quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Reflexões sobre as urnas

 

Como disse um amigo, a abstenção venceu as eleições para prefeito de várias cidades. Podemos falar que a pandemia afastou vários eleitores dos locais de votação ou que a insatisfação com o modelo atual de governo, levou a um comportamento de protesto. Em algumas capitais pelo Brasil, o número de abstenção foi maior que o primeiro lugar, ou a soma dos segundo e terceiro lugar. A verdade é que contando abstenção, brancos e nulos, temos um número muito grande de eleitores tentando mostrar uma insatisfação com o modelo oferecido atual e com os candidatos que não trazem identificação com uma massa grande de votantes. As abstenções no Rio de Janeiro, tiveram 1.590.876 votos (32.79%), podia até concorrer com o Eduardo Paes no segundo turno.

O grande recado, que muitos aguardavam das urnas, foi o descontentamento com o governo Bolsonaro. Já que protestos e aglomerações estão negadas por causa da Pandemia, essa voz das ruas foi declarada pelo voto. A maior parte do apoio que o presidente deu para seus candidatos, foi por água abaixo ou com o santinho indo para o bueiro. A despeito do aumento de candidatos da ultradireita aparecerem e representar essa parcela da população, tiveram felizmente um recado das urnas. Mas não dá para relaxar, afinal tiveram fôlego suficiente para destilar ódio, também continuarão tentando em 2022. Ao mesmo tempo, vemos a polarização entre candidatos de extrema direita e esquerda, dessa vez, aparecendo o PSOL. Enquanto o Rio de Janeiro amarga suas decisões sempre dando tiro no próprio pé, São Paulo brilha com a chegada de Boulos para o segundo turno.

Outra novidade e avanço, foi a inserção das vozes de minorias LGBTq+. Vozes sempre esquecidas nas câmaras, vimos a conquista nos votos que aumentaram não só delas, como das mulheres e negros. É o início de uma grande onda que vai possivelmente trazer novas inserções na sociedade. Nomes de LGBTq+ estão surgindo com força pelo Brasil. Em Aracajú, Linda Brasil é a candidata a vereadora mais votada. Em Niterói, temos a força da incrível Benny Briolly, apoiada pela outra incrível Talíria Petrone. O que dirá de Erika Hilton em São Paulo? Não podemos esquecer de Duda Salabert em Belo Horizonte, uma das prças mais conservadoras no Brasil. Quebra de paradigmas em outras regiões como a professora Carol Dartora que é a primeira mulher negra eleita vereadora em Curitiba. Todas eleitas com votações muito expressivas, mostram o desejo da sociedade por mudanças neste momento.

Eduardo Suplicy é o vereador mais votado do país, com mais de 167 mil votos; Tarcísio Motta que na eleição passada, ficou atrás de Carluxo, agora desponta como o vereador mais votado no Rio de Janeiro. As urnas demonstram claramente o desejo de mudança. O modelo negacionista de Bolsonaro durante a pandemia, perto das eleições, desinchou e derreteu o modelo truculento e fascista. E tal qual os Estados Unidos, que defenestrou esse modelo tirando Trump do poder, cria a segunda onda no Brasil. E será muito evidente na próxima eleição, se o Brasil ainda estiver de pé. A estratégia nesse momento da direita, é se considerar de centro apaziguadora, se descolando de Bolsonaro e tentando se mostrar também conciliadora.

Outro ponto, foi o congestionamento para justificar a ausência na eleição, via aplicativo, que conseguiu congestionar o sistema, deixando muita gente sem conseguir dar um só clique a mais. Outros dizem que houve hackeamento do sistema. Mas, assim como Trump, são sempre os mesmos os que investem na desqualificação do sistema eleitoral. Oportunistas ou derrotados. O sistema é íntegro e as urnas não estão em rede.

Todas essas contemplações criativas, que antes teria feito em um carro no engarrafamento, em dia de eleição, foram feitas na corrida pela praia, com máscara e as mãos cheias de álcool em gel.

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