quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Ah, a Bienal

Nunca vi uma Bienal tão cheia e aposto que você também não. Esta foi a minha segunda Bienal que vou como autor. Na primeira, lancei um livro infantil, por uma editora de pequeno porte, em um dia de semana. Desta vez, participei de uma coletiva de artistas, por uma grande editora, em um sábado. Poucos brasileiros podem descrever essa sensação. Primeiro, chegar ao estande em um tsunami de pessoas foi uma missão incrível, sem me utilizar de artifícios com snorkel ou pé de pato. Logo depois de um tempo, ver vários transeuntes passando e tirando fotos, sem ao menos saberem direito quem eram os fotografados.
Fora as grandes estrelas, muitos lançamentos foram importantes, assim como sua pluralidade de temáticas. Participei do livro em homenagem ao grande homenageado deste ano; Ziraldo. Com muita honra, fiz parte do livro Ao mestre com carinho –Ziraldo 85 no traço de 85 talentosos cartunistas (entre eles, este que vos fala, Aroeira, Chico Caruso, Dálcio, Ertahl, Glen Batoca, Ique, Maurício de Souza, Mig e Quinho), editado pelo dedicado e generoso Edra, pela editora Melhoramentos. Uma edição luxuosa e muito bem diagramada. Tenho que elogiar a coordenação no dia, com muita eficiência de Carolina Cruz. Foi bom estar com amigos de profissão novamente, já que as exposições de humor que reuniam muitos artistas estão rareando.
Foi a Bienal mais importante dos últimos tempos. No entanto, devemos falar sobre dois pontos importantes, que saltaram aos olhos. Esse recorde de público é lindo de se ver, mesmo impedindo uma boa visitação, porém contrasta com uma realidade do nosso país continental. Como um país com carências educacionais e tendo um livro lido por ano/pessoa ter esse sucesso? Não há um aspecto da sua vida particular ou da vida institucional do país que não esteja, de uma forma ou de outra, ligado a uma leitura. Porém, muitas pessoas acreditam que a Terra é plana.  Algo que bastaria ler as mais importantes informações, pelos mais importantes especialistas. Tenho uma teoria. O preço oferecido e o acesso aos autores foram as minhas escolhas. Do lado de fora do pavilhão, dava para ouvir os gritos de jovens pelo seu escritor youtuber preferido. Parecia o fenômeno Beatles. Essa espetacularização é importante para a aproximação do leitor e futuros leitores. E como tinha youtuber. Não é negativo. Levando ao caminho da leitura, está fazendo um papel extraordinário.
Para todos os efeitos, os shows levam a leitura. Se houver necessidade de leitura em PDF, alguns estandes ofereciam o melhor para esse leitor, apesar de sempre preferir o papel nas mãos. Não critiquem, mas o cheiro de livro novo é a primeira imersão desse leitor. A nota mais que negativa, é mais uma vez, a tentativa dos governos em impor suas vontades e marcar a edição, com a marca do pilot da censura, transformando em batalha judicial, algo que teimam em impor. Censura a obra artística é inadmissível. A justificativa a justiça, foram por duas obras. Uma, “As gêmeas marotas”, do holandês Dick Bruna, para o público adulto nem estava na Bienal. A foto anexada no pedido da prefeitura, tem inclusive, o preço em Euros. Uma tentativa se utilizando de inverdade para justificar o fim. A outra, uma obra da Marvel, que teve o marketing inverso, foi instantaneamente esgotada. E para aqueles que não acham importante a influência dos tais youtubers, Felipe Neto teve papel importante comprando as edições e distribuindo gratuitamente. Não é novidade esta edição, foi publicada em 2010 e já tivemos o casamento do mutante Estrela Polar e seu namorado.
Não é tarde para lembrarmos, a queima de livros feitas por Hitler e o partido Nazista em 1933. Isso para lembrar de fatos mais recentes da história. Os livros escritos por intelectuais contrários ao regime, foram queimados em praça pública como parte do programa de propaganda de Goebbels, chamando de arte degenerada, para apenas convencer a população da necessidade de acabar com a cultura e movimentos artísticos contrários a suas idéias.
Uma normalização do absurdo, da falta de educação, do extremismo, do atraso. Isso tudo dá para se conter. Basta um livro. A pena continua mais e que a espada.

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