quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Entrevista

Exclusivo: A primeira entrevista concedida na prisão, por Pedro Álvares Cabral desde seu encarceramento a uma semana. Este grande hebdomadário semanal (aliás, uma característica básica de todo hebdomadário), conseguiu esta exclusiva com o grande navegador.

Repórter – Podemos começar? Já bebeu seu refrigerante?
Cabral – Refrigerante? Isso é Bhang!
Repórter – Bhang?
Cabral –Bhang! É Cannabis e leite. Usado como um anestésico e anti-fleumático na Índia. Em minhas viagens descobri essa bebida por lá. Só assim para aguentar esse inferno aqui dentro. Rasparam até meu cabelo...por acaso você tem aí, alguma especiaria? Café, açúcar, canela, pimenta, mostarda, cravo, aloé, baunilha...
Repórter – Não! Podemos começar a entrevista?
Cabral – Claro! Estou apenas trincando os dentes. É nervoso sabe? Minha tia Filomena tinha isso, ela tratava com chá de ervas...
Repórter – Entendi. Primeiro, como foi a prisão?
Cabral – Cara, nem me diga! Estava uma manhã linda e resolvi sair com minha patroa pela baía. Dar um rolê de caravela, quando a Polícia civil chegou. Geralmente minha mão coça quando sinto perigo eminente. E nem a ANUNCIAÇÃO me ajudou! Não deu um aviso!
Repórter – Anunciação?
Cabral – Nome da minha Caravela!
Repórter – Aaaaaaahhhhrghhh! Foi horrível essa!
Cabral – Também achei! E sabe quem estava na primeira fila? Aquele japa com tornozeleira....
Repórter – E?
Cabral – Não respeitaram minha patente militar nem nada. Não pude levar minha espada que tanto me acompanha nas viagens. Eu chamo ela de Lucille! Mas o que mais me desagradou, foi a população aguardando perto da Nau aos gritos de BANDIDO, BANDIDO! Depois de eu ter descoberto tudo aqui! Muita injustiça!
Repórter – Por falar em descoberta, dizem que a descoberta foi intencional e não por acaso...
CabralEu tô em crise em não firmar uma identidade visual. As vezes dá vontade de abandonar a marinha por causa disso...Tudo foi culpa do Joaquim Noberto de Sousa e Silva, que levantou a idéia por aqui. Dizem que até os Maoris sabiam dessa rota e de terras por aqui, mas sou inocente. Não existem provas irrefutáveis que a comprovem o que dizem! Absurdo!
Repórter – Dentro da idéia casual, você fez uma viagem desastrosa e quando voltou para Portugal, trouxe várias jóias para sua esposa, de valores incalculáveis...
Cabral – Isso é um pesadelo! Estava sonhando que tava pedindo café no Tim Hortons, dai soube que era hora de acordar...Só pode ser intriga da oposição! Aquela história de Calecute me custou muito caro. Só tenho que dizer, que aquelas ofertas em jóias que foram feitos aos indígenas que não foram aceitas, foram confiscadas por mim e por sua vez, confiscados pela minha amada esposa…
Repórter – Foram descobertas também, esquemas de empreiteiras numas disputas de terra
Cabral – Querem colocar uma pá de cal nessa história. Essa história tem mais gente envolvida do que parece e estou como pato nessa história. D. Manuel I ficou irritado comigo por causa da preferência em Vicente Sodré para a FROTA DA VINGANÇA e não eu! Que petulância! Pensei, eu hein...faço todos os preparativos para a viagem, uma gastança absurda e no fim não viajo? Que porra é essa? Tá maluco? Desde então tudo ficou muito sinistro! Acabei me filiando ao PMDB (Partido dos Marinheiros do Brasil) e agora estão em uma caça as bruxas, só pegando quem não tem foro privilegiado, pois estava afastado do reino. Agora, nessas condições, estou possuído! Muita raiva mesmo!
Repórter – Vamos falar sobre isso?
Cabral – No momento não. Estava escrevendo um livro sobre isso e tenho um dossiê com mais de mil páginas que falam desse bastidor hoje. Tem Juiz federal e grandes nomes envolvidos. Vai ser um merderer só! Isso ainda não acabou! Vou cair, mas vou levar parte do reino comigo, você vai ver.
A entrevista foi encerrada sob os gritos JUSITIÇA!, JUSITIÇA!, JUSITIÇA! Eu imaginando que nenhum grande nome acima de Cabral poderá ser pego, quando ao caminhar para saída do presídio, me deparo numa cela, um baixinho, com cabelo engomado igual do Superman, olhos esbugalhados e uma das mãos dentro da camisa de presidiário me perguntou: Qu’est qui passe ici?

No mesmo momento me assustei e disse: NAPOLEÃO??????

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