quinta-feira, 26 de abril de 2018

Morrendo pela boca


Já ouviram a expressão: O homem morre pela boca? Essa expressão é bastante clara, mas até ganhou outras conotações pela força que ela contém. Quando alguém profere denúncia vazia e é processado pela caluniado ou fala muita coisa sem informação suficiente e logo é desmentido pela verdade; mostra essa nossa capacidade olímpica de falar mais do que podemos. Uma espécie de gosto nacional. Como as formas femininas. Um verdadeiro fenômeno brasileiro. Mas não estava falando nesse sentido. O homem morre pela boca, pela gula, por não dar atenção aos índices glicêmicos, de ter o olho maior que a barriga. E passamos por essa situação, porque acreditamos sermos eternos. Nossa alma pode ser, mas nós podemos encurtar nosso prazo de validade na Terra, por causa da comida.
Tenho verdadeira curiosidade por carnes exóticas. Aquelas que não são comuns no nosso dia-a-dia. Menos o caracol. Entendo a situação histórica da qual a França colocou o animal como iguaria, mas não consigo conceber. Já ouvi homens em seus estados sóbrios, descrevendo a maciez e textura da carne de caracol. Escargot é luxuoso. Prefiro o nome real: caracol. Devo dizer, apesar da culinária francesa ser uma das mais elogiadas, não me convencerão. Nenhum animal invertebrado que solta fluidos em sua caminhada merece confiança, ainda mais no prato. Hoje em dia também resisto a vários miúdos. Menos o coração. Esse nobre órgão, não merecia essa qualificação. O coração estará sempre dentro do meu coração.
A verdadeira abjeção a certas comidas não tem lógica. Existem comidas com maior rejeição pela massa e outras não. Vejamos o caso do nosso cardápio mais comum: O arroz. Eu não como arroz. Aconselho a todos, a todos mesmo o consumo diário de arroz e feijão. Mas não faço uso pessoal, desde criança. Todos que me conhecem, já tratam em um convite de almoço em suas casas, de fazer aquele macarrãozinho seja de alho e óleo, seja com molho de tomate. Não tem explicação lógica. Simplesmente não como e me faz mal comer. Me achava o único com essa aversão, mas ao longo da vida cheguei a conhecer alguns poucos contados nos dedos de uma mão. Existe vida para mim sem o arroz. Mais tarde descobri, que tenho uma fobia muito rara chamada de Oryzasativafobia ou Zizaniafobia. Não me imagino em alguma situação extrema que me obrigasse a comer arroz, como uma ilha deserta com apenas plantação de arroz.
- Por favor, prove. É um risoto de camarão.
- Agradeço.
- Olha o tamanho do camarão. É super ultra mega uber VG...parece uma pizza brotinho.
- Por favor, eu acho que deve estar gostoso, mas não quero.
- O arroz é integral.
- Deve ser ótimo, mas não.
- Olha que não tem mais nada a oferecer...
Quem, numa condição como a minha, nunca sofreu com uma situação dessa?
Existem aqueles, como em uma situação histórica de fome, tal qual a francesa, teve que recorrer a outros animais que habitavam seu entorno, como gafanhotos. Há quem goste de gafanhotos caramelizados, formigas fritas, escorpião à milanesa, lacraia a quatro queijos...tudo na verdade, depende de nossa formação cultural. Se pensar bem, não existe diferença entre o porco e ovelhas, mas ficamos horrorizados em comer cachorros ou gatos. Dizem por aí, que a maior fome da humanidade seria por carne humana e que daí viriam nossos mais íntimos pudores. Daí que falamos que uma das origens do verbo comer, no sentido sexual, poderia vir desse sentido. O que explica também, nosso fascínio por comer em todos os sentidos. E quem é taurino, pode ser considerado em dobro.
Mas, eu tenho a convicção que nunca seremos canibais. Ainda mais sabendo que seríamos servidos com arroz.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Relançamento do Boto


Relançamento do Codinome Boto, no Conexões Coworking, dia 25, às 18hs. A chance de poder adquirir o livro de quadrinhos, conversar com o autor e conhecer o novo espaço de coworking no centro de Niterói. Te espero lá!

Limiar


Estamos vivenciando um limiar muito perigoso com essa polarização. Antes, a todo retrocesso, a toda indicação de retirada de direitos, ou a toda manifestação de ódio, era respondido com indignação ou silencio. Após o assassinato de Marielle, do qual, as maiores manifestações do twitter no período, foram manifestações de fúria, mentiras e apoio a morte dela; deu uma rasteira em muita gente pelo Brasil e pelo mundo, tornando aquela paz em tensão. Recentemente, a prisão de Lula, deixou os nervos à flor da pele.
Quando você vê uma parte da polarização tendo golpes atrás de golpes, enquanto o outro lado se mantém, mesmo com provas robustas, saindo impunimente, percebemos que temos a fatia dos mais poderosos mostrando que nossa herança de Casa grande e senzala está presente e quer estar presente. Não se trata e nunca se tratou de corrupção. A classe média, mesmo ganhando pouco mais de três mil reais, quer continuar ganhando esse percentual, mas o trabalhador humilde para ele, deve ganhar muito menos. Isso traz alívio para ele.
O famoso, eu posso e você não é a tônica do nosso país. Pode roubar e matar, mas desde de que seja entre os mais ricos. E você só tem direito a ficar em silêncio. Esse é o seu direito hoje. A prioridade é acalmar os ânimos, tirar mais um presidenciável (Bolsonaro, pois não interessa mais a elite, afinal ele somente polarizava com o Lula. E sem ele, não precisa mais desse candidato) e inflar algum candidato da elite. E agora, vão tentar acalmar os ânimos mesmo. Todos estão pedindo calma, mesmo com a economia cada vez pior. Ministros, comentaristas, operadores e você leigo, tem a missão de se acalmarem.
Mães quando tentam controlar seus filhos da zona no shopping.
- Ssssshhhhhh! Se acalmem. Vocês podem agitar a população!
Seu vizinho, que está dando aquela gemida alta, você pode bater na parede e pedir para se acalmarem.
- Eita! Olha a nossa nação!
As brigas de marido e mulher, podem tapar a boca um do outro, no auge da discussão.
- Você tem razão, mas vamos respeitar a paz do Brasil.
Trabalhador mal pago, essa não é a hora de discutir, afinal, você apoiou os direitos trabalhistas e enfraqueceu os sindicatos. Engula sua reinvindicação, afinal, você ainda está comendo. Banco Central, você também não pode falar nada. Ninguém deve falar nada sobre as privatizações ou levantar dúvidas sobre as reformas. Nenhum movimento brusco. Aproveitem e tirem os talheres de beiras de mesa.
Já tivemos a censura explícita dos generais, que já avisaram que se tudo não correr bem, vão entrar como nós conhecemos. Poder atirar no ônibus do Lula pode, atirar bolinha de Papel no Serra não. Ameaçar jogar ele do avião no voo pode, chamar o governo de golpista não. Os extremos agora estão cada vez mais postos em seu lado do ringue. A política nacional, está de lado, para se concentrar na eleição. Estamos em ebulição. Estamos caminhando para uma guerra civil? É possível, mas dado a nossa colonização portuguesa, a tendência é ainda tentar discutir e encontrar meios dignos para as vitórias reais, através da paz. Mas ninguém segura um povo com muita raiva. A resistência pacífica como Gandhi ficou para trás. Mesmo a demonstração de amor pela população ao líder preso, tem limites, pois não querem ouvir os poucos tilintares de taças, rindo de suas fortunas, enquanto a maioria prende a respiração respeitosamente.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Saída pela esquerda


Ele chega esbaforido batendo a porta, como se não houvesse ninguém no seu andar. Suando, vai afrouxando a gravata e dispara:
- Temos que sumir!
- O quê? Como assim?
- Não é hora para discutir comigo. Apenas faça as malas!
- Você está louco?
- Mulher, lembra que estava sentindo muita pressão? Tive que dar uma escapada. Fui em Abadiânia dar uma relaxada, tomar um passe, tirar essa energia negativa que grudou em mim. Muito olho gordo em cima de mim!
- E daí?
- Daí que estava eu lá na fila para entrar e quem eu vejo por lá de entreouvidos? O Barroso!
- Não! ...
- Sim. Se ele tava lá, é porque a coisa vai feder!
- Mas...
- Não tem mas! A situação está ficando feia! As posições estão cada vez mais radicalizadas. Vai ter perseguição, sim!...
E depois de uma pausa, continuou...estão sempre no meu pé, mas o importante são os amigos. Cedo ou tarde, vão chegar em mim. Esse jogo não é para fracos. Até agora estou no controle da situação, mas não sei até quando. Se tiver que depor, não sei se aguento. Não aguento nem um olhar de desconfiança...eu...eu...
Ela nesse momento, entrega um Whisky com bastante gelo.
- Obrigado
- E seus amigos? Você está cheio deles em tudo quanto lugar!
- Não podem se comprometer! Esqueceu que outubro está chegando?
Dá um gole e seca a testa de suor com um lenço e dispara:
- Agora estão me apoiando na surdina, mas se a bomba estourar, não tenho certeza quem vai ficar abertamente do meu lado. Nessa hora, cada um é por si. Vamos embora!
- Mas vamos para onde? Assim de uma hora para outra?
- Bolívia!
- Bolívia? Mas acabou de ter um terremoto por lá...tá doidão? Me devolve o whisky!
- Pera aí, querida! Vamos para os Estados Unidos. Lá devem gostar de mim.
- E como vamos viver? O que faremos por lá?
- Com algumas malas extras que alguns amigos juntaram, não vamos nos preocupar por um tempo.
- Mas...
- Não tem outra saída! Ou você quer me ver sendo interrogado? Olha o escândalo! Quanta gente ia se beneficiar disso, aqueles sádicos! Seria a notícia durante meses. A América é a única solução, Marcela. Deixo uma carta e voltamos quando esfriar a situação.
- Caraca, Michel! Agora que você estava começando a aprender a andar de bicicleta comigo...