Alguns medos que tinha na infância, consegui ao longo dela,
sanar enfrentando. Tenho timidez. Quando adolescente, precisava resolver
rapidamente ou então iria vislumbrar um futuro solitário muito angustiante. Me
expor era a solução. Queria sempre falar na frente do quadro negro, tirar
dúvidas na frente dos colegas e tirar as meninas para dançar ao som de música
lenta, por mais que o suor fosse um entrave, as pernas tremessem diante do
desafio ou as palavras que poderiam ser as certas, não fossem usadas na hora.
Isso não aconteceu com a minha acrofobia. Vou a lugares
altos para aquele momento de vislumbrar o infinito, onde algumas pessoas tem o
impulso de se atirar a imensidão, mas perto da borda, tudo vem abaixo. Abaixo
não, pois o medo é esse. Sempre morei em casa. Minha vida toda foi na planície.
Hoje, por circunstancia financeira, fui para um prédio, e adivinhem? Segundo
andar.
As comodidades de um prédio, em uma avaliação preliminar,
são ótimas. Mas me assola sempre algumas tragédias que marcaram minha vida de
uma forma ou de outra. Quando criança, vi as reportagens sobre o incêndio no
Joelma e os desdobramentos sobre as vítimas. Foi muito impactante aquelas cenas
de pessoas encurraladas no alto do prédio indo de um lado ao outro sem escapatória.
Isso verdadeiramente me assola. Tenho exercitado meu desapego material
constantemente, que posso dizer de passagem foi prejudicial para min, mas me
lembro do prédio que caiu na Barra da Tijuca, o Palace II, que completa 20 anos
e caiu como se fosse feito de areia (e foi). Muitos perderam tudo nessa
tragédia. Menos o dono do empreendimento. Ressarcimento? Não existiu e até hoje
as famílias brigam pelos seus direitos.
O que aprendemos com esse caso? Apenas que o sistema é mais
importante. Quem tem põe e quem não tem, continua não tendo. Você pode
superfaturar obras, desviar dinheiro, comprar juízes, fazer prescrever o
julgamento e continuar sua vida, desde que pague muito por isso. O dinheiro faz
com que o problema de moradia, o sonho de quem juntou por muito tempo, se torne
em vão. Afinal, O menos importante na cadeia da construção, é quem vai comprar.
Pode parecer ilógico, mas se você pode pegar até 40% do valor do produto da
construção, para que 100%? Recentemente, uma comunidade própria precisava de
uma ponte. Precisavam muito. A prefeitura fez o orçamento e descobriu que teria
que desembolsar três milhões para realizar. Os moradores, aqueles que realmente
iriam usufruir do produto, construíram, a sua maneira, com seus recursos, uma
ponte pelo valor real de cinco mil reais.
Não podemos achar, que tudo deve ser baseado em valores
monetários. Que o mais importante é o mercado, afinal, grande parte de nossas
vidas está marcada por questões que não deveria pensar como cifrões. Nunca
poderiam estar associadas a isso. Educação e saúde, são uma delas. Mas o
simples fato, de toda ação ser pensada com base no dinheiro, traz o pior de
nossas ações na Terra. Você pode colocar um valor final para um produto,
outros, vão passar por cima ou tirar a vida de outro ser humano se esse estiver
na frente do seu lucro. Tesla, tinha como dar energia infinita e sustentável
para as locomoções dos seres humanos. Contraria o capitalismo? Sim. Os donos de
energia fóssil, donos de postos de gasolina, empresas de prospecção de petróleo,
enfim, uma cadeia imensa de usurpadores que vivem de usurpar o dinheiro do
próximo e acabar com o ar e os mananciais da Terra. Mas o lucro vem na frente.
Em São Paulo ocorre o mesmo com algumas áreas, terrenos de
interesse imediato e futuro. Sempre se vê comunidades perdendo tudo em
incêndios, e eles mesmos são vitimados pelos governos e imprensa. Quando
começamos a culpar aqueles que estão lutando por moradia, é porque estamos em
uma sociedade que tem o dinheiro como principal valor dela. Já existiam
projetos residenciais novos para aquela região. A necessidade de reação pela
força pelos poderosos, nos dá conta de nossa origem dos Barões do café.
Quem dará vozes a tantos que já perderam tanto em busca de
moradia e emprego, contra uma forte especulação imobiliária? Silêncio.
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