Queridos familiares:
Semana 2 do confinamento. Para dizer a verdade, pessoalmente
o confinamento não está sendo totalmente ruim. Já estava acostumado a fazer os
trabalhos via internet. Não tem grandes diferenças, tirando o fato de não
precisar me deslocar para dar aulas. Os eventos que não posso mais ir, são
ruins, mas dá para aguentar. Agora, deixar de correr ao ar livre, está me
matando. Fazer corridas em casa como o do maratonista francês, que tem uma
vasta varanda e pode treinar 6 horas seguidas, não é para mim. Preciso de ar puro,
preciso do visual da praia, de ver a alegria das pessoas, do pôr do sol. Isso é
correr para mim. E disso sinto falta.
Fiquei muito triste de ver que temos um governante que está
lutando contra todo o planeta. Até contra seu próprio Ministro da Saúde. O que
dizer do passeio dele entre a população, estimulando as aglomerações? Não sabia
que ele era um Deus supremo, que nada pega, nada o atinge e tudo pode. Não
lembro que ele tinha sido eleito Deus do Brasil. O cargo que ele competiu, se
não me falha a memória, foi de presidente. E presidente tem responsabilidades
com o povo, sem descriminar grupos sociais e tem freio com o congresso e
senado. Não me recordo de um presidente brasileiro que da mesma forma foi
negligente e foi contaminado pela epidemia por sua própria ignorância. Hah,
sim, lembrei. Isso não é do tempo do tempo de vocês nem do meu. Rodrigues
Alves, presidente brasileiro eleito em 1918, morreu da epidemia de gripe
espanhola. Foi negligente também e pagou um preço alto.
Assim como a luta em determinar que todos permaneçam em casa
por todos os cientistas, médicos, especialistas contra empresários e governo,
também aconteceu no passado. A política de Oswaldo Cruz de tolerância zero e
determinação de quarentena e outras medidas médicas, foram vistas como tirania
sanitária, dando origem a tensões sociais que levaram a famosa a Revolta da
Vacina. Tem um trecho de um livro que estou lendo sobre isso que diz:
Historicamente, epidemias e ideologias se difundem da mesma
forma, proporcionando o aparecimento de conflitos sociais e de resistência ao
intervencionismo e às tentativas de medicalização da sociedade. A classificação
de um estado como doença não é um processo socialmente neutro, e, na
administração de saúde, torna-se uma linha tênue entre legitimação e estigma.
Ao mesmo tempo, o impacto causado pela doença epidêmica sobre a sociedade podia
transformar-se em fator de legitimação da intervenção do governo, por meio de
uma legislação que estabeleceria uma forma de controle social, reformulando as
relações entre indivíduos e entre indivíduos e as instituições (Augé e
Herzlich, 1995).
A quarentena é justa, questão que envolve vida e morte.
Ponto final. Ainda não vivenciamos os horrores vividos na Itália ou Espanha,
pois a estratégia de confinamento mais cedo possível, foi possível. Fizeram o
certo. Mas a luta do presidente contra o que ele chama de “gripezinha” pode pôr
tudo a perder. O fato de não estarmos ainda no auge da pandemia, não quer dizer
que não estamos vivenciando isso. Na gripe espanhola, no Brasil, estava
morrendo gente aos borbotões, e o governo dizia nas ruas que a gripe era
benigna. Essa luta, levou mortes inaceitáveis aos montes, propagadas com a
liberação do Carnaval e a aglomeração de grupos sociais. Muitos dizem que
aprendemos com os erros do passado e nem sempre é verdade essa frase, haja
visto como lidamos com a pandemia da mesma forma como foi lidada no passado,
sem ainda ter entrado no verdadeiro pico de crescimento. Ainda veremos as mesmas
dores do passado, se não formos firmes dessa vez.
Talvez o desespero que toma conta da gente, mas o discurso
do presidente sempre acaba se alinhando com o do presidente americano, que
também desdenhou para a doença, negou a epidemia e agora vem a público exigir a
quarentena, pois pode ser o próximo país a enfrentar o maior número de mortes
do planeta. E olha que seu avô Frederick Trump, morreu de gripe espanhola.
Inaceitável. Bom, espero que todos estejam bem, desculpe o desabafo e mantenham
o pai em casa.
Quero saúde para todos, amigos e inimigos
Bênção,
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