Nióbio. Nióbio é o que temos para hoje. Seria um prato cheio
para o velho Pasquim. Na semana passada, o jornal completou 50 anos de seu
lançamento. E dá muita saudade. Hoje, se estivesse ainda ativo, teria um prato
cheio, não só pelas sucessivas e diárias derrapadas do governo, mas por ter um
conhecimento de causa dos eventos que chegamos até aqui. Senão vejamos. O golpe
de 1964 foi uma articulação política golpista feita por civis e militares.
Por causa da relação de Jango com o sindicalismo e sua idéia de fazer Reforma
Agrária, levaram os conservadores a chama-lo de comunista. E Também incomodava
também os Estados Unidos, que consideravam João Goulart “muito à esquerda” e
passou a financiar os movimentos golpistas no Brasil, principalmente grupos
como Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, e o Ibad, o Instituto
Brasileiro de Ação Democrática. Os grandes jornais uniram-se em uma articulação
golpista. A conspiração dos grupos da extrema-direita estava de vento em popa,
quando as manifestações de grupos conservadores tomavam as ruas com discursos
pela família, tendo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade a mais famosa. No
final, no dia 31 de março, uma grande rebelião feita por Olympio de
Mourão deu início ao golpe civil-militar. Alguma semelhança com os dias de
hoje?
Tenho muito orgulho de ter participado um pouco dessa
história do Pasquim, de resistência ao sistema, começada por Tarso de Castro,
Sérgio Cabral e Jaguar. O nome foi sugestão do cartunista, vendo que seriam
difamados pela ala de direita, então assumiram de uma vez o nome Pasquim, que significava
texto satírico colado em local público; pasquinada; jornal de pouca
importância. Surgiu inicialmente como jornal comportamental que falava sobre sexo, drogas, feminismo,
entre outros temas. Com o tempo, virou político e teve figuras como Ziraldo,
Millôr, Claudius, Fortuna, Paulo Francis, Ivan Lessa, Ruy Castro, Fausto Wolfe
e Borjalo.
Foi um sucesso estrondoso. Algo nunca esperado. Vendeu 100
mil exemplares, sem anúncios, que no período foi algo de muito sucesso. Se
sustentava apenas nas vendas nas bancas. Millor costumava dizer que para um
jornal underground, duraria 6 meses e se passasse disso, não seria mais
underground. O sucesso não foi apenas pelos cartuns ácidos e poderosos dos
maiores cartunistas do momento, mas as entrevistas sem retoque, inovadoras no
jornalismo e casual para eles. Grandes entrevistas foram feitas, entre elas
Cazuza, Jânio Quadros, Chico Buarque, Dina Sfat e Leila Diniz, com participação
da redação e sempre com o olhar atento de Rick Goodwin e registrado
recentemente na série para televisão das Grandes entrevistas do Pasquim, direção
do documentarista André Weller e uma interpretação maravilhosa de Augusto
Madeira, no papel do Jaguar.
As inovações não foram apenas para a imprensa brasileira,
que depois adotaram a fórmula de fazer entrevistas, assim como encheram suas
redações de cartunistas, mas criaram modismo também em comportamentos e da
língua, como as expressões: Duca, Põ, Quimera e É Ford. Tiveram o melhor plantel de ilustradores da
época, com a participação incrível de Henfil que era da ala mais política do
jornal, e trouxe personagens significativos como a série O Cemitério dos
Mortos-Vivos, em que "enterrava" que eram favoráveis a ditadura.
Muitos deles não queriam sair na sessão. Elis Regina foi tirar satisfação
pessoalmente com o cartunista. Isso mostrava a força do trabalho dele. Outros
passaram por lá, com contribuições geniais e em início de carreira, como Miguel
Paiva, Reinaldo, Lapi, assim como os geniais cartunistas de São Paulo, Angeli e
Laerte, que achavam os trabalhos cariocas mais light do que os de São Paulo.
Foram bons ventos que passaram nesse período e sobreviveram
por muitos anos até o século 21. Mais uma vez, o clima ficou sombrio no país
com clima seco, nos remete talvez a uma nova resistência juntando forças mais
uma vez dos cartunistas e novos conceitos digitais. Isso porque todos os
indícios apontam para um único culpado: O vento.
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