No domingo pensei em largar tudo e ir embora do país,
afinal, o novo governo já falou que os detratores e críticos de seu governo
apenas tem duas saídas: Aeroporto ou vala. Pessoalmente, prefiro o aeroporto.
Até porque, além de poder continuar a resistência em outro lugar e vivo,
alimentando os amigos que estão no front, também é uma missão importante. Esse
é o meu plano A. Mas, queria largar realmente para trás tudo. De físico a
digital. Estava muito deprimido que o país prefere essa realidade e me sinto
fragilizado, sem pertencer a algum lugar. Quero poder falar quando estiverem errados,
quero poder dar opiniões sem que espionem, quero andar nas ruas sem sofrer
algum tiro. É pedir muito?
Passei a segunda-feira, de camisa preta, em um protesto
muito individual, andando nas ruas olhando para cada cara, cada feição. Não
olhava caras de felicidades. Via olhos assustados, sem esperança, olhares no
infinito, alguns conversavam falando de sua omissão, outros do que aconteceu no
dia anterior. O único exaltando uma camisa do vencedor das urnas, tinha uma
cara de poucos amigos. Nesse momento, quando voltei para escrever essas
palavras, me dei conta, que ainda estava aqui e que se o plano A não acontecer,
por alguma razão do destino, o que me resta é exatamente o que sempre tenho
feito. E será que não é isso que as pessoas querem também? O fato de poderem ir
e vir, se sentirem seguras nas ruas? De fazer o que der nas telhas? Mesmo que
as primeiras falas do presidente eleito tenham sido que a primeira ação de
governo é liberar o porte de arma, nenhuma reação foi mostrada.
Bertolt Brecht falou: Nossos inimigos dizem: A luta
terminou. Mas nós dizemos: ela começou. Nossos inimigos dizem: A verdade está
liquidada. Mas nós dizemos: Nós a sabemos ainda. Nossos inimigos dizem: Mesmo
que ainda se conheça a verdade. Ela não pode mais ser divulgada. Mas nós a
divulgamos. É a véspera da batalha. É a preparação de nossos quadros. É o
estudo do plano de luta. É o dia antes da queda. De nossos inimigos.
E relendo Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas, eu li:
"Todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais.
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!... O correr da vida embrulha
tudo, a vida é assim: Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e
mais alegre no meio da alegria, E ainda mais alegre no meio da
tristeza"...
A campanha atual de ninguém larga a mão de ninguém, dá um
alento em não se deprimir sozinho na sua cama. Imaginar que temos um passado
pela frente, como diria o Millor. Você acaba vislumbrando as pessoas se
digladiando nas ruas com armas e antes de junho, quando estourar a guerra
contra a Venezuela, o sangue de jovens negros derramado para satisfazer os
Estados Unidos, vai recair sobre todos aqueles que apoiaram o fascismo, e não
apenas por quem está na frente de batalha ou aqueles que apenas ordenaram
atirar.
É dever de cada um lutar pelas suas liberdades da forma que
for. Não ficar triste porque não escolheu o aeroporto. Qualquer escolha que
possa somar pela liberdade, é importante. Penso que a posição de Ciro, foi um
tiro no pé. Não era apoio partidário, mas apoio contra o mal que está por vir.
Ele, em cima do muro, tirou milhões de votos com a mesma atitude. Elegeram Bolsonaro 57.797.456 eleitores. Rejeitaram Bolsonaro 89.522.258 (soma de
votos em Haddad, brancos, nulos e abstenções). Seríamos muitos e somos muitos. Nesse
momento não seja egoísta. Egoísta como o marido que liga para a mulher,
explicando que seu desaparecimento, tinha sido porque tinha dado um desfalque
na firma e fugido para Orlando, com Dona Ivonete do RH e que nesse momento iria
entrar na montanha mágica. Quando a mulher começa a chorar aos prantos ele
fala: Deixa de ser boba! A montanha mágica não tem perigo!
Agora que estamos
convidados a entrar no ano de 1964 novamente, vou começar a ouvir Roda Viva do
Chico Buarque em uma vitrola velha. E bem alto!
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