quinta-feira, 15 de abril de 2021

Fazer do limão uma limonada

Faz parte da nossa resignação ao amoralismo da política brasileira, ou melhor, de certa camada de políticos antigos do Brasil, essa urgência nos julgamentos morais, feitos principalmente pela classe média e elite coronelista do país. Tínhamos uma estirpe de políticos que não se importavam nem que seu nome fosse jogado na lama, pois tempos depois dessa fama se alastrar, conseguia capitanear o sucesso em uma próxima eleição. Vide Collor. Mas hoje, somos seres mais evoluídos. Hoje, temos certa canja de maus políticos, entendemos do riscado e parecia que não queríamos mais determinados fazeres em Brasília. Ledo engano. Com o presidente, parece que a população tolera tudo que antes era tido como péssimo. E chegamos ao fundo do poço, quando o medo da CPI da COVID, leva ao presidente para ligar aos senadores para fazer acordo.

O Palácio do Planalto pressiona senadores para ampliar escopo da CPI, para tirar foco dos inúmeros crimes do governo federal. O senador Kajuru publicou ligação dele com Bolsonaro, que lhe pediu para "fazer do limão uma limonada". A bandalheira é generalizada. A documentação é extensão desde o famigerado “É só uma gripezinha!”. Você consegue listar de cabeça, inúmeros crimes que com certeza serão listados pela CPI, que, aliás, é urgente. E não se trata de revanchismo, mesmo sabendo que o presidente, maior recordista de pedidos de impeachment da história, tem sim responsabilidade. O problema de achar que esse dia jamais chegaria, é que seus rastros estão devidamente documentados. Tanto em vídeo, escrito, depoimentos e etc.

O fato da CPI é o seguinte: “Apurar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio para os pacientes internados”. Você claramente tem o retardamento de compras de vacinas que foram oferecidas e recusadas pelo governo, por questões ideológicas. Nossa melhor aposta foi a Coronavac, trabalhada pelo Instituto Butantã, que apenas foi adiante porque existe a disputa política entre Dória e Bolsonaro. Tudo documentado com as agencias internacionais de venda dos imunizantes corroborando a versão de omissão. E a negligência de Pazuello no enfrentamento ou o não enfrentamento da crise no Amazonas, tentando oferecer (E o que faz até hoje, tentando escoar milhões em tratamento precoce) Cloroquina e outros medicamentos ineficazes para o Estado.

O que é mais reprovável? Evidente que a resposta seria a omissão nas mortes de brasileiros  que poderiam ser evitadas, com cidades mostrando que lockdown e vacinação em massa é a resposta, zerando o número de internações. E para evitar essas evidencias contundentes, o presidente fala mais de uma vez sobre a necessidade do contra-ataque ao STF. O que ele já falava tempos atrás em relação a esticar a corda. O que o presidente via como a possibilidade mais real de impeachment acontecer, tenta articular com a ala militar mais da extrema direita, antigos militares e conservadores, uma ajuda para essa pressão. O que foi por água abaixo com a declaração dos ministros militares sobre democracia. Uma abertura de impeachment de ministros do STF pode segurar CPI da Covid é avaliada como alternativa para se esquivar mais uma vez de suas responsabilidades.

Somos hoje, o país do golpe. Enquanto a América Latina se livre desses golpistas, somos a latrina do mundo, criando uma ilusão falsa que somos um país livre e alegre. Nada mais profundo do que ilusões falsas.

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