No nosso mundo capitalista, achamos que conhecemos nossos
chefes. Mas será que conhecemos? Quando começamos um trabalho novo, estimulados
por uma nova aventura, novos amigos, novos desafios, excitado com as novidades,
somos chamados através de uma pessoa, que, com certeza, está acima da gente no
primeiro momento. Ela, naquele momento, será a pessoa que estará acima de você,
seu chefe direto. Aquele que ficará perto de sua baia, diretamente de olho na
sua performance. A avaliação é direta. Ele poderá dar notas inclusive de suas
piadas, se serão clássicas, se tem teor de baixo calão ou são frescas no mundo
das piadas. Você eventualmente o encontrará na fila do café ou no banheiro,
onde verá se você exagerou no almoço ou se lava as mãos antes de sair. Aquele
que pode ser um colega a mais de trabalho, pode ser também um x-9 a mando de
seu chefe. Logo, o verdadeiro chefe está acima do chefe imediato.
Geralmente o chefe do chefe, tem uma sala própria. Um
refúgio para uns, um bunker para outros. Sua mesa está tão cheia e confusa
quanto de seu subalterno, que possui uma mesa menor, mas o mesmo tanto de
folhas, avaliações, documentos e trabalhos por completar. De vez em quando, o
vemos andando pelo setor com cara feliz. Não se engane. É um velho truque
apache. Ele entende que a pressão do trabalho precisa ser esvaziada dando um
pulo nos setores ao lado e ver o quanto o chefe subalterno pode elogiar sua
gravata e assim, ele pode voltar ao seu posto mais tranquilo com um elogio
vazio. Então devemos temer não o chefe direto, mas aquele que eventualmente
aparece em seu setor? Claro que não. Um chefe não teria tantas incumbências
numa mesa, acreditem. Logo, o verdadeiro chefe está acima do chefe de setor.
Geralmente o chefe do chefe de setor, é o dono da companhia,
que nem fica no mesmo andar. Não quer contato com ninguém. Não se mistura e nem
faz contato de ter olho do olho com ninguém da firma. Se sente melhor isolado
para poder pedir a cabeça de não de um, mas de vários ao mesmo tempo para
demitir. Contato mesmo apenas com sua secretária e pelo interfone. Evita de ir
de carro, afinal, tem seu motorista particular. Sua mesa é enorme e geralmente
não tem folhas ou obrigações em cima dela, afinal, quanto maior a mesa e sua
superfície limpa, maior a hierarquia. Até o interfone pode ser sinal de
fraqueza, sendo substituída hoje pelo Whatsapp. Afinal de contas, quem
realmente manda não precisa se intercomunicar. Então devemos temer não o chefe
direto, não o chefe do chefe, mas aquele que não é visto na empresa, mas tem um
andar só para ele? Claro que não. Um chefe não teria nem uma mesa, acreditem.
Logo, o verdadeiro chefe está acima do presidente da empresa.
Geralmente o chefe do presidente são os acionistas. O
verdadeiro chefe dispensa qualquer símbolo de autoridade. Não possui nem mesa.
Aquele que trabalha, mesmo que pouco, não pode ser considerado de chefe. Esses
seres que ninguém conhece, aparentes donos do mundo, pisando em tapetes
vermelhos, estão em algum lugar da Riviera francesa. Estão jogando tênis na
Antuérpia, em uma mesa, mas uma mesa regada a pretzel assinada pelo chef Frank
Tujague, do hotel Westin com um Whisky Jubileu
de Diamante 13. Quando quer alguma coisa, nem levanta o rosto de seu laptop e
grudunha alguma coisa mesmo e seu lacaio providencia imediatamente. Então
devemos temer não o presidente da empresa, mas aquele que você não sabe nem que
existe na face da Terra? Claro que sim, mas não de uma maneira física. Um chefe
não teria a morte como ponto final de sua vida de riquezas infinitas. Logo, o
verdadeiro chefe está acima de todos os seres mortais: Deus.
E assim, a cadeia chega ao seu fim, verificando que ninguém
é seu chefe maior que Deus. Tenho um sonho às vezes que me toma, que seria
encontrar com Deus, em seu plano e ele estaria atrás de uma mesa, cheio de
diagramas e relatórios milenares e num momento de espontâneo nervosismo, iria
gritar:
- Quem pegou meu celular?
Nesse momento, sem querer, iria derrubar o café com creme
sobre os processos e um cinzeiro cheio de bitucas, quando ao som de seu toque
em canto gregoriano, acha seu celular e fala com sua secretária:
- Dona Juliete, não estou para ninguém. Só para o Francisco!
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