Uma máxima da propaganda, o que valeu até a conquista da
presidência no Brasil: Personalize! Para um Neoliberal, tudo pode ser vendido.
Absolutamente tudo. Seja um objeto ou uma idéia, desde que haja uma cara e uma
história. Tudo pode ser lido se tiver uma forma definível. Se falar do MAL,
ninguém entende, porque a princípio é abstrato. Mas basta um corpo e dois
chifres e casco, e pimba! Aí está seu inimigo! Não precisa se aprofundar no
mal, a começar pelo mais difícil, o auto-exame. Freud nunca perdoou a
iconoclastia: a não destruição de Deus, mas sim a do demônio, que é uma deidade
mais útil. Corremos sempre atrás do demônio, qualquer um, para poder apontar a
culpa, de nossas ações e omissões e a custódia de nossos crimes.
A maior final de Libertadores, como apregoavam os grandes
diários argentinos, mostrou exatamente a que veio. Em um país também dividido
como o nosso, entre direita e esquerda (assim como a contaminação em toda
América Latina), tendo seu presidente escolhido um dos lados publicamente,
colocou uma lente no que está aparecendo demais nas relações humanas. Ódio,
violência e desmedidas. Os ânimos exaltados desde a primeira partida, onde já
havia acontecido um adiamento da partida, por conta da meteorologia, mas contou
anteriormente com um adiamento, era o prenuncio de algo por acontecer. O jogo
quando aconteceu, com um placar razoável, muita garra dentro de campo,
violência nas faltas, marca dos jogos sul-americanos. Mas a violência vista na
entrada do último jogo, aliada a incompetência do governo e das entidades
organizadoras, mostram o retrato social de como estamos nesse continente. Um vexame. O governo aponta seu próprio
demônio para o qual transferir sua culpa, ou pelo menos desconversar.
O confronte era uma boa oportunidade de mostrar o quanto
duas equipes importantes são dentro das quatro linhas. Se nem foram respeitadas
as torcidas em todo momento até agora, o que diria o espectador internacional,
que fica esperando algo acontecer durante quatro horas seguidas de desencontros
de informações? Para eles, no mínimo, voltam os adjetivos que possuíamos antes
da virada econômica brasileira, de “terceiro mundo”. Essa forma pejorativa, que
acompanhou muitas gerações e apenas em um período, tivemos orgulho de sermos
grandes, de ter possibilidades de montar uma Olimpíada e Copa do Mundo. Nesse
momento, mostramos o quanto interessa que esse estigma volte. As entidades que
organizam, não conseguem se impor aos times. Podemos lembrar, que também não
podemos apontar o dedo. A final da Sul-Americana do ano passado, houve estádio
invadido, bar saqueado, brigas, roubos. Não é exclusividade dos nossos
vizinhos. O Mal está aonde? Na ineficiência em identificar quem foram ou de ter
uma política de prevenção?
Certamente, em momentos sociais onde está dividido o país,
tendo a legitimação de atos de violência, as violências voltam a circular esses
ambientes, como vão voltar as manchetes a partir do ano que vem com mais
frequência. O que incita os sem-terra é a falta de terra. O enfrentamento,
quando não existe vontade política de resolver a situação e sim reprimir, será
grande. Em todas as áreas da sociedade, essa violência vai acontecer e
estaremos voltando, regredindo à estaca zero. A dívida da sociedade brasileira
com a maioria miserável está chegando à sua hora de execução. A violência acaba
favorecendo no final das contas a direita, que já entendendo a situação, já
entrou com projeto de Lei, proibindo as manifestações. Onde chega, nesse clima
de caldeirão e impaciência vivida por este cidadão, o limite humano ao ver a
situação precária de sua família? Ou a fome de seus miúdos? E a pregação não é
a favor dos saques, mas um ouvido sofrido está predisposto sempre a ouvir o
Mal. Basta apenas um gatilho.