quinta-feira, 12 de julho de 2018

Ligue para Márcia


Preciso falar com a Márcia que estou com problemas de colesterol alto. Sei que ela estava marcando operações de catarata apenas para os que participam de sua igreja, a despeito dele falar em campanha que iria cuidar das pessoas. Sim, das pessoas que são evangélicas. Essa situação é emblemática, pois está mostrando que todo esse modelo de centro-direita não se sustenta a longo prazo. Apesar de todo um discurso vazio, contra um discurso intelectual no período de campanha, ganhou quem? Aquele que tem um rebanho, que se posiciona ao centro, aquele que pode negociar com o poder vigente a décadas, sem ser incomodado por ninguém. Ledo engando. O projeto de poder evangélico se diferencia do católico, na medida que além de utilizar as velhas práticas, incomoda ao poder midiático, com facilitações apenas para sua igreja. E isso, o poder dominante não aceita.
Preciso falar com a Márcia que esses reflexos não são novos. Antes, apenas ficávamos sabendo se desse na imprensa alternativa ou rodas de conversa. Preciso falar com a Márcia que o desemprego e arrochos é típico desse período e estamos revivendo novamente. Podemos lembrar da campanha de Chirac, que mostrava a mão, representando que iria cuidar da educação, saúde, etc. Podemos hoje e olhar para trás e ver seu fracasso, o desmonte da área social (alguma similaridade?) E ainda mostrando sua face bruta do neoliberalismo. Helmut Kohl, que era o chanceler alemão, que normalmente mostra uma estabilidade, marca da pátria alemão perante a Europa, também sofreu com problemas e protestos. Nem precisa falar de Thatcher na Inglaterra, que sofreu com milhares de protestos intermináveis dirigindo com mão-de-ferro, onde bandas punks, que representavam a anarquia ao poder, juntaram suas vozes em uníssono contra as medidas extremas da dama de ferro.
Preciso falar com a Márcia que até a nação mais poderosa, também teve o revés com a era Reagan, onde a recessão foi chegando a níveis insuportáveis e que adiante iria culminar na bolha imobiliária. Teve que pensar em planos mais ousados, colocando seu tentáculo pelo mundo. O inimigo era mentira. Os neoliberais levaram um susto e tanto.
Preciso falar com a Márcia que depois do sucesso das economias emergentes, que estavam até emprestando dinheiro a outros países, foram um a um levando os golpes mais bem preparados da história, legitimados pela justiça. Falando isso antes, poderiam apontar o dedo e falar que era conspiração alienígena ou algo do gênero.
Preciso falar com a Márcia que agora as pessoas começaram a ver de outra forma a justiça. Compreendem que existe partidarismo. Ficou evidente no caso do Habeas Corpus de domingo do Lula. A farsa de ontem provou a parcialidade de Sérgio Moro contra Lula. A luta de um juiz que está de férias, que diz que não tem tempo de abrir inquérito contra o Richa, em um processo em que não tem mais jurisdição, obrigou a Polícia Federal a desacatar a ordem até ter tempo de continuar a perseguição. Você não precisa gostar de um partido ou outro, mas precisa ver como uma ditadura usando as mídias pode fazer em um país. Lula já é considerado oficialmente no exterior, um preso político.
Preciso falar com a Márcia que tudo isso ainda vai piorar. O caminho que vai acontecer, não posso falar porque não tenho bola de cristal, e isso é coisa de religiões afro, e se eu falar que sigo essa linha religiosa, não vou poder ter nenhum privilégio no Rio de Janeiro, mesmo que a função exija respeito à diversidade de credos e à laicidade do Estado. Uso privado do poder. Procure no dicionário a diferença entre corporativismo e democracia.
Preciso falar com a Márcia que está tudo muito complicado. Bem fez o Brasil que optou pelo despotismo esclarecido e não tem nenhum desses problemas.

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