quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Gravitações sobre a censura na arte

Já pensaram em um período onde obras de arte são destruídas, apenas por que não estão dentro do padrão de um grupo de pessoas ou que não concordam com que está exposto? Não estamos falando dos Hunos ou Talibãs. Estamos falando de Brasil. Hoje. Vamos primeiro recordar, que não se trata da temática, pois em outros tempos, tivemos a mesma situação.
No período do nazismo, Serena Lederer, um mecenas de arte, colecionou catorze das pinturas de Gustav Klimt. O artista era um grande simbolista austríaco, que tem, entre suas obras, uma famosa pintura retratando um beijo. Lederer enviou sua coleção ao Museu Immendorf Schloss para se manter seguro neste período. Porém, o partido nazista resolveu incendiar o museu. Não só a coleção, mas outros trabalhos de um período de 1898 e 1917, assim como afrescos no teto do museu foram destruídos. Isto tendo Hitler como pintor amador e amante das belas artes, além de estimado cerca de registrado o roubo de estimado 750 mil obras de arte pelos alemães no período da guerra.
Quando Adolf Hitler tornou-se chanceler da Alemanha, uma das suas primeiras ações foi a "purificação da cultura alemã", isto é, queima de livros e rotulagem de arte degenerada. Arte degenerada para eles, seriam qualquer manifestação artística moderna. Qualquer artista, passado ou presente, que não foi visto como tendo sangue ariano foi considerado degenerado. O rótulo foi colocado em muitos pintores alemães modernos, como Ernst Kirchner, que foi considerado como degenerado e teve todas as suas obras vendidas ou destruídas. Kirchner viria a cometer suicídio em 1938. Adivinha quais artistas foram considerados degenerados e expostos como bárbaros para a arte? A lista vai de Alexander Archipenko, Marc Chagall, James Ensor, Henri Matisse, Pablo Picasso até Vincent van Gogh.
Uma das obras, considerada degenerada de Van Gogh, era o Retrato do Doutor Gachet. Essa obra foi roubada do museu Städel, em Frankfurt, e iria ser leiloada por uma bagatela, mas quando Hermann Göring, líder nazista, percebeu o valor da obra, decidiu vender e fazer um lucro pessoal.
Pense bem, não tem justificativa para um ato vândalo contra uma obra de arte. Aliás, vândalo, vem dos povos chamados vândalos que fugiram dos hunos para o norte da África. Controlavam o oeste do mar Mediterrâneo com suas frotas piratas e em 455, saquearam e destruíram obras de arte em Roma. Seu fim foi em 533, com a invasão dos bizantinos. Eram povos primitivos, com sons de um idioma gutural (sons produzidos pela garganta). O que havia de comum entre os dois? A ignorância perante toda discussão que um trabalho de arte quer passar. Ignorância, falta de informação, falta de discernimento...precisa justificar através da força, por que para os fundamentalistas é preciso censurar, impedir e destruir o direito de ver.
Pense por que você está concordando com isso ou não. Se você concorda, você está se posicionando a favor da destruição de monumentos como o Talibã faz detonando arte milenar, patrimônio da humanidade da mesma forma. Nesse momento, você está fazendo o mesmo que os nazistas fizeram com Picasso, nesse momento com Volpi, Portinari, Flávio de Carvalho, Ligia Clark, Alair Gomes e Adriana Varejão, artistas consagrados que estão numa temática de discussão sobre proposta que trate de diversidade, gênero, questões de comportamento, temáticas LGBT. O título que dá a exposição, chamada Teoria Queer ( que é  uma palavra inglesa, usada por anglófonos há quase 400 anos), que afirma que a orientação sexual  e a identidade de  gênero são o resultado de uma construção social.  Temas atuais até tratados em novelas. A intolerância e o ódio, tornam a exposição importante, pois mostra o quanto ainda estamos precisando de educação no nosso país. Educação que passa não só pelo comportamento, mas pelo gosto do aprender, do saber, do questionar, do discutir. Estamos sob a égide de um discurso moralista baseado na intolerância, no preconceito e na inveja. Tempos tristes.
Pense certo. O discurso moralista não ficou nem no debate, foi promovido para um ataque de ódio desenfreado, atacando obras com vandalismo sem consequência, como as igrejas fundamentalistas que atacam imagens de outros cultos e jogam pedras em seres humanos. O discurso moralista é provocado pelos mesmos que tem teto de vidro. Aqueles que clamam por não ter corrupção e são flagrados corrompendo. A índia é o país onde o Kama Sutra está instalado em todo país a milênios. O Templo Khajuraho é o lugar para a maioria das representações do tipo de orgia. Está lá escrito em Sânscrito até hoje intacto, sem destruição, para todo mundo ver, de criança a adulto. Michelangelo pintou a transa de Zeus com a rainha de Esparta Leda transfigurado em cisne. A temática é a mesma, mas estamos tranquilos perante a obra, que na época era transgressora e colocava os mitos em questão. Quem não gostou no período poderia tacar fogo na capela Sistina? Hoje uma referência e tema de estudos. Graças a ele, a ciência do estudo do comportamento está preservada. Temos referencias e elementos para debates. A falta de debates faz com que muitas religiões censurem o que você deve pensar ou não. E se você for ver, você encontra na Bíblia, incesto, degolamentos, adultérios, apedrejamentos, crucificações e até um extermínio em massa da humanidade. A menos que você queira viver em uma nova idade média, com fogueiras torrando aqueles que apenas se opõe ao discurso oficial ou dos moralistas de plantão. Prefiro pensar que esse episódio pode trazer um novo debate e possamos corrigir atitudes. Restringir o que eu ou você possamos ver, se chama censura. E só há uma atitude aceitável: ser contra o fim da exposição. Assim começa os estados de exceção.
Pornografia, mas pornografia mesmo, foi o lucro da instituição bancária no 1º semestre: R$ 4,615 bilhões, aumento de 33,2%, Maior da história.
Então pensem bem.



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