Sustento que precisamos mais de Semanas de 22 do que a liberação de porte de armas. A Semana de Arte Moderna representa hoje um marco na arte contemporânea do Brasil. É aquele momento em que a arte como um todo está de mãos dadas contra a sociedade colonialista de uma maneira geral, rompendo com tradições e inaugurando a sociedade moderna no país. Tudo era dilatado pela gradativa industrialização e inserção do país ao capitalismo. Pelo mundo, já estávamos vendo a aurora deste mundo moderno através de projetos arquitetônicos como os de Frank Lloyd Wright ou os trabalhos de Walter Gropius. Esse despojamento já estava em ascensão e ajudou a nos livrarmos de efeitos estilo bolo de noiva. Tanto na arquitetura quanto nas artes plásticas.
Mas apesar dos grandes nomes como Pedro Américo, Vitor
Meirelles, Oswaldo Teixeira, e embora de
riqueza pictórica incrível, o Brasil se descobria através da literatura de
Euclides da Cunha, com Os Sertões. Aquelas ditas artes históricas tinham um ar
europeu, a literatura era parnasiana e nada combinava com as mazelas herdadas
pelo fim da escravidão em poucos anos, que contrastava com o comodismo burguês.
As novas temáticas aos poucos iam
interessando aos novos artistas. Rio de Janeiro, apesar de ter sido a casa de
D. João, o neoclássico ainda era bastante presente na cidade, enquanto São
Paulo estava pulsando crescimento urbano acelerado e era o local perfeito para
um manifesto daquela magnitude.
Devemos falar da importância das mulheres ao sucesso deste
evento. Tarcila do Amaral, que não participou da Semana de 22, mas era uma
grande modernista, Gomide Graz, Guiomar Novaes, Zina Aita e principalmente
Anita Malfatti. Anita foi aluna de Fritz Burger, Lovis Corinth e Bishoff Culn
em Berlin. Sua exposição de 1917 foi duramente criticada em artigo por Monteiro
Lobato. E por causa disto, Muitos artistas defenderam Malfatti, inclusive
Oswald de Andrade que diante do impasse, tornou-se o elemento aglutinador de
poetas, escritores, músicos inspirando o movimento de 22. A arte moderna acaba
por quebrar os paradigmas existentes antes de arte masculina e feminina, tanto
que escultura era uma arte dos homens. Quem chega para acabar com essas ideias
na sociedade? A ceramista Zina Aita.
A Semana de 22 foi chocante e importante. Mário de Andrade
em uma conferencia sobre o movimento modernista, dizia que foi “essencialmente
destruidor”. Era necessário derrubar os preconceitos, para elevar o país aos
novos tempos de tolerância e ideias, acabando com preceitos e dogmas. Devemos
perceber que o movimento de novos paradigmas não era restrito as artes,
Einstein publicou em 1915 sua teoria geral da relatividade, ruindo com as
antigas verdades na ciência, a revolução de 1917 na Rússia elevando os
proletariados ao poder acabando com o antigo regime dos Czares e a primeira
Guerra Mundial que deu um novo panorama no mundo.
Vista um século depois, a atitude do meio artístico para se
firmarem as ideias de rompimento com o passado parece obra divina, pois
historiadores querem sempre um marco para a mudança de valores e os próprios
artistas suaram para que o movimento pudesse ter esse marco valorizado nos dias
atuais, valendo-se de sempre algo a mais além do produto, como tomates jogados
no palco de propósito, apresentação de Heitor Villa-Lobos de cuecas com
suas obras opostas ao gosto popular de um Carlos Gomes, entre outros. Hoje
temos os mesmos problemas com artistas da atualidade buscando romper com ideias
conservadoras na cultura, aliada ao sofrimento de ameaças violentas desses
mesmos conservadores.
Diria decepcionado que não existe mais Semanas de 22 como
antigamente e que estamos precisando entrar na modernidade e na crença a
ciência em pleno 2022.
“tupi or not tupi, that’s the question”, poderia ser substituido
por “Há mais coisas entre o
céu e na terra Brasil, do que sonha a nossa vã filosofia”