quinta-feira, 4 de maio de 2017

Pânico e circense


Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui. Se mede em metros? Sistema geométrico? Unidade Schrödinger? Nada disso. É o seu caráter, suas idéias e a nobreza dos seus ideais. Você poderia me perguntar sobre Napoleão por exemplo. Aquele baixinho invocado, tinha por volta de 1,69m. A média dos europeus naquela época era de 1,64m e seu maior (Maior?) Inimigo era Horatio Nelson que tinha seus ridículos 1,62m. Ou seja, pasmem, Napoleão era um gigante. Um gigante na altura e seus desejos de domínio mundial. Hoje, quantos gigantes em comparações mundiais conhecemos? Hoje, tirando o dream team do Los Angeles Lakers de 1980, consigo pensar apenas no Golias (que lutou contra David). Este teve uma passagem rápida na história e perdeu de um baixinho! Algumas figuras, de grande valor crítico, emocional, caráter, podem até não ter existido como no caso de Pitágoras ou Homero. Vários cientistas afirmam que suas obras foram feitas a várias mãos ao longo da história.
Seria bom em alguns momentos, podermos chegar a alguém de baixa estatura e falar para ela: “Acredito que você tenha uns três metros e quarenta! ” Isso, você contando a altura métrica dele mais a grandeza de seu ser, sua iluminação, seu caráter, amizade. Mas para isso acontecer, necessariamente, devemos conhecer a pessoa a ser medida. Precisamos de um certo tempo, convivência, risadas com cervejas artesanais. Uma dessas medições, poderia ser a hora do Pânico!
A hora do pânico. Ah esse momento único! É um recorte muito especial da pessoa. Esse momento de pavor que mexe com os nervos e parece que muda o comportamento de cada ser vivo no planeta, pode crescer ou apequenar. Seu momento derradeiro, onde cada um demonstra suas fraquezas e põe a prova decisões que podem significar a própria vida. Mesmo aquele camarada, que tem sua voz potente a lá Darth Vader, pode nesse momento gritar como uma menininha de 6 anos. Alguns chegam até a quebrar copos de cristal, a pelo menos quatro quilômetros. Imagine só!
Para não ficar apenas apontando o dedo para outras figuras, vou me incluir nesta explanação, contando um momento recente por que passei.
Estava eu em uma viagem ao norte do Rio, aprazível local no meio das matas, em uma confortável pousada, lotada de pessoas conhecidas. A cidade era pequena. Uma grande avenida era o local mais importante. É claro que você em um local novo, quer andar e conhecer o que podem oferecer de novidade para você. O detalhe a ser colocado, é que estava a pelo menos duas semanas com Chycungunha. Essa doença que impede sua vontade de se aventurar até mesmo para pegar o controle remoto na mesa logo a sua frente. Pois bem, andando com dificuldades pelas ruas da cidade turística, percebi que duas pessoas estranhas estavam logo atrás de mim. Em cidades estranhas você reconhece imediatamente que é local e visitante. Os locais são sempre impávidos com a paisagem. O visitante é sempre deslumbrado, andam como tartarugas e sempre estão vestidos de maneira inapropriada ao meio ambiente. Não chega a ser aquele americano vermelho com câmera a tira colo e bermuda de florzinha no calçadão do Rio, mas fica bem evidente sua vestimenta, não precisando ser uma Lilian Pacce para perceber a situação.
Pois bem, num instante para o outro, sem que se possa dizer a razão, surgiram outras figuras estranhas seguindo a minha figura. Quando vieram mais 3 ou 4 na minha frente, gelei. Deu aquele frio na espinha subindo até a nuca e o suor frio. Me pus imóvel, como na maioria das situações para não desaguar qualquer reação imediata. No total pareciam uns 7, mas na minha visão de temor eram 40.  A princípio todos se entreolhavam. Tinham semblantes de nordestinos que estavam imigrando para ganhar a vida de alguma forma em outro estado. De qualquer forma, me senti como a galinha do Cidade de Deus. Conseguia ouvir até a trilha sonora de Antônio Pinto na minha cabeça.
Respirei um pouco nesse meio tempo e consegui averiguar que eram apenas 7 e não 40. Consegui perceber que algumas pessoas corriam ou atravessavam a rua. Meu coração parecia que pulava pela boca, mas o silencio era mais alto.
Tudo foi muito rápido. Mas é claro que posso estar enganado, afinal, nesse momento tudo passa muito rápido ou como Neo se desviando das balas em Matrix. De qualquer forma, pensem: Interior bucólico de um vilarejo no Rio, eu com Chycungunha, 7 estranhos em volta, ninguém nas redondezas, feno rolando na Avenida principal, olhares espantados nas casas entre as persianas e pânico.
E aí tomei a decisão.

Comprei todas as lembrancinhas do local que estavam vendendo, inclusive rede de dormir para dois. 

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