Chorei. Mas chorei muito no domingo, com a impotência quanto
a queima da memória, no incêndio do Museu Histórico Nacional, na Quinta. Esforcei-me
para ser firme e conciso, mas confesso que tive muitas dificuldades. Fui tomado
por emoções muito fortes, entre tristeza, indignação e raiva. Agora, tomado
pelo luto, posso tecer esses pensamentos.
Não podemos falar que foi acidente. Acidente são essas
instituições ainda existirem. Acidente é ainda existir museu no Brasil.
Acidente é ainda existir universidade. O descaso com a nossa memória e a
importância dos bens materiais e imateriais perdidas não tem tamanho. E podemos
dimensionar isso, nas frases de nossos governantes no rescaldo do incêndio. O
prefeito falando em reconstrução do palácio, como se o que tinha dentro não
tivesse a menor importância. Olham para o Museu e veem apenas o prédio onde
morou a Família Real. A preocupação era apenas com o projeto físico. Parte dos
candidatos à presidência defendem a extinção do Ministério da Cultura, e até
fala de ministro atual falando que história não serve para nada. Lembrando que
o atual governo congelou os gastos e extinguiu o Ministério da Cultura, e sob
pressão reativou novamente, mas tirou um orçamento que era de 500 mil para 50
mil em manutenção. Quando um governo corta verba, é esse dinheiro que falta
também para a segurança, prevenção de incêndios em seus prédios.
Tragédia é quando cai um raio, isso foi um crime.
Tudo que é público está sendo destruído. Até a nossa
história. Esse desmonte provocado por
uma política Neoliberal nervosa, pretende transformar tudo que é público em
privado. A receita é simples: Diminui as verbas, sucateia ao máximo e vende,
através da imprensa, a idéia que tudo que é público é ruim. A noção de parte da
população comprando esse marketing é vergonhosa, pois cria através de ódio, uma
parte da população fazendo piadas com o ocorrido. Além dessa precariedade,
promovida por baixos investimentos que foram minguando ao longo de vários
governos, este deu o golpe final. E como se não bastasse, não havia água, os
bombeiros não chegaram a tempo e tinha poucos equipamentos. Lembrando que o
museu do Louvre, que passou por guerras mundiais, tem uma brigada de incêndio
dentro do próprio museu, onde apenas os mais qualificados podem exercer a
função, é público.
Questão de prioridade.
Exatamente uma semana depois do incêndio que acometeu as
terras do Xingu, essa tragédia vem reforçar não só o desmonte intencional da
cultura, mas do nosso passado, total abandono de um Governo pautado pelo total
desprezo a cultura e ciência.
O medo da cultura nos governantes é imenso. O saber pode
interferir no projeto de poder neoliberal. Devemos ter nosso direito à cultura
como prioridade. A noção de direitos culturais é a que vincula à Cultura. O
termo cultura tem origem no latim colere, que significa cultivar, tratar,
cuidar de. Seu uso remete à agricultura e à instrução dos indivíduos. Deu
origem aos termos: alemão (Kultur) e francês (civilization). Trata-se de uma
palavra polissêmica.
Guy Debord, acredita que a arte se confundiu com mercadoria
e, portanto, perdeu qualquer pertinência ou identidade autônoma. A história da
arte, sendo um discurso institucional, (universitário ou museológico) funciona
também como um discurso social, auxilia a formar percepções da realidade. Segundo
Ana Paula Paes de Paula, no Brasil, “devido à tradição patrimonialista, os
empregos e benefícios que se auferem do Estado costumam estar ligados aos
interesses pessoais e não aos interesses públicos” (Paula. 2005.p.106)
encontramos, ainda hoje, essas práticas patrimonialistas na área pública. Por
que não havia água no local? Foi fechado pelo prefeito para não juntar mendigos.
Na sua visão, o que era mais importante do que proteger o patrimônio. Afinal, o
que esperar de alguém que despreza a idéia de existência de dinossauros?
Não basta destruir o Brasil, tem que acabar com a memória
também! Ver o Museu Nacional queimando é simbólico para um país que odeia
ciência e sua própria história.
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