quinta-feira, 17 de maio de 2018

O verdadeiro chefe


No nosso mundo capitalista, achamos que conhecemos nossos chefes. Mas será que conhecemos? Quando começamos um trabalho novo, estimulados por uma nova aventura, novos amigos, novos desafios, excitado com as novidades, somos chamados através de uma pessoa, que, com certeza, está acima da gente no primeiro momento. Ela, naquele momento, será a pessoa que estará acima de você, seu chefe direto. Aquele que ficará perto de sua baia, diretamente de olho na sua performance. A avaliação é direta. Ele poderá dar notas inclusive de suas piadas, se serão clássicas, se tem teor de baixo calão ou são frescas no mundo das piadas. Você eventualmente o encontrará na fila do café ou no banheiro, onde verá se você exagerou no almoço ou se lava as mãos antes de sair. Aquele que pode ser um colega a mais de trabalho, pode ser também um x-9 a mando de seu chefe. Logo, o verdadeiro chefe está acima do chefe imediato.
Geralmente o chefe do chefe, tem uma sala própria. Um refúgio para uns, um bunker para outros. Sua mesa está tão cheia e confusa quanto de seu subalterno, que possui uma mesa menor, mas o mesmo tanto de folhas, avaliações, documentos e trabalhos por completar. De vez em quando, o vemos andando pelo setor com cara feliz. Não se engane. É um velho truque apache. Ele entende que a pressão do trabalho precisa ser esvaziada dando um pulo nos setores ao lado e ver o quanto o chefe subalterno pode elogiar sua gravata e assim, ele pode voltar ao seu posto mais tranquilo com um elogio vazio. Então devemos temer não o chefe direto, mas aquele que eventualmente aparece em seu setor? Claro que não. Um chefe não teria tantas incumbências numa mesa, acreditem. Logo, o verdadeiro chefe está acima do chefe de setor.
Geralmente o chefe do chefe de setor, é o dono da companhia, que nem fica no mesmo andar. Não quer contato com ninguém. Não se mistura e nem faz contato de ter olho do olho com ninguém da firma. Se sente melhor isolado para poder pedir a cabeça de não de um, mas de vários ao mesmo tempo para demitir. Contato mesmo apenas com sua secretária e pelo interfone. Evita de ir de carro, afinal, tem seu motorista particular. Sua mesa é enorme e geralmente não tem folhas ou obrigações em cima dela, afinal, quanto maior a mesa e sua superfície limpa, maior a hierarquia. Até o interfone pode ser sinal de fraqueza, sendo substituída hoje pelo Whatsapp. Afinal de contas, quem realmente manda não precisa se intercomunicar. Então devemos temer não o chefe direto, não o chefe do chefe, mas aquele que não é visto na empresa, mas tem um andar só para ele? Claro que não. Um chefe não teria nem uma mesa, acreditem. Logo, o verdadeiro chefe está acima do presidente da empresa.
Geralmente o chefe do presidente são os acionistas. O verdadeiro chefe dispensa qualquer símbolo de autoridade. Não possui nem mesa. Aquele que trabalha, mesmo que pouco, não pode ser considerado de chefe. Esses seres que ninguém conhece, aparentes donos do mundo, pisando em tapetes vermelhos, estão em algum lugar da Riviera francesa. Estão jogando tênis na Antuérpia, em uma mesa, mas uma mesa regada a pretzel assinada pelo chef Frank Tujague, do hotel Westin com um Whisky Jubileu de Diamante 13. Quando quer alguma coisa, nem levanta o rosto de seu laptop e grudunha alguma coisa mesmo e seu lacaio providencia imediatamente. Então devemos temer não o presidente da empresa, mas aquele que você não sabe nem que existe na face da Terra? Claro que sim, mas não de uma maneira física. Um chefe não teria a morte como ponto final de sua vida de riquezas infinitas. Logo, o verdadeiro chefe está acima de todos os seres mortais: Deus.
E assim, a cadeia chega ao seu fim, verificando que ninguém é seu chefe maior que Deus. Tenho um sonho às vezes que me toma, que seria encontrar com Deus, em seu plano e ele estaria atrás de uma mesa, cheio de diagramas e relatórios milenares e num momento de espontâneo nervosismo, iria gritar:
- Quem pegou meu celular?
Nesse momento, sem querer, iria derrubar o café com creme sobre os processos e um cinzeiro cheio de bitucas, quando ao som de seu toque em canto gregoriano, acha seu celular e fala com sua secretária:
- Dona Juliete, não estou para ninguém. Só para o Francisco!

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