quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O Jab em Jair

A popularidade que o presidente começou a colher, com seu silêncio e fim de ataques contra e tudo e todos que se opõe ao seu governo, despencou novamente com a ameaça do próprio, dizendo que iria “encher de porrada” a boca do jornalista. Tudo por que o jornalista perguntou, o que todos querem saber:

Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?

Já pararam para pensar, que além dos óbvios quase 40 pedidos de impeachment, recorde de pedidos na história do país, as centenas de provas claras de um presidente demonstrando crimes e mais crimes, não é apenas uma convicção? Uma convicção, já levou a se condenar presidentes. Por que ainda consentimos tudo isso? Primeiro, temos o interesse financiados pelos Estados Unidos em levar a preço de banana, o que temos de fontes de riqueza e patrimônio. Segundo, as grandes elites que estão ganhando com o país em crise. E terceiro, a parte do país que apoiou e ainda apoia o presidente, é tão extremista quanto ele e vai fazer de tudo para não largar o osso.

Já foi provado, que podemos pagar a dívida externa, dívidas internas sem vender a Eletrobrás, Petrobrás e qualquer bem nacional. A privatização, tão alardeada pelos liberais, só beneficia os compradores. Veja o exemplo da energia eólica. Tão criticado pelos extremistas, que abusaram de fakenwes dizendo que “estocar vento” era uma bobagem, coisa de burro. O Complexo Eólico Campos Neutrais, no qual a Eletrobras investiu R$ 3,1 bilhões, foi vendido à empresa Omega por R$ 500 milhões. E ela ocorreu agora, em plena pandemia. Agora, além do mote liberal de que precisa vender tudo, a desculpe diz que é um gasto enorme e não leva a nada, sendo que em 2017, a energia eólica Campos Neutrais gerou um lucro líquido de R$ 345 milhões.

Graças a quarentena, não estamos vendo o povo na rua se mobilizando para criar grandes marchas contra o presidente. Mas o caldeirão está aumentando sua fervura aos poucos. E sabemos que a desobediência civil precisa de tempo para se tornar inspiradora. E Trump perdendo, mesmo com pandemia, o caldo vai desandar. Pois, além do único sustentáculo do presidente ser os EUA, nada melhor do que uma inspiração vinda de lá, para aqueles que veem o país do Micley como o paraíso na Terra. O movimento que hoje cresce na internet com dizeres: Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz? Atinge todas as classes sociais e influenciadores populares.

Todos são atingidos em cheio, quando movimentos emocionam em cheio a todos. Pense em Gandhi. Ele pregou resistência não violenta para a independência da Índia do Reino Unido e inspirou movimentos pelos direitos civis e liberdade em todo o mundo. O poder colonial britânico não pode ser comparado com o poder do latifúndio no Brasil, mas hoje, você tem os mesmos direitos dados, através de medidas feitas apenas para os dominantes, tacando fogo em florestas, arrendando espaços para fazendas, matando índios, liberando garimpo e etc.

Martin Luther King, outra figura importante. Um pastor batista e ativista político que se tornou o líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. O apartheid social brasileiro também está sendo colocado em cheque, com o empoderamento negro e as diversas lutas, também deflagradas nos últimos tempos com movimentos como Black lives matter. Sempre tivemos um conformismo arreigado, com relação a opressão aos negros. Agora, a coisa mudou de figura. Vivenciamos esses descasos durante anos e quando vivemos a interrupção dessa deferência, a classe opressora invoca o pânico, a Lei e a ordem e as boas intenções dos cidadãos de bem.

A paciência que temos, está acabando a passos largos.

 

 

Charge continuada


 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Romero Britto cancelado

O episódio da mulher quebrando a obra mais cara de Romero Britto, diz mais sobre ele do que ela. A situação deve ser vista não em um ângulo apenas. Vejamos então por que curtiram a idéia de degradação de uma obra de arte? É justificável? Aquele momento é único? Já não é de hoje que o artista é hostilizado por boa parte da população. A comunidade intelectual também não comunga de afeto pela pessoa Romero Britto, quanto mais sua obra. A um tempo atrás, até em provas do terceiro ano se encontrava esses resquícios. A questão dizia:

Existem grandes artistas na história da arte que fizeram parte de um processo demorado e complexo acompanhando o desenvolvimento de uma civilização. Qual artista abaixo não se enquadra nesse conceito de arte e apresenta um desenvolvimento vazio e sem propósito algum além do comercial?

a)      Leonardo da Vinci

b)      Michelangelo

c)       Monet

d)      Picasso

e)      Romero Britto

Temos um artista, que com uma forma simples e infantil, conquistou os Estados Unidos, se aproximando de celebridades. Um nordestino que saiu do ostracismo para ser também uma rica celebridade na América. Esse tópico, já incomoda os cidadãos de bem, que se incomodam com quem nasce no nordeste do Brasil, mesmo ele tendo apoiado o presidente. Ele consegue se atribuir rejeição da intelectualidade, artistas e toda a direita.

Por que o meio artístico odeia tanto Romero Britto? O que diferenciaria Romero Britto de por exemplo: Jeff Koons que usa balões no formato de cisne, coelho e macaco ou Keith Haring, ativista-social que grafitou no metrô de Nova Iorque nos anos 80? Uma diferença é que Romero dispensou as Bienais, galerias e o Stableshment, e se auto sustentou. A fusão entre arte e negócios incomoda demais. Afinal, arte é pensar, debater, trazer reflexões, muito diferente de apensas ser um negócio. Romero trabalha mais como um artesão marqueteiro de que como artista. O Britto Shop é uma prova disso.

Ser popular, não é necessário estar desprovido de inteligência e reflexões. Afinal, Mozart era popular e extremamente sofisticado.  Os EUA compraram o trabalho de Britto. Talvez por amarem Disney e o marketing envolvido. O jeito de ser americano. Uma infantilização em algumas coisas sem precedentes. Um apetite infantil simples, mas voraz. As atitudes na sociedade estão mudando pelo mundo. A luta por um mundo mais justo está levando as atitudes ao extremo. As estátuas que homenageiam antigos mercadores de escravos estão sendo banidas, arrancadas. Em alguns lugares até substituídas por mártires negros. E a pergunta que se faz é sobre a obra de arte. É justo destruir uma obra de arte por ter significados contrários ao que acreditamos ou é melhor mantê-las intactas para que se possa ter marcos de discussão? Caravaggio, um dos mais importantes pintores barrocos, foi pedófilo, usou prostitutas como modelos para santas e matou uma pessoa. Devemos rasgar suas obras?

Evidentemente que a atitude extrema da dona do restaurante e ex-fã de Britto, diante da sua soberba, desrespeito, ignorância, hoje são aceitáveis no mundo em que vivemos e sinal de mudança positiva de paradigmas. Nosso olhar também não compreende a atitude. A Europa é muito comum em sinal de desrespeito, o cliente comprar a comida mais cara do restaurante e sair sem comer. Uma ofensa enorme, que não é absorvida no Brasil. Por aqui, devido a polarização, nos sentimos compelidos a torcer por um ou outro e em uns casos, até tatuar a cara de susto do artista na perna.

A prudência nos ensina que se deve olhar os americanos do ponto de vista do Mickey

 

 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

100 mil não é só um número

 

Passamos a marca de 100 mil mortes pela COVID. Com toda pressão da sociedade e apenas comemorando o título do porco, mas ainda assim, não conseguindo agregar mais ninguém, o presidente resolve ligar para seu amigo do outro lado do hemisfério.

- Hello? Who calls me at this fucking hour?

- Como disse? Aqui é seu camarada do Brasil! O exterminador! Hahahahahaha! Fala chefia! Como está essa força? …Aqui, preciso falar com você, taokei?

- Who calls me?

- Calme? Aaah..sou eu! Jair!

- I don’t understand Portuguese…

- Eita nós...

- Pass it on to someone who speaks English out there!

- Não! Não! Eu falo um pouquinho. Aprendi inglês até a quinta série. Muito difícil. Você bem que podia aprender um pouquinho de português também. Sou seu único amigo no mundo, talkei?

- This is real? Is it really happening?

- Real? Sim, vou lançar sim a nota de 200. Vai ser um arraso. Coisa tipo nióbio! Queria colocar primeiro um tigre ou leão, mas me falaram que não ia cair bem na imprensa aí pensei no lobo guará..., mas estou achando que vou ficar mesmo com o Caramelo mesmo, talkei?

- Unbelievable! I don't understand you at all! will run more around ...

- Runmoreoundi? Aaahhhh…fiquei sabendo que você quer colocar sua cabeça lá naquele monte dos presidentes o Ruximure...Rouxi...Roauchi...aquele monte lá, talkei?

- What?

- Assim tá difícil ô pesida! ...vocês tem que dar o trabalho de aprender nossa língua também. A gente comprou todos os estoques de cloroquina de vocês, poxa. Tem que dizer pelo menos que me ama.

- I don’t understand.

- Olha, vamos tentar de novo. Estou chateado, faço tudo que você faz. Vocês estão com as maiores mortes pela doença no mundo e aqui, só porque passamos de cem mil mortos, eu sou o genocida? Fui comemorar o título da Palmeiras e ninguém ligou. Só querem saber da doença e dos milhões nas contas de minha família...o que estou fazendo de errado?

- look, ban the tik tok...

- Ahh?

- create controversy..

- Ahh?

- And send Brazilians to spend money at Disney!

- Disney? Agora você está falando a minha língua!

André Barroso na SEVAI

 

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

A engenharia do gabinete do ódio

As épocas têm seu jeitinho de enganar a população. Nos lembraremos de 2018, como o período que se enganou e venceu a eleição, através das fake news nas contas de redes sociais. Os detalhes do esquema de contas falsas, disseminadoras de fake news, onde TODAS eram ligadas à Bolsonaro. Todo mundo sabia, ou muita gente sabia, que os conteúdos falsos eram distribuídos desde a campanha eleitoral para presidente. O movimento para tentar reverter a situação, sempre ficava um passo atrás dos conteúdos falsos. Ou seja, na tentativa de sempre estar provando que o conteúdo era falso para uma população constantemente massacrada com postagens agressivas e falsas, tirou o verdadeiro debate de propostas. Aliás, nem teve debates, pois garantido que iria vencer através de notícias falasas, Bolsonaro nem apareceu nos debates.

O estrago já foi feito! É hora de o mundo mostrar o esquema criminoso e tentar reverter a situação. Uma tarefa árdua e lente, posto que a verdade está ao lado de quem fala e as mentiras estão do lado de quem tem dinheiro. Muitos empresários financiadores do esquema se locupletaram nesse período de pouco tempo de governo. Alguns bilionários ficaram até trilionários.  Aos poucos, vemos uma reação muito boa contra usurpagem feita pela extrema-direita. Com cada vez mais movimentos sociais conseguindo entrar em pautas das grandes empresas, essas mesmas empresas querem mostrar de alguma forma seu engajamento para não perder público. Dessa forma, pressionaram o Facebook a acabar com fakenews. Se não fosse dessa forma, a empresa de mídias sociais, nunca iria fazer essa varredura.  Para o Facebook, bloquear perfis de bolsonaristas é fácil. Até mostrou que a rota dos perfis sempre chegava no presidente. O importante é apontar e ver bloquear contas bancárias de corruptos em paraísos fiscais, que financiaram toda essa trama para chegar ao poder. Isso porque, mesmo com o bloqueio, muitos desses bolsonaristas estavam usando IPs falsos de outros países para burlar o bloqueio e continuar usando e disseminando fake News, mesmo com a proibição.

A rede de intrigas, não parou na eleição para presidente. Ela continuou por todo o período de governo. Assessores pagos com dinheiro público continuaram sua tática para atacar adversários de Bolsonaro e manter fiel seu público com ódio destemperado e criar uma faixa de apoio contínuo. O desespero do clã Bolsonaro começou a se mostrar evidente, com a pouca adesão de apoio de milhares de robôs virtuais a seus atos, pois as contas falsas das redes sociais foram banidas. A própria entrada do chamado CENTRÃO no governo, onde leia-se: distribuição de cargos e dinheiro, foi uma maneira de tentar estacar a sangria ocorrida nos últimos tempos, graças ao constante ataque do governo ao STF. O tiro saiu pela culatra. Achando que tinha muita adesão popular, uma derrubada do supremo cairia como uma luva, mas mesmo com um número grande bolsonaristas entrando em todos os escalões do governo, não foi capaz de enfraquecer as instituições.

Mesmo assim, os filhos de Bolsonaro ainda mantendo suas contas pessoais nas redes sociais, tem tempo de manifestar apoio a grupos Neonazistas internacionais, disseminando fake News sobre o fim da pandemia em um ato. O ato teve como slogan “O fim da pandemia – Dia da liberdade”, uma referência ao filme “Dia da Liberdade”, produto de propaganda nazista de Leni Riefenstahl sobre o congresso do partido de Hitler, em 1935. Os filhos resolveram a situação através do enfrentamento direto contra as redes sociais e continuando seu trabalho de divulgação de notícias falsas e disseminando ódio. Outros apoiadores bolsonaristas, seguiram o caminho da fuga ao exterior.

Não podemos deixar que a mentira, negacionismo e o ódio, continuem governando o Brasil. Sempre fomos um país com características vistas no exterior como de paz e amor, deixar que mudem essa característica é conseguir mudar de vez não só quem somos, mas quem gostaríamos de ser.


Vem aí, a Bienal de Autores Independentes



Versão feminina