quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Romero Britto cancelado

O episódio da mulher quebrando a obra mais cara de Romero Britto, diz mais sobre ele do que ela. A situação deve ser vista não em um ângulo apenas. Vejamos então por que curtiram a idéia de degradação de uma obra de arte? É justificável? Aquele momento é único? Já não é de hoje que o artista é hostilizado por boa parte da população. A comunidade intelectual também não comunga de afeto pela pessoa Romero Britto, quanto mais sua obra. A um tempo atrás, até em provas do terceiro ano se encontrava esses resquícios. A questão dizia:

Existem grandes artistas na história da arte que fizeram parte de um processo demorado e complexo acompanhando o desenvolvimento de uma civilização. Qual artista abaixo não se enquadra nesse conceito de arte e apresenta um desenvolvimento vazio e sem propósito algum além do comercial?

a)      Leonardo da Vinci

b)      Michelangelo

c)       Monet

d)      Picasso

e)      Romero Britto

Temos um artista, que com uma forma simples e infantil, conquistou os Estados Unidos, se aproximando de celebridades. Um nordestino que saiu do ostracismo para ser também uma rica celebridade na América. Esse tópico, já incomoda os cidadãos de bem, que se incomodam com quem nasce no nordeste do Brasil, mesmo ele tendo apoiado o presidente. Ele consegue se atribuir rejeição da intelectualidade, artistas e toda a direita.

Por que o meio artístico odeia tanto Romero Britto? O que diferenciaria Romero Britto de por exemplo: Jeff Koons que usa balões no formato de cisne, coelho e macaco ou Keith Haring, ativista-social que grafitou no metrô de Nova Iorque nos anos 80? Uma diferença é que Romero dispensou as Bienais, galerias e o Stableshment, e se auto sustentou. A fusão entre arte e negócios incomoda demais. Afinal, arte é pensar, debater, trazer reflexões, muito diferente de apensas ser um negócio. Romero trabalha mais como um artesão marqueteiro de que como artista. O Britto Shop é uma prova disso.

Ser popular, não é necessário estar desprovido de inteligência e reflexões. Afinal, Mozart era popular e extremamente sofisticado.  Os EUA compraram o trabalho de Britto. Talvez por amarem Disney e o marketing envolvido. O jeito de ser americano. Uma infantilização em algumas coisas sem precedentes. Um apetite infantil simples, mas voraz. As atitudes na sociedade estão mudando pelo mundo. A luta por um mundo mais justo está levando as atitudes ao extremo. As estátuas que homenageiam antigos mercadores de escravos estão sendo banidas, arrancadas. Em alguns lugares até substituídas por mártires negros. E a pergunta que se faz é sobre a obra de arte. É justo destruir uma obra de arte por ter significados contrários ao que acreditamos ou é melhor mantê-las intactas para que se possa ter marcos de discussão? Caravaggio, um dos mais importantes pintores barrocos, foi pedófilo, usou prostitutas como modelos para santas e matou uma pessoa. Devemos rasgar suas obras?

Evidentemente que a atitude extrema da dona do restaurante e ex-fã de Britto, diante da sua soberba, desrespeito, ignorância, hoje são aceitáveis no mundo em que vivemos e sinal de mudança positiva de paradigmas. Nosso olhar também não compreende a atitude. A Europa é muito comum em sinal de desrespeito, o cliente comprar a comida mais cara do restaurante e sair sem comer. Uma ofensa enorme, que não é absorvida no Brasil. Por aqui, devido a polarização, nos sentimos compelidos a torcer por um ou outro e em uns casos, até tatuar a cara de susto do artista na perna.

A prudência nos ensina que se deve olhar os americanos do ponto de vista do Mickey

 

 

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