Nada contra as grandes reportagens de atentados que
dizimam dezenas de pessoas, como no caso do atirador solitário nos Estados
Unidos. Mas não posso deixar de pensar o quanto a sociedade é seletiva e somos
obrigados a sentir pena, apenas de nossos colonizadores e seus aliados. Essa
mesma sociedade que escolhe quem se comover ou não. Me vem a imagem nesse
momento do filme Laranja mecânica, de Stanley
Kubrick. Nele, é apresentado a tentativa de reabilitação através do
condicionamento psicológico. E agora, imagino uma grande turba,
sendo recondicionada a ver e concordar com apenas com o que está sendo vendida
para eles.
Esse preambulo todo para dizer o quanto quase 300
mortos na Somália, não mereceu nota em algum jornal, transmissões ao vivo,
discussão com especialistas ou espaço para discussão sobre os rumos da explosão
de violência por grupos terroristas e seus desdobramentos. Nada. Você percebe o
quanto você nem se importa com isso, desde que não seja em Londres ou Paris? Na
época dos milhares de imigrantes invadindo a Europa fugindo das guerras e como
foram tratados e estão sendo nesse momento, não levou a lágrimas sequer da
imprensa ocidental. Não nos movemos nem ao mesmo em apoio pessoal nas redes
sociais, mostrando não só essa seleção, mas no mínimo, empatia com a tragédia
por outros seres humanos. Nada.
Muitos até podem muito bem dizer que atentado na
África é todos os dias, com fome, pobreza extrema, guerra civil, extermínio
entre outros interesses econômicos, daí seu desinteresse por parte da imprensa
no país. África não dá audiência nem gera comoção. Ela sofre em silêncio
sempre! Que tipo de seres que dizemos ser que pede ajuda ao próximo e se diz
religioso, quando não abraça qualquer irmão sem ver raça ou credo? A cada ser
humano morto corresponde uma biografia, uma história. Ao contrário do atentado
nos EUA, que morreram dezenas de pessoas porque o caçador acertou o tiro em uma
população branca, a razão para não se emocionarem com a população afro parece
complicada, mas é simples: Seletividade.
Até o momento, a única demonstração de
solidariedade internacional foi de Paris, onde a Torre Eiffel foi desligada em
respeito ao acontecido. É o bastante? Está longe. Muito longe. Precisamos de Je Suis Mogadishu!
Meu coração se parte e nenhuma celebridade internacional fala sobre isso,
nenhuma nota é divulgada e não é possível ter a notícia comentada nas redes
sociais. Daí você entende por que a extrema direita está crescendo pelo mundo,
com sua intolerância e por vezes não se importando com a dor dos mais fracos e
oprimidos, pelo contrário até querendo que dizimem todos do continente. Não se
esqueçam: Toda vida é importante.
Por outro lado, é preciso coragem e sangue frio
para abater a pobreza no país. A Somália está envolta em uma crise política sem
precedentes, com a milícia Al
Shabaab, um grupo islâmico ligado à rede terrorista Al Qaeda, que costuma
escolher seus alvos em Mogadíscio, está envolvida no atentado e em guerra
direta aos grupos que tentam controlar o poder, onde desde 1991, quando o
ditador Mohamed Siad Barre foi destituído e deixou o país sem governo. As secas
agravam a fome neste local que já foi considerado o país mais pobres do mundo.
Porque tanto interesse em dizimar um país e que ele não apareça nas grandes
mídias? Itália, França e Reino Unido sempre disputaram o pais pela sua
importância estratégica e comercial. O porto mais próximo da Índia e parte da
Ásia. Haviam Sultões e era um país próspero, mas os interesses comerciais
estavam acima da população, que sempre resistiu com levantes constantes a
usurpação de suas riquezas e dominação. Atualmente a guerra civil para o
controle do país está dizimando o que resta da já castigada nação.
Por um mundo onde
possamos realmente conviver com o próximo, com amor no coração, respeitando o
ser humano é que eu peço nesse momento:
Solidariedade às vítimas na Somália.
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