Qual a vantagem de defender um ponto de vista e negar esse próprio ponto de vista? Mas não é negar como em uma tese, onde a contra argumentação é importante nos textos dissertativos, pois mostra o ponto de vista oposto, gerando debates sobre o tema proposto. Mas como geramos debate ontem. Ernesto Araújo, assim como Fabio Wajngarten, assumiu que podem falar qualquer coisa para se livrarem de uma repreensão pública, mesmo com vídeos na rede, textos escritos e publicados e twittes debatidos. Vitor Hugo teria dito: “ Mentir é maldade absoluta. Não é possível mentir pouco ou muito; quem mente, mente. A mentira é a própria face do demônio”.
Como disse uma amiga, adolescente gosta de namorar, mas
adulto gosta mesmo é da CPI. É como um bom seriado que as sextas acabam para
retornar com novos episódios na terça seguinte. E Ernesto Araújo superou personagens
como FLETCHER REEDE, de O mentiroso (papel clássico de Jim Carrey), a família
inteira de dissimulados, no filme de Bong Joon-Ho e aquele que achava que
o final poderia ser glamoroso, Frank Abagnale; personagem de Leonardo DiCaprio
em Prenda-me se for capaz. Em 116 anos do cinema mundial, o enredo escrito
pelos ouvidos desse governo na CPI estaria no top 10 do gênero mentiras. E com
direito a ter medo de ir ao banheiro e perder, por exemplo, a fala de Kátia
Abreu.
Claro que temos ressalvas. Mas é que estamos tão carentes,
no meio de uma pandemia com um governo de extrema-direita ceifando vidas, que
qualquer fala bem dada é uma glória na alma. Randolfe Rodrigues mostrou que
Ernesto Araújo sabotou o consórcio Covax Facility. O ex-ministro não se abalou
em suas expressões faciais sobre isso. Pode ser que debaixo da máscara esteja
rangendo os dentes, mas nunca saberemos. Mas o que esperar de alguém que
acredita na Terra plana e que temos um vírus comunista que quer implantar a
semente do comunismo na corrente sanguínea? É fácil citar dados falsos sobre
China, consórcio de vacina e OMS. Falar que fizeram tudo ao alcance e se
verifica que não fizeram, nem um mínimo telefonema para a Venezuela para
agradecer o empenho na doação de oxigênio para a crise em Manaus.
Meu problema é que sou afeito a um gosto refinado, devido a
muita leitura na juventude. Mas como a fala de Abreu e sua motosserra giratória
nos representa nessa hora, independente
de um respeito ao mentiroso. "O senhor foi uma bússola que nos
direcionou para o caos, para um iceberg, para o naufrágio da política externa
brasileira". Foi o resumo que precisava terminar meu dia de CPI. A
compulsão pela mentira, não vai desviar a conclusão dos fatos, pois as provas
são robustas. Nesses casos, não adianta a tese de que não fui eu, mas meu eu
lírico; quando sempre chamou a COVID de comunavírus e fala que não houve atrito
com a China.
O poeta Alexander Pope disse: Errar nos torna humanos,
admitir o erro e pedir perdão deveria nos tornar divinos. No entanto,
políticos da gestão Bolsonaro não aceitam o peso de seus equívocos. Achavam que
esse dia nunca chegaria. Que poderiam fazer o que quisessem sem serem marcados
como, no mínimo, incompetentes. Até uma determinada época, onde testaram
limites, como das falas nazistas do primeiro secretário de cultura, achavam que
o forte apoio de setores da população daria suporte para todas as suas medidas
inconsequentes. Querem transmitir uma imagem de absoluta eficácia, sem existir
e precisam da mentira para que seu público possa dar suporte nas redes sociais
com a falsa ilusão de que estava sofrendo ataques injustos e que teria suporte
sempre. Ledo engano.
Por que Ernesto não defende suas convicções na CPI? E para
não dizerem que é uma fala de esquerda, aponto que no livro O Liberalismo
Politico, de John Rawls, mostra sua teoria que admite que as pessoas, no âmbito
da vida privada, tem “afetos, devoções e lealdades dos quais elas
acreditam que não poderiam, ou na verdade não deveriam, afastar-se (…) As
pessoas podem achar simplesmente inimaginável viver sem determinadas convicções
religiosas, filosóficas e morais ou sem determinados apegos e lealdades duradouros.”
Rawls ainda orienta: “Para saber se estamos seguindo a razão pública, devemos
perguntar: Como veríamos nosso argumento se ele nos fosse apresentado como uma
opinião da Suprema Corte?”
Aguardemos os próximos capítulos da CPI.
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