quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Fascismo Brasileiro


O que é o intolerável? O importante pensador francês Jacques Rancière, define sobre imagem pensativa: “é uma imagem que encerra pensamento não pensado, pensamento não atribuível a intenção de quem a cria e que produz efeito sobre quem a vê sem que este ligue a um objeto determinado” (Espectador emancipado, p.103).  Afirma também, que o deslocamento do intolerável na imagem para a imagem intolerável sempre esteve no centro das tensões da arte política. Se anteriormente via-se um choque entre imagens referentes às aparências e imagens que revelavam a realidade por de trás delas; atualmente, considera-se que não exista uma imagem referente à realidade que se oponha a aparências.
Pensemos no caso das pequenas fotografias tiradas de Auschwitz, mostrando um grupo de mulheres indo para a morte na câmara de gás, da exposição Mémoires des camps. As duas formas de conceber o intolerável aparecem nas críticas à exposição. A de Élisabeth Pagnoux ressaltava a realidade que as fotografias revelavam, dentro da idéia do intolerável na imagem. Já a crítica de Gérard Wajcman afirmava que eram aquelas imagens, por si, intoleráveis já que afastavam o espectador da realidade. Eu acho intolerável tudo que representa e toda a imagem incluindo bordas e molduras! É importante falar sobre o assunto sempre! Mas é intolerável!
O ódio que vivemos, que se eclodiu com a barbárie promovida por fakenews, e pelo modo de agir que deu a vitória a Trump, que está sendo utilizada por Bolsonaro, está saindo do armário, querendo sua parcela na sociedade. Já foram contabilizadas agressões, pichações de suásticas, ameaças a pessoas, grupos de ativistas, organizações e até serviços públicos que se dizem contrários ao fascismo, que estão fora de controle. Antes, a justiça puniria quem incitasse o mínimo de ódio. Agora foi institucionalizado com um candidato a presidente. E nada se faz. Essa ineficiência age como apoio brutal ao que está acontecendo, que até menospreza a marca deixada com canivete em uma vítima. É intolerável!
A cegueira pelo candidato revela mais sobre os eleitores do que o próprio candidato, do qual sabemos suas posições sobre minorias, adversários, deficientes e mulheres. Cada eleitor, se identifica com algum ponto dele. Muitos já não se envergonham de falar que é racista, outros escondem ainda essas atitudes, mas no fundo, desejam o mesmo. Não adianta os pensadores nacionais e mundiais, não adianta o ativismo na música de artistas como Roger Waters e Madonna, nem como a ultradireita internacional assustada com seu personagem na américa latina.
Na época de Hitler, o Brasil criou o integralismo, dentro das idéias de Hitler e Mussolini. O partido chegou a ter um milhão adeptos, bem no meio do nazismo pelo mundo. Quando o mundo combatia esse grande mal, o Brasil demonstrava admiração, pelo criador do partido, Plinio Salgado, filho de um coronel do exército, e com a chegada nada democrática de Vargas ao poder seus ideais foram ouvidos. O discurso sempre o mesmo que ouvimos até hoje, exaltando o nacionalismo, atacando o comunismo, defesa de um partido único nacional e sempre pregando antissemitismo e contra as minorias. Qual seu lema? “ O integralista é o soldado de Deus e da pátria, o homem-novo do Brasil que vai construir uma grande nação”. Você pode imaginar que com a derrota do Nazismo, o partido e seu ideais foram enterrados de vez por aqui, mas em 2004, foi formada a frente integralista brasileira, uma organização sem ligação a qualquer partido oficial, mas eu lema: Deus, pátria e família, está presente nos discursos que deixam a classe média pouco esclarecida, sempre exaltada em tempos e tempos.
Temos um histórico nada bonito, de problemas relacionados aos direitos humanos, e como disse Waters em entrevista, é meu dever como artista lutar por um mundo melhor, de igualdade e direitos humanos. Quero chegar ao fim desta eleição aliviado, como se fosse arejar uma casa e uma boa e vigorosa surra nos tapetes. Vamos meditar sobre a pretensão humana e os limites da arrogância e tentar nos banhar de vez, tendo a sensação no final de corpo limpo de vozes da intolerância!

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