Já pensaram em um período onde obras de arte são destruídas,
apenas por que não estão dentro do padrão de um grupo de pessoas ou que não
concordam com que está exposto? Não estamos falando dos Hunos ou Talibãs.
Estamos falando de Brasil. Hoje. Vamos primeiro recordar, que não se trata da
temática, pois em outros tempos, tivemos a mesma situação.
No período do nazismo, Serena Lederer, um mecenas de arte, colecionou
catorze das pinturas de Gustav Klimt. O artista era um grande simbolista
austríaco, que tem, entre suas obras, uma famosa pintura retratando um beijo. Lederer
enviou sua coleção ao Museu Immendorf Schloss para se manter seguro neste
período. Porém, o partido nazista resolveu incendiar o museu. Não só a coleção,
mas outros trabalhos de um período de 1898 e 1917, assim como afrescos no teto
do museu foram destruídos. Isto tendo Hitler como pintor amador e amante das
belas artes, além de estimado cerca de registrado o roubo de estimado 750 mil
obras de arte pelos alemães no período da guerra.
Quando Adolf Hitler tornou-se chanceler da Alemanha, uma das
suas primeiras ações foi a "purificação da cultura alemã", isto é,
queima de livros e rotulagem de arte degenerada. Arte degenerada para eles,
seriam qualquer manifestação artística moderna. Qualquer artista, passado ou
presente, que não foi visto como tendo sangue ariano foi considerado
degenerado. O rótulo foi colocado em muitos pintores alemães modernos, como
Ernst Kirchner, que foi considerado como degenerado e teve todas as suas obras
vendidas ou destruídas. Kirchner viria a cometer suicídio em 1938. Adivinha
quais artistas foram considerados degenerados e expostos como bárbaros para a
arte? A lista vai de Alexander Archipenko, Marc Chagall, James Ensor, Henri Matisse,
Pablo Picasso até Vincent van Gogh.
Uma das obras, considerada degenerada de Van Gogh, era o
Retrato do Doutor Gachet. Essa obra foi roubada do museu Städel, em Frankfurt,
e iria ser leiloada por uma bagatela, mas quando Hermann Göring, líder nazista,
percebeu o valor da obra, decidiu vender e fazer um lucro pessoal.
Pense bem, não tem justificativa para um ato vândalo contra
uma obra de arte. Aliás, vândalo, vem dos povos chamados vândalos que fugiram dos hunos para o norte da África. Controlavam o oeste
do mar Mediterrâneo com suas frotas piratas e em 455, saquearam e destruíram obras
de arte em Roma. Seu fim foi em 533, com a invasão dos bizantinos. Eram povos
primitivos, com sons de um idioma gutural (sons produzidos pela garganta). O que havia de
comum entre os dois? A ignorância perante toda discussão que um trabalho de
arte quer passar. Ignorância, falta de informação, falta de discernimento...precisa
justificar através da força, por que para os
fundamentalistas é preciso censurar, impedir e destruir o direito de ver.
Pense por que você está concordando
com isso ou não. Se você concorda, você está se posicionando a favor da
destruição de monumentos como o Talibã faz detonando arte milenar, patrimônio
da humanidade da mesma forma. Nesse momento, você está fazendo o mesmo que os
nazistas fizeram com Picasso, nesse momento com Volpi, Portinari,
Flávio de Carvalho, Ligia Clark, Alair Gomes e Adriana Varejão, artistas
consagrados que estão numa temática de discussão sobre proposta que trate de
diversidade, gênero, questões de comportamento, temáticas LGBT. O título que dá
a exposição, chamada Teoria Queer ( que é uma palavra inglesa, usada por anglófonos há
quase 400 anos), que afirma que a
orientação sexual e a identidade de gênero são o resultado de uma construção
social. Temas atuais até tratados em novelas. A
intolerância e o ódio, tornam a exposição importante, pois mostra o quanto
ainda estamos precisando de educação no nosso país. Educação que passa não só
pelo comportamento, mas pelo gosto do aprender, do saber, do questionar, do
discutir. Estamos sob a égide de um discurso moralista baseado na intolerância,
no preconceito e na inveja. Tempos tristes.
Pense certo. O
discurso moralista não ficou nem no debate, foi promovido para um ataque de
ódio desenfreado, atacando obras com vandalismo sem consequência, como as
igrejas fundamentalistas que atacam imagens de outros cultos e jogam pedras em
seres humanos. O discurso moralista é provocado pelos mesmos que tem teto de
vidro. Aqueles que clamam por não ter corrupção e são flagrados corrompendo. A
índia é o país onde o Kama Sutra está instalado em todo país a milênios. O Templo Khajuraho é o lugar para a maioria das representações do tipo
de orgia. Está lá escrito em Sânscrito até hoje intacto, sem destruição, para
todo mundo ver, de criança a adulto. Michelangelo pintou a transa de Zeus com a
rainha de Esparta Leda transfigurado em cisne. A temática é a mesma, mas
estamos tranquilos perante a obra, que na época era transgressora e colocava os
mitos em questão. Quem não gostou no período poderia tacar fogo na capela
Sistina? Hoje uma referência e tema de estudos. Graças a ele, a ciência do
estudo do comportamento está preservada. Temos referencias e elementos para
debates. A falta de debates faz com que muitas religiões censurem o que você
deve pensar ou não. E se você for ver, você
encontra na Bíblia, incesto, degolamentos, adultérios, apedrejamentos,
crucificações e até um extermínio em massa da humanidade. A menos que você
queira viver em uma nova idade média, com fogueiras torrando aqueles que apenas
se opõe ao discurso oficial ou dos moralistas de plantão. Prefiro pensar que
esse episódio pode trazer um novo debate e possamos corrigir atitudes.
Restringir o que eu ou você possamos ver, se chama censura. E só há uma atitude
aceitável: ser contra o fim da exposição. Assim começa os estados de exceção.
Pornografia, mas pornografia
mesmo, foi o lucro da instituição bancária no 1º semestre: R$ 4,615 bilhões,
aumento de 33,2%, Maior da história.
Então pensem bem.