Em um mês, tivemos dois Ministros da Saúde que caíram no
governo Bolsonaro e por que? Mesmo tendo ministros alinhados com o pensamento
fascista, não foram capazes de traírem sua vocação na medicina. Ela falou mais
alto. A responsabilidade com o paciente é mais importante do que manchar sua
reputação a vida inteira. Teich ainda entrou determinado a acabar com o
isolamento social, mas ao fazer visitas a campo, vislumbrou a dimensão real da
doença, coisa que o presidente não foi capaz de fazer. Essa interferência na
pasta, por um genocida ou até por uma pessoa normal, em uma área que tem que
obedecer estritamente a ciência, se deve a quê?
Tudo começa com a insistência de Trump ao remédio, que fez
com que seu copycat, Bolsonaro, a ter a mesma reação, que é a nova cara desta
direita violenta. A insistência começou com uma discussão, no Twitter, entre um
advogado e um investidor de criptomoedas dos EUA. Com estudos falsos e
argumentos rasos, sem ciência, recebeu toda atenção de Elon Musk, que divulgou
o assunto. O presidente americano, que negava o vírus, ao ver mortes perto de
sua residência, resolveu adotar o remédio como salvador da pátria, tendo o aval
de um de seus maiores patrocinadores na eleição americana, a Sanofi, que produz
a cloroquina e que o próprio presidente tem participação financeira. No
entanto, Trump desistiu da insistência, apesar de beneficiar a poucos
investidores, porque a base de convencimento, uma pesquisa francesa, recebeu a
negativa do uso da Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana que
concluiu que a cloroquina não atende ao padrão esperado pela sociedade no
tratamento da covid-19.
Por aqui, tivemos as mesmas intenções por nosso presidente.
Existem duas empresas que fabricam a cloroquina por aqui. A Ems e a Aspen cujo
o dono é Bolsonarista ferrenho. A todo custo, como empregou todos os
familiares, amigos, bolsonaristas ávidos, o presidente cria uma rede de
nepotismo e de ajuda apenas aqueles que são seus aliados, sem se importar com
ciência ou qualquer assunto que se refere ao interesse nacional. Como não
conseguiu o aval de seus ministros, demite para ter alguém que possa assinar
uma ordem de adoção do medicamento e ainda monta uma MP que o isenta de
qualquer responsabilidade por qualquer morte. Mesmo sem ter eficácia comprovada
no combate ao coronavírus, a cloroquina segue defendida pelo presidente. A
produção do medicamento, tem onerado muito aos cofres públicos e admitido que
não tem comprovação, mas será usada assim mesmo. É claro, para quem acha que é
uma gripezinha, acreditam que pode curar. Acreditam não, tem fé que a
cloroquina cura!
Essa faceta do bolsonarismo é muito perigosa, pois o
discurso que se ouve é que não se deve ouvir a ciência, e sim o messias. No
caso, o Jair. Um medicamento apresentado nessas condições, com tantos problemas
de contraindicação, que está levando à morte centenas de pessoas, não pode ser
divulgada como protocolo oficial. É criminoso. Mas o discurso bolsonarista é
esse. Significa que não importa. Importa é que os adeptos possam propagandear e
que consigam recrutadores na cruzada pela medicação inconclusiva, colocando
mais uma vez a divisão de torcidas dos a favor e dos contra a medicação. Como
uma partida de futebol. Só que o resultado será devastador. Entre o presidente
dizendo que a cloroquina é a cura e a ciência, fico com a ciência.
Está claro que a discussão não é médica. É política. Enquanto
o mundo todo está se concentrando em insistir com o isolamento social e achar
uma vacina, que seria a única solução para esse enfrentamento, temos um cenário
contrário a tudo de sensato e a consequência está aparecendo com os números de
infectados e mortos, assustando o planeta.
Enquanto a União Europeia pode estar dando sinalização para
a venda do antiviral remdesivir, melhor indicação até o momento, temos o modelo
de um presidente que pode indicar tomar detergente, como fez seu ídolo
americano, levando mais de 100 pessoas ao hospital. É mais ou menos isso o
cenário.
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