terça-feira, 17 de dezembro de 2013

06 perguntas para Pedro Varela


 1) Picasso falava que para desenhar "simples" Se deve ser um mestre no desenho antes. Essa prerrogativa tem sentido para você?

 Não sei se concordo totalmente com esta idéia. Acho que falar de "maestria" no desenho pressupõe que esta seja uma disciplina fechada, com regras definidas, baseada em um modelo pré-estabelecido do que seria bom ou ruim no desenho ou em arte de uma maneira geral. Acho que o bonito do desenho é justamente sua abertura e flexibilidade, a possibilidade de ser projeto e obra finalizada ao mesmo tempo e a sua "facilidade" técnica. O desenho não necessita de muitos recursos e técnicas, como a pintura ou o cinema por exemplo. Esta frase do Picasso é baseada também numa idéia clássica de arte. O sistema de arte no qual Picasso foi formado e que posteriormente ajudou a desconstruir, focava no desenho como estrutura fundamental para construção da imagem. Depois da fotografia, das novas tecnologias e de tantos movimentos transformadores durante a modernidade o desenho clássico (linha sobre papel) deixa de ser esta base para a produção visual, mas ganha autonomia enquanto obra de arte. Acho que a idéia de desenho hoje abarca diferentes procedimentos, que vão além das técnicas e materiais clássicos. Um bom exemplo são os diagramas do Ricardo Basbaum. Sempre penso nestes trabalhos como um hibrido entre poesia, desenho e instalação e imagino que não seja importante neste caso a "maestria" formal do desenho mencionada por Picasso. 

 2) Seu universo multicor tem raízes em uma releitura da década de 60?

 Sim. Na verdade construo o meu trabalho através da justaposição de diferentes referencias e uma delas é sim o psicodelismo dos anos 60. Mas também busco referencias nas naturezas mortas barrocas, na arquitetura de diferentes épocas, no design dos anos 50, na produção de artistas viajantes que vieram para o Brasil, histórias em quadrinhos e etc... Cada série da trabalhos que produzo funciona de maneira diferente. Hoje tenho pensado muito na construção de um universo tropical, e todas estas referencias psicodélicas e também da história da arte, principalmente no que se relaciona a construção de um imaginário tropical, acabam ganhando mais força do que outras referencias e contaminações recorrentes no meu trabalho. 

 3) Você tem as plantas e o complexo arquitetônico como tema. A união deles se torna o abstrato no conjunto que é o objetivo ou a temática é apenas o ponto de partida para consolidação do quadro? 

 Na verdade eu me importo muito com a imagem. Quero construir mundos idealizados, lugares imaginários e apresentar uma cosmogonia para o espectador, mas me importo também com a percepção desta obra, com a construção visual. Então este lado "abstrato" também ganha força. Não gosto muito da palavra "tema" para o meu trabalho. Gosto mais da palavra assunto, talvez porque esta palavra me lembre a fluidez de uma conversa, no qual um "assunto" puxa outro e mais outro. No meu trabalho, mais do que apenas um assunto, gosto de pensar nesta teia, ou emaranhado, de assuntos. Os procedimentos técnicos e o aspecto formal do meu trabalho são "assuntos" do meu trabalho, assim como a idéia de um universo tropical e o monte de referencias que uso. O que quero é que tudo isso conflua numa grande conversa. 


 4) Sempre tive curiosidade de saber suas influencias 

 São muitas. Italo Calvido e Jorge Luiz Borges são super importantes para mim. Também tem o Guignard, Ettore Sottsass, Neo Rauch, Zaha Hadid, Mira Schendel, Hieronymus Bosch, Sandra Cinto, Brigida Baltar e muitos outros artistas. Além dos meus pais que são professores da escola de belas artes e foram meus primeiros professores. 

 5) Hoje, você é um conceituado artista, muito inteligente e aprofundado, assim como bem relacionado no mundo das artes. Para um artista jovem, essa ascensão, é fabulosa. Você atribui a esse conjunto de fatores ou a mais algumas especificidades? 

Eu acho que esta idéia de artista conceituado que você fala está muito relacionada a várias situações diferentes. Hoje estamos vivendo um momento totalmente novo na economia do país, temos uma estrutura maior no nosso sistema de arte, mas por outro lado a nossa percepção deste sistema também está mais atrelada ao mercado, já que muitos artistas jovens são rapidamente absorvidos por galerias, e consequentemente ganham espaços em instituições. Sempre atirei para todos os lados, mas assim como vários outros artistas da minha geração, acabei entrando antes no mercado e depois comecei a participar de um circuito mais institucional. Assim que me formei na escola de Belas Artes eu entrei para o Mestrado que posteriormente abandonei para morar no México e também entrei para Gentil Carioca. Logo pude experimentar cosias que naquela época ainda estavam começando, como participações em feiras internacionais e ter obras adquiridas para coleções institucionais. Mas naquela época não havia um reconhecimento, e na verdade ainda acho que hoje o que tenho é uma carreira de artista jovem. Ainda tenho muito pela frente. A carreira se constrói com o tempo, com este acumulo de experiencias e eu acho que ainda estou bem no início.

 6) Quais os novos planos? 

 Quero continuar desenvolvendo pinturas, mas também quero voltar a trabalhar com outros meios, principalmente algo que me possibilite voltar para o espaço 3d. Penso muito nas esculturas de papel, como as flores que apresentei na Zipper e as maquetes flutuantes.


Nenhum comentário:

Postar um comentário