O humorista Benett se lembrou da frase que o Betinho disse
para seu irmão Chico Mário quando Henfil morreu: "Hoje foi ele. Amanhã
serei eu, e depois você. Vamos para casa". Estamos inebriados,
diariamente, perdendo familiares, amigos e pessoas que admiramos. Tínhamos a
obrigação de enfrentar a pandemia com mais seriedade, mas nada disso está sendo
possível com um governo negacionista. Quando perdemos uma luz como Paulo
Gustavo, ela representa um despertar naqueles que estavam em estado catatônico
ou em sua bolha de proteção, para a realidade que nos assola diariamente com
mais de três mil mortos por dia no país. Paulo Gustavo lutou quase dois meses,
com todas as possibilidades financeiras de travar uma batalha que poderia ser
ganha, mas a Covid não escolhe classe social. Por esse motivo, a vacinação é a
única resposta.
Paulo Gustavo era um ator fabuloso. Elevou a cidade de
Niterói com o humor característico da cidade para o Brasil. Quantas vezes eu
esbarrei com o ator no Campo de São Bento, bem cedo, com seu sorriso
característico. Curiosamente, perdemos em 4/05/20 Aldir Blanc, e agora em
4/05/21 Paulo Gustavo. Entre um e outro, nada foi feito nesse caos da saúde
para que não tivéssemos que chorar mais perdas que apertam o coração. Dessa
vez, a esperança é que a luz do ator possa iluminar uma nova consciência, uma
seriedade na condução da imunização do país. Não tinha ninguém que não gostava
de Paulo Gustavo. Humorista brilhante, tranquilo no palco, dominava a plateia e
muito generoso com todos. Levava alegria para a casa de todo brasileiro e
estava alcançando um sucesso nacional, mas se preocupava com o social também,
quando doou uma grande quantia de dinheiro ao padre Lanceloti e seu trabalho
com a comunidade de rua.
Estamos em um país continental, mas governado por uma
paróquia miliciana, que foi capaz de propor, segundo Mandetta, a mudança na
bula da Cloroquina como remédio para a COVID. Quantas mortes foram evitadas com
a proibição deste ato do presidente? Nada
disso precisava ter acontecido. A CPI apenas começou seu trabalho e tem a
obrigação de rapidamente esclarecer os fatos para o país e destituir essa
condução criminosa e passarmos a reagir com seriedade a essa doença que ceifou
Paulo Gustavo. O ator, humorista, diretor e roteirista Paulo Gustavo, cria de
Niterói, falou sobre nosso dia-a-dia com nossas mães, mas também falava sobre
sua preocupação com a perda e ausência dos sorrisos em cada lar por causa da
falta de afeto que estávamos tendo com o distanciamento social.
“Rir é um ato de resistência”. Dizia ele. E está certo.
Precisamos lutar por uma prevenção correta, ouvindo a ciência e o humor ele
salva, transforma, alivia, cura, traz esperança, nos faz refletir, pensar e
debater. Durante o regime militar, além da luta nas ruas, tanto físicas e
políticas, tivemos O Pasquim, que levava o ridículo do regime para dentro de
casa. E como foi importante os movimentos dos humoristas durante a ditadura. E
mesmo presos, mostravam que se calar é a pior prisão. Paulo Gustavo que tanto
fez do riso sua profissão, falando sobre sua mãe, morre na semana do dia das
mães.
Paulo Gustavo foi meteórico. Sua peça e seu filme foram
sucessos arrasa-quarteirão. Um ator de mão cheia, que tinha muito ainda para
nos oferecer e se vai prematuramente. Sinto uma dor incrível, pois uma semana
antes perdia um grande amigo e um dos maiores restauradores do país do qual
admirava, Claudio Valério Teixeira.
André Diniz, escritor e pesquisador de samba, propôs em suas
redes sociais a mudança da rua Moreira César para Paulo Gustavo. A tradicional Rua
de Niterói tem o nome do militar que liderou o combate contra Canudos conhecido
como Corta-Cabeças entre os escravos. Nada mais justo trocarmos para um ator
que nos fez alegres. Mas somos um país imenso
governado por irmandades pequenas. E no final, pagamos por isso.
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