quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Chores por mim

Nada contra as grandes reportagens de atentados que dizimam dezenas de pessoas, como no caso do atirador solitário nos Estados Unidos. Mas não posso deixar de pensar o quanto a sociedade é seletiva e somos obrigados a sentir pena, apenas de nossos colonizadores e seus aliados. Essa mesma sociedade que escolhe quem se comover ou não. Me vem a imagem nesse momento do filme Laranja mecânica, de Stanley Kubrick. Nele, é apresentado a tentativa de reabilitação através do condicionamento psicológico. E agora, imagino uma grande turba, sendo recondicionada a ver e concordar com apenas com o que está sendo vendida para eles.
Esse preambulo todo para dizer o quanto quase 300 mortos na Somália, não mereceu nota em algum jornal, transmissões ao vivo, discussão com especialistas ou espaço para discussão sobre os rumos da explosão de violência por grupos terroristas e seus desdobramentos. Nada. Você percebe o quanto você nem se importa com isso, desde que não seja em Londres ou Paris? Na época dos milhares de imigrantes invadindo a Europa fugindo das guerras e como foram tratados e estão sendo nesse momento, não levou a lágrimas sequer da imprensa ocidental. Não nos movemos nem ao mesmo em apoio pessoal nas redes sociais, mostrando não só essa seleção, mas no mínimo, empatia com a tragédia por outros seres humanos. Nada.
Muitos até podem muito bem dizer que atentado na África é todos os dias, com fome, pobreza extrema, guerra civil, extermínio entre outros interesses econômicos, daí seu desinteresse por parte da imprensa no país. África não dá audiência nem gera comoção. Ela sofre em silêncio sempre! Que tipo de seres que dizemos ser que pede ajuda ao próximo e se diz religioso, quando não abraça qualquer irmão sem ver raça ou credo? A cada ser humano morto corresponde uma biografia, uma história. Ao contrário do atentado nos EUA, que morreram dezenas de pessoas porque o caçador acertou o tiro em uma população branca, a razão para não se emocionarem com a população afro parece complicada, mas é simples: Seletividade.
Até o momento, a única demonstração de solidariedade internacional foi de Paris, onde a Torre Eiffel foi desligada em respeito ao acontecido. É o bastante? Está longe. Muito longe. Precisamos de Je Suis Mogadishu! Meu coração se parte e nenhuma celebridade internacional fala sobre isso, nenhuma nota é divulgada e não é possível ter a notícia comentada nas redes sociais. Daí você entende por que a extrema direita está crescendo pelo mundo, com sua intolerância e por vezes não se importando com a dor dos mais fracos e oprimidos, pelo contrário até querendo que dizimem todos do continente. Não se esqueçam: Toda vida é importante.
Por outro lado, é preciso coragem e sangue frio para abater a pobreza no país. A Somália está envolta em uma crise política sem precedentes, com a milícia Al Shabaab, um grupo islâmico ligado à rede terrorista Al Qaeda, que costuma escolher seus alvos em Mogadíscio, está envolvida no atentado e em guerra direta aos grupos que tentam controlar o poder, onde desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi destituído e deixou o país sem governo. As secas agravam a fome neste local que já foi considerado o país mais pobres do mundo. Porque tanto interesse em dizimar um país e que ele não apareça nas grandes mídias? Itália, França e Reino Unido sempre disputaram o pais pela sua importância estratégica e comercial. O porto mais próximo da Índia e parte da Ásia. Haviam Sultões e era um país próspero, mas os interesses comerciais estavam acima da população, que sempre resistiu com levantes constantes a usurpação de suas riquezas e dominação. Atualmente a guerra civil para o controle do país está dizimando o que resta da já castigada nação.   
Por um mundo onde possamos realmente conviver com o próximo, com amor no coração, respeitando o ser humano é que eu peço nesse momento:

Solidariedade às vítimas na Somália.

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