Estou escrevendo tentando lembrar qual foi a primeira
lembrança que tive do Superman e não tive sucesso. Isso porque um personagem
que acabou de completar 80 anos, está no imaginário popular desde nossos pais
ou avós. Ele aparece no marketing, nos quadrinhos, filmes, desenhos animados e
até numa roda de conversa. Já foi até tema de vestibular. Um personagem tão
icônico, já está acima dos meros heróis atuais, se tornando um Deus entre os
quadrinhos.
O personagem criado por Jerry
Siegel e Joe Shuster
em 1938, não tinha a expectativa de ser o personagem dos dias atuais.
Influenciados pela literatura de H. G.
Wells, com a Guerra dos mundos e o fascínio na época pelos acrobatas de circo,
eles criam essa figura mítica que podia apenas parar um trem com as próprias
mãos, dar saltos mais alto que um prédio de 15 andares (Também influenciado
pelo personagem de Edgar Rice Burroughs, John Carter) e ser mais rápido que uma
bala. Também nessa época, se popularizou os famosos fanzines, que deram asas à
imaginação da dupla dinâmica e o desejo de ser publicado em uma grande editora.
A
partir daí nós conhecemos a trajetória do homem de aço, mas não a disputa pelos
direitos autorais que pertencem a Warner e nada para o autor e seus herdeiros. E
através do tempo, ele foi mudando e potencializando seus poderes e suas
histórias foram se adaptando ao estilo da sociedade naquele momento. Em um
momento de conservadorismo extremado, foram adicionados personagens mais suaves
como supercão, momentos da história do superboy, supergirl e nos momentos de
liberdade de expressão podemos ver os super-homens de vários universos
paralelos.
Pessoalmente,
achava muito poderoso demais para se ter histórias que me cativassem na época,
por isso preferia ler Batman, Homem-Aranha ou Raio Negro pela Ebal. Respeitava
como um ser muito poderoso e acima de nossas capacidades de derrotar, mas
achava um mito como dos deuses do Olimpo. Um ser vindo do espaço, que
transcende nossa visão de onde viemos, dos seres que são fantásticos, mas estão
no nosso imaginário a séculos. A história de Hércules e
do Super-Homem são muito parecidas pela grande importância da
separação de uma família terrestre para uma divina, no caso do Super, por seus
laços sanguíneos com Krypton e, no caso de Hércules por seus
laços sanguíneos com Zeus. Superman surge como uma figura ambígua pela
sociedade: veem como um super-herói, outros como um deus, outros como uma letal
ameaça alienígena. Tais características foram debatidas por Umberto Eco em um
artigo na década de 70.
O personagem é resgatado por mim, quando vi o primeiro filme
sério do herói, feito para adultos, com cuidado em efeitos que eram complicados
para a época. O filme de Richard Donner, tendo Christopher Reeve encarnado no
papel principal e tendo a contribuição luxuosa de Gene Hackman como Lex Luthor
e Marlon Brando com Jor-El, me conquistou como expectador. Apesar da série
Batman e seus desenhos animados passarem com exaustão, o filme provou que
poderíamos ver um filme de heróis feito de forma séria. Logo depois, o
personagem começou a ser desenhado por Neil Adams e assim, voltei a consumir o
mito por um tempo. Devo dizer que gostei muito da animação dos estúdios
Fleischer da década de 40, que é lindo até hoje, assim como acompanhei nas
tardes de domingo o seriado Lois e Clark, com Dean Cain e Smalville
com Tom Welling.
A verdade é que os autores vão criar histórias
que vão tentar nos atrair, como no caso da morte do Superman, ou as histórias
consequentes de suas várias personalidades, mas o mito já se fixou depois de 80
anos. Muitos desenhistas são influenciados na narrativa ou em seu visual e isso
será eterno. O caso é que olhamos para o céu em busca de um verdadeiro
superman, que nos socorra, com a mesma boca aberta que dos homens da
caverna.