quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

O Oscar e a mensagem


Não me lembro a primeira vez que vi uma cerimônia do Oscar. Ela sempre existiu para mim. Como as TVs abertas não televisionava outras premiações tão importantes quanto essa, me acostumei a tê-la como a cerimônia mais importante do cinema. O mundo mudou. O que antes se via em um canal, preto e branco, com um apresentador único, pouca diversidade e um espetáculo por vezes brega, viu o sinal dos tempos bater à porta. Ampliamos nossas opções que foram para os canais pagos, com sessão ampliada para o Red Carpet, tendo hoje opções mais variadas pela internet para acompanhar. A única coisa que não mudou, foram os bolões. Desta vez quase gabaritei.
Depois do ano passado, com a abertura acertada do Queen, tivemos uma grata surpresa com a apresentação de Janelle Monáe com dançarinos inspirados por Mr. Rogers, Midsommar, Coringa, Nós e mais. A cara de espanto de vários astros, mostra o quanto essa noção brega elegante tem que acabar. E a apresentação de Janelle, que envolve a todos, abraça o público é uma novidade muito boa com direito a um lá lá lá da Brie Larson. Essa incrível participação ajuda muito em transformar em um verdadeiro espetáculo. O show surpresa e atrasado do Eminem foi ótimo e deixou a todos de boca aberta. O cantor cantou "Lose Yourself", vencedora na categoria de melhor canção original em 2003 pelo filme "8 Mile: Rua das Ilusões". Só que, Eminem não compareceu à cerimônia naquela época. Antes tarde do que nunca.
De todos os indicados, a disputa mais forte foi de ator coadjuvante. Entre Joe Pesci, por O Irlandês, Al Pacino, por O Irlandês, Anthony Hopkins, por Dois Papas, venceu Brad Pitt, por Era Uma Vez em... Hollywood. Apesar de ter levado todos os prêmios por esse papel, poderíamos ter uma surpresa. Brad é um excelente ator desde Os 12 macacos. Ele faz um bom papel, mas o personagem criado por Tarantino é o crème de la crème. O personagem é cativante. Você sente uma grande empatia pelo personagem e fica torcendo por ele, poisse tratando de Tarantino, nem herói pode ficar vivo no final. E como o próprio ator, ao receber o prêmio, fala desse único contador de história, quase que solicitando ao mundo que não abandone o cinema, faço dele minhas palavras. Que filme genial. E o que dizer de O Coringa? Melhor filme baseado em quadrinhos feito. Atuação de Oscar. Merecida vitória e discurso esperado sobre proteção da natureza. Joaquin Phoenix eternizou novamente o personagem, que achávamos que não haveria nada melhor que Heath Ledger, que também ganhou Oscar por sua interpretação.
Uma das mudanças não veio da organização. Veio dos indicados. Muitos filmes com representatividade, diversidade, igualdade foram premiados como o curta de animação Hair Love (sobre cabelos afros), Hildur Guðnadóttir compositora da trilha original do O Coringa (que falou sobre ter mais mulheres em todas as categorias do cinema) ou nos discursos onde falaram de desigualdade e inclusão, como do Chris Rock ressaltando que no primeiro Oscar, não havia nenhuma indicação, em nenhuma categoria, de negros. Hoje, quase 100 anos depois, apenas uma indicação. Teve slogan socialista "Trabalhadores do mundo, uni-vos!". Academia finalmente rompeu a barreira das legendas e dos temas polêmicos políticos críticos e sociais esse ano.
A grande emoção, a grande representatividade de verdade, se deu com a conquista maravilhosa de Parasita nas categorias mais importantes. Um filme de cunho social, importante para ser falado, com direção envolvente, conseguiu a proeza de vencer como melhor filme e melhor filme estrangeiro, com um filme todo falado em coreano. Talvez as expectativas deles fossem de vencer pelo menos uma categoria. A grata surpresa para todos foi que foram além. A cara da hoje ativista Jane Fonda quando leu o vencedor foi impagável. Nunca ninguém ganhou Cannes e Oscar de Melhor Filme, Direção, Roteiro e Filme Estrangeiro. Bong Joon Ho, o diretor, falou: "Quando vocês superarem as barreiras de filmes com legendas, conhecerão muitos filmes incríveis". E é verdade. Estamos vendo essa ascensão.
Finalmente, toda minha reverencia a Petra Costa, Cineasta que dirigiu ELENA, Olmo e A Gaivota, e Democracia em Vertigem. O filme mais importante do Brasil que competiu no Oscar, que revelou o golpe no país ao mundo teve apoio de muitas pessoas importantes pelo mundo. O filme é um orgulho para um país assaltado.




Nenhum comentário:

Postar um comentário