O caos instalado em Niterói, pelas chuvas de poucos minutos,
mas extremamente intensas, foram capazes de para a cidade. Eu mesmo, levei 4
horas para passar em um trecho que poderia através um pouco mais de 20 minutos.
O prefeito atual caçoou em visita a São Paulo daqueles que para ele
superdimensionaram a catástrofe. Chegou a afirmar também que a cidade reagiu
bem a chuva. Estamos realmente com o mesmo prefeito? Passei aperto em 2010, na
chuva que acabou derrubando o morro do Bumba na cidade. Um drama pessoal que
guardo até hoje achando que não haveria tragédia natural maior a ser vivida,
por causa da chuva. Mas um bom termômetro, foi o zelador do meu prédio, Seu
Antônio. Ele contou que veio do Nordeste para o Rio de Janeiro, com mais de 20
anos. Hoje com quase 67 anos, disse que vendo as ruas laterais do prédio, nunca
tinha vista uma chuva como aquela. Eu confio no depoimento do meu zelador, e
não no nosso prefeito que ainda congelou 90% do orçamento para enchentes. Pode
isso, Arnaldo?
Em retrospecto do Rio de Janeiro, de uma maneira geral,
sempre foi carente de bons governantes. No final de 1800, os governantes eram indicados pelo presidente da república;
e muitas vezes, no começo, foram demitidos ou afastados por motivos de saúde,
foram substituídos pelo vice governante. Não passavam de um ano no cargo.
Pareci já predestinado a uma vida de caos. Somente no fim de 1893, que Henrique
Valadares conseguiu governar por dois anos seguidos. Paulo de Frontin, governou
por 6 meses. Apenas em 1922, que tivemos governantes atuando por 4 anos, com
Alaor Prata. Mas já nessa época, em que o Rio de Janeiro; um imenso Mangue, já
sofria com fortes chuvas. As construções das galerias pluviais já não davam
vazão desde aquela época.
Fico imaginando nosso
excelentíssimo governante carioca, que em seu lema de campanha dizia que sua
gestão seria para cuidar das pessoas, tenha coisas prioritárias do que esse
momento de calamidade natural. A opinião pública é injusta com nosso prefeito-missionário.
Ele provavelmente tem participado de alguma comissão, deve estar ocupado dando
suporte ao maior festa da cidade, ou em alguma viagem pelo exterior estudando a
segurança da cidade (desmentidos oficias das empresas no exterior são
blasfêmias do tinhoso), ou até em algum grupo de whatsapp com troca das
melhores piadas para se contar sobre o Rio de Janeiro, pois não se deve fazer
feio, com uma piada que não cause boa impressão em outra cidade falando sobre
bolsa-desabrigado, ou até no seu domicílio eleitoral colhendo subsídios de suas
ovelhas. As más línguas poderiam falar que ele estaria atendendo apenas aos
ensejos de seu grupo da igreja. Só falta falar que é um mau filho, pois dizem
que viaja sempre pelo Brasil ou exterior, mas não sabem que pode estar
visitando sua mãe ou parente adoentado, quem sabe.
O que o povo gosta, não são aqueles
prefeitos que estão atuantes em cada problema da cidade, tentando resolver o
intrincado mundo corporativo, ajudar as comunidades carentes ou desafogar a
máquina do estado. Não. O governante exemplar, parâmetro tanto para seus pares
no Brasil, quanto para o povo, é o que chega atrasado ou nem vai para as
reuniões estratégicas porque esqueceu onde fica a prefeitura e acaba em um
templo. Ou quando possível, quando não pode ir ao templo, leva o templo até a
prefeitura. Dá até uma lembrança boa do serviço público de verdade, aquele que
seus pais falavam de um tempo que não volta mais, quando podiam marcar sua
presença e colocavam o paletó na cadeira e podiam curtir um dia livre no parque
mais próximo ou até, tendo companhia, no motel da esquina, por que não?
É bem
verdade que passamos por essas tragédias de temporais de tempos em tempos, mas
basta chover, que todos já sabem que pode acontecer e vai acontecer. Por que
não existe um planejamento para acabar com algo sistemático que passa pela
cidade paralisada, alagada, submersa e com deslizamentos de morros? Dos 50 rios
que alimentavam a Baía de Guanabara, poucos são visíveis para os habitantes do
Rio de Janeiro e Niterói e, assim mesmo, sua influência é sentida em cada
tempestade e enchente. São tantas as estórias na história. Entre 21 e 22 de setembro
de 1711, as chuvas permitiram que o corsário Duguay Trouin chegasse às portas
da cidade quase sem ser notado. Humilhou e saqueou a cidade, deixando para trás
apenas os alagamentos. Em 1811, uma semana de chuvas, causou desabamentos no
Morro do Castelo. D. João VI, chegando de Portugal exigiu um inquérito sobre a enchente
e, mais que a vontade de Deus, as causas encontradas eram “a falta de
conservação das valas e drenos pelos entulhos e lixos e demais imundícies lançadas
nelas” (Rora & Lacerda, 1997, p. 43).
Essa semana vai acontecer mais chuvas
sucessivas e muito fortes. Ainda nem chegou as águas de março.
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