Lembro a época em que os elevadores pantográficos tinham que
ter um ascensorista. Conheço lugar que você tem que desafiar a morte nas portas
assassinas ou de ataque de coração. Já Subi em um que deixou a minha pressão lá
no subsolo mesmo. Não sou contra elevador ou qualquer tipo de elevador. Muitas
das vezes prefiro as escadas mesmo. Não me venham com Transtorno obsessivo ou
claustrofobia. Não é o meu caso, juro. Quero focar na figura do ascensorista.
Esta pessoa que era presente em muitos elevadores e foi se extinguindo aos
poucos, sendo trocado por TVs frias e gente que compartilha seu momento de
espera até o andar desejado. Tenho na minha memória pessoas muito educadas, que
puxavam assunto – Não importava qual – e deixavam esse momento de espera mais
caloroso. Possivelmente falariam hoje:
- Você viu a falha do Muralha no jogo de domingo?
- Tá armando um temporal feio, hein?
- Esses moços, pobres moços / Ah! Se soubessem o que eu sei /
Não amavam, não passavam
Aquilo que já passei / Por meu / olhos, por meus sonhos Por
meu sangue, tudo enfim É que peço
A esses moços / Que acreditem em mim... (cantoria de uma
música de Lupicínio Rodrigues)
Saudades, viu? Cada vez sinto saudades do contato das
pessoas nas ruas. Não é implicância, é posição crítica. A escada é ótima, mas
não conversa. Não gosto de uma voz metálica dando palpite no meu trajeto. Lembro-me
de um sujeito que trabalhava no centro do Rio. Se chamava Almir. Um velhinho
boa praça que sempre dava bom dia a todos e ficava lendo seu jornalzinho a
medida que o elator subia. Mas o mais intrigante, era que ele usava dois
jargões no meio de uma conversa, que acabava resumindo tudo que havia sido
falado. Hoje, teríamos os seguintes diálogos:
- Cada dia a situação só piora e pelo visto vai piorar, não
vejo nada positivo com alguns, tenho muito medo do futuro do país, espero que
esteja tudo melhorando, fazendo essa faxina do judiciário nos políticos. Será que teremos alguma luz no fim do túnel?
- Vai descer! – Gritava Seu Almir
- Alô Mírian? parabéns anja, te desejo todas as coisas boas
que existem nesse mundo, espero que teu dia seja incrível!! Te amo bonequinha!!
Um beijo da sua tia! Espero que tenha muitos anos de vida!
- Vai subir! – Gritava Seu Almir
- Tô na dúvida entre pedir um tênis ou investir na bolsa no
dia dos namorados. Um tênis vou ficar muito feliz por um tempo, mas e se a
bolsa crescer, poderia comprar 20 tênis e ficar anos feliz. Será que vai
acontecer com o índice da bolsa?
- Vai subir! – Gritava Seu Almir
- ...Eu beijando ele muito e o clima crescendo. Não rolou
nada, mas hoje vai ter um jantarzinho chique que ele tá programando. O problema
é que ele vai ter um dia estressante no trabalho e trampar de 6 da manhã até ás
8 da noite...será que vai dar conta de mim? Será que ele pega fogo?
- Vai descer! – Gritava Seu Almir
Era ótimo. Parecia um quadro de humor do Jô Soares. Infielmente
esse tempo acabou e temos que encarar que elevador é uma caixa mecânica que tem
ALARME escrito bem grande e outras indiretas para transformar no meio de
transporte mais seguro do mundo. Bravateiros irão falar que os tempos de
modernidade exigem que sejamos cada vez mais a tecnologia vai ditar as regras,
mas sabemos que a verdade é que o capitalismo tirou essas vagas para a
automação. E no fim das contas, a individualidade cresce mais a cada dia. Quem mais poderia indicar onde estarão as
lindas beldades, no 23º ou no 24º andar? Ou onde está um WIfi gratuito?
Por tudo isso, não me nego a entrar em um elevador, mas
apenas sinto um profundo suspiro ao olhar para o local que antes era reservado
ao querido funcionário da berlinda e ver APERTE AQUI.
Mas uma sensação que muitos já passaram é ficar preso em um
elevador. Preso com outras pessoas, sendo uma delas desesperada em um calor
infernal, esperando socorro com um apito de emergência por longos minutos. Nada
é mais sufocante e desesperador.
Aparentemente ficar a muitos metros de profundidade em uma
gaiola para ver um tubarão é bem pior do que ficar preso no elevador.
Aparentemente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário