Várias coisas que faço caíram em
desuso. Gosto de desenhar em papel, dar bom dia para todos, Assistir TV e falar
de carnaval. Antes, assim como o futebol que temos 200 milhões de técnicos,
também tínhamos a mesma proporção de carnavalescos. Sabe a história de chover
no molhado? Pois bem, era com chover no Oceano Atlântico. Tudo o que envolve o
Carnaval é muito gostoso e ainda um dia, tenho pretensão de organizar um
desfile, mesmo que em uma escola pequena. E antes, o imaginário sobre isso
acalentava todos os seres humanos do planeta. Todos querem estar nesse clima de
escola. De samba, naturalmente.
Muitos julgam conhecer, e por vezes
se acham formado em samba e carnaval. O senso comum americano, acha que somos
todos Carmem Miranda. Até o recente saudoso Jerry Lewis, fez o filme Morrendo
de medo, de 1953, cantando, vestido da nossa pequena notável, Mamãe eu quero! O
carnaval foi inventado em Sodoma, aperfeiçoado em Gomorra e dominado pelo Rio
de Janeiro, mas propriamente na Lapa. Tudo começa a ser organizado em 1893,
pasmem, pela elite carioca que decidiu se
afastar do passado lusitano e flertar a aproximação com as novas potências
capitalistas. Mas nosso genoma popular fala mais alto e se tornou uma festa de
todos, sem distinção de raça e condições sociais, deixando aquela Galeria
Alaska sair de dentro de todos, pelo menos por 5 dias.
Os blocos de rua estão tomando folego nos
últimos anos, tendo para todos os gostos. Blocos infantis, blocos LGBTs, blocos
em homenagem a um cantor ou grupo de rock, bloco dos famosos, além dos
tradicionais com mais de 100 anos e que hoje arrastam milhares de foliões para
além do manto diáfano da fantasia. Isso, deu força para o fortalecimento do
samba de raiz e a adoração dos mais novos pelo gênero, principalmente nas
composições de Agepê; Alberto Lonato;
Anescarzinho do Salgueiro; Aniceto do Império; Antônio Rufino; Ataulfo Alves; Beto sem Braço; Candeia;
Cartola; Casquinha da Portela; entre outros. Não posso esquecer de nomes como Clara Nunes; Cláudio Camunguelo e Clementina
de Jesus, que somado a algumas doses de cevada, podem deixar de passar os dias
vendo as lindas mulatas para ver bem de perto os mulatos fungando no seu
cangote, numa cela abarrotada de gente.
As experiências de uma avenida
são únicas, tanto desfilando, quanto na arquibancada. No desfile, você perde a
noção de tempo e espaço. Algo que os grandes cientistas podem estudar esse
fenômeno quântico, afinal, o desfile demora um pouco mais de uma hora, mas para
quem está no chão é uma eternidade. O paradoxo mais lindo do planeta. Já na
arquibancada, está presente, muitas bandeiras, torcidas inflamadas. Choros e
lágrimas, regadas a odores variados como feromônios, suores, lança-perfumes e
da menina da zona sul com seu indefectível Chanel número 5. A portela ganhando
estará tudo azul, se ganhar a esperança será a Império. Agora se ganhar a Verde
e rosa…será a verde e rosa! Contenção na prosa, mas quando a mangueira entra
(sem duplo sentido), tudo para. Ponto de fusão e ebulição
juntos com o velho cisco no canto do olho. Tudo é esquecido também. Aliás, onde
ficou minha carteira?
Como falei antes, várias coisas que faço caíram em desuso. Uma
delas, o charmoso e intrigante, desfile das fantasias. Antes, no começo do
século, eram populares as fantasias na rua como caveira, odalisca, malandro, diabo, príncipe, bobo da corte,
pierrô, colombina, vedete e palhaço. O Pierrô, o
Arlequim e a Colombina são personagens da Commedia dell’Arte italiana nascidos
no século XVI e foram muito bem incorporados a realidade brasileira. Afinal de
contas, mais de mil palhaços no salão, o Arlequim está chorando pelo amor da
Colombina no meio da multidão.
Acordei com saudades do carnaval, é verdade. Tenho a verve
do Rock e MPB nas veias, mas quem pode resistir a esse clima. Eu sei que minha
vida poderia ser enredo de uma tremenda letra de samba. Mas isso é outra
estória. Mesmo tentando fugir para
descansar e não participar da festa da carne, você acaba vendo os desfiles pela
TV, participando de alguma forma dos climas nas ruas e ficando em família,
rindo tudo que poderia rir nesse período. E quantas lembranças colecionamos? Me
falta Savoir Faire nesses momentos.
Amanhã já poderia ser carnaval.
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