como salvador da pátria, tendo o aval de um de seus maiores patrocinadores na eleição americana, a Sanofi, que produz a cloroquina e que o próprio presidente tem participação financeira. No entanto, Trump desistiu da insistência, apesar de beneficiar a poucos investidores, porque a base de convencimento, uma pesquisa francesa, recebeu a negativa do uso da Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana que concluiu que a cloroquina não atende ao padrão esperado pela sociedade no tratamento da covid-19.
Por aqui, tivemos as mesmas intenções por nosso presidente. Existem duas empresas que fabricam a cloroquina por aqui. A Ems e a Aspen cujo o dono é Bolsonarista ferrenho. A todo custo, como empregou todos os familiares, amigos, bolsonaristas ávidos, o presidente cria uma rede de nepotismo e de ajuda apenas aqueles que são seus aliados, sem se importar com ciência ou qualquer assunto que se refere ao interesse nacional. Como não conseguiu o aval de seus ministros, demite para ter alguém que possa assinar uma ordem de adoção do medicamento e ainda monta uma MP que o isenta de qualquer responsabilidade por qualquer morte. Mesmo sem ter eficácia comprovada no combate ao coronavírus, a cloroquina segue defendida pelo presidente. A produção do medicamento, tem onerado muito aos cofres públicos e admitido que não tem comprovação, mas será usada assim mesmo. É claro, para quem acha que é uma gripezinha, acreditam que pode curar. Acreditam não, tem fé que a cloroquina cura!
Essa faceta do bolsonarismo é muito perigosa, pois o discurso que se ouve é que não se deve ouvir a ciência, e sim o messias. No caso, o Jair. Um medicamento apresentado nessas condições, com tantos problemas de contraindicação, que está levando à morte centenas de pessoas, não pode ser divulgada como protocolo oficial. É criminoso. Mas o discurso bolsonarista é esse. Significa que não importa. Importa é que os adeptos possam propagandear e que consigam recrutadores na cruzada pela medicação inconclusiva, colocando mais uma vez a divisão de torcidas dos a favor e dos contra a medicação. Como uma partida de futebol. Só que o resultado será devastador. Entre o presidente dizendo que a cloroquina é a cura e a ciência, fico com a ciência.
Está claro que a discussão não é médica. É política. Enquanto o mundo todo está se concentrando em insistir com o isolamento social e achar uma vacina, que seria a única solução para esse enfrentamento, temos um cenário contrário a tudo de sensato e a consequência está aparecendo com os números de infectados e mortos, assustando o planeta.
Enquanto a União Europeia pode estar dando sinalização para a venda do antiviral remdesivir, melhor indicação até o momento, temos o modelo de um presidente que pode indicar tomar detergente, como fez seu ídolo americano, levando mais de 100 pessoas ao hospital. É mais ou menos isso o cenário.


quinta-feira, 7 de maio de 2020

As ameaças


“Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo! ” Essa frase poderia ter sido muito bem atribuída ao nosso presidente na manifestação criminosa de domingo, que está tentando manter como rotina para angariar apoio popular, já que a queda vertiginosa de popularidade está batendo perto dos míseros 20%. Mas não. Essa é a frase do coringa, no filme Cavaleiro das trevas. Mas não estamos vivendo o seu mandato inteiro no caos e no medo? Apenas, antes, havia o apoio dos bolsomínions em peso. Era uma turba imensa de cães raivosos andando nas ruas. Hoje, apesar da última manifestação ser citada no jornal como tendo adesão de milhares na porta do palácio, não devia nem ter quinhentas pessoas.
Como sempre, nessas manifestações de apoio ao presidente, que são infladas pelo próprio, são um total festival de horrores. Fez aglomeração, expôs a filha e manifestantes ao COVID19, incitou um golpe contra as instituições, fez apologia ao AI-5, deixou que agredissem os repórteres cobrindo o fato e no final estendeu uma bandeira do Brasil na rampa do Planalto. Segundo a lei N. 5.700, aprovada na ditadura, esse ato é considerado um desrespeito à Bandeira Nacional, logo, proibido. Até para ser patriota ele comete um crime. O que mais falta para ser excomungado do cargo? Sim, porque impeachment não resolveria, mas talvez um pai de santo tentando tirar esse encosto do palácio do planalto, seria o ideal.
Na carreata se via o cartaz: "Chega de ditadura! Queremos o AI-5!" Talvez emocionado com a frase que tanto inspira ou por simples reação infantil a popularidade do Moro, que conseguiu esvaziar um pouco mais seu apoio na população, o presidente citou que estaria no seu limite. Essa semana, ele, com o apoio das forças armadas, poderia dar uma resposta. Ninguém entendeu qual seria a resposta ou seu tom de ameaça. De qualquer forma, todas as entidades e personalidades políticas, emitiram nota de repúdio a fala ameaçadora. O general Paulo Chagas já mandou avisar que não existe nenhuma intenção de golpe militar em curso, então resta a saída de colocar Paulo Guedes para falar em privatização para a imprensa esquecer os ataques à democracia na mesma hora. É o mercado, sempre o mercado no final das contas.
Depois de mais de oito horas do encontro de Moro para entregar as provas de crimes do presidente, entregando 15 meses de conversas sujas de Jair Bolsonaro, o presidente ameaça soltar vídeo contra Sérgio Moro. É evidente que o ex-ministro, que também praticou ilegalidades, como sempre, gravando escutas e conversas particulares, divulgou esse material digital como sendo as provas. Se a imprensa tiver o acesso e divulgar, pode ser a facada final, a que Adélio não praticou, em Bolsonaro. As mensagens que vazaram de Moro usando escutas e manipulando para ter favorecimentos políticos a favor da vitória de Bolsonaro, não emocionaram nem Bolsonaristas, nem Morolovers. Quem sabe esse vazamento, nessa semana, seja algo que deixe o presidente acuado?
Essa semana pode ser o capítulo decisivo para termos acesso as cenas dos próximos capítulos. Tudo por ciúmes, tentativa de desarticular Moro e sua rede de informações, além do seu desejo por Estado de exceção no Brasil. Ramagem na Polícia Federal seria dar mais munição a esse estado de caos que o presidente quer continuamente instalar. Haveria perseguições políticas, espionagem, mortes, apenas para proteger Bolsonaro e sua prole, já que as investigações estavam chegando muito perto de cada um deles. Nesse momento, não existe um país. Existe um governante desacreditado, vil e inescrupuloso que está apenas tentando se manter no poder, enquanto temos milhares de mortos pela COVID19 que ainda estão por vir, em um sistema de saúde já colapsado. 
Ameaças para um golpe militar são sempre ditas pelo presidente quando é contrariado em seus desejos. Mas ameaças por ameaça, fico com a frase de Einstein: “O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade. ”