Nunca vi uma Bienal tão cheia e aposto que você também não.
Esta foi a minha segunda Bienal que vou como autor. Na primeira, lancei um
livro infantil, por uma editora de pequeno porte, em um dia de semana. Desta
vez, participei de uma coletiva de artistas, por uma grande editora, em um
sábado. Poucos brasileiros podem descrever essa sensação. Primeiro, chegar ao
estande em um tsunami de pessoas foi uma missão incrível, sem me utilizar de
artifícios com snorkel ou pé de pato. Logo depois de um tempo, ver vários
transeuntes passando e tirando fotos, sem ao menos saberem direito quem eram os
fotografados.
Fora as grandes estrelas, muitos lançamentos foram
importantes, assim como sua pluralidade de temáticas. Participei do livro em
homenagem ao grande homenageado deste ano; Ziraldo. Com muita honra, fiz parte
do livro Ao mestre com carinho –Ziraldo 85 no traço de 85 talentosos
cartunistas (entre eles, este que vos fala, Aroeira, Chico Caruso, Dálcio,
Ertahl, Glen Batoca, Ique, Maurício de Souza, Mig e Quinho), editado pelo
dedicado e generoso Edra, pela editora Melhoramentos. Uma edição luxuosa e
muito bem diagramada. Tenho que elogiar a coordenação no dia, com muita
eficiência de Carolina Cruz. Foi bom estar com amigos de profissão novamente,
já que as exposições de humor que reuniam muitos artistas estão rareando.
Foi a Bienal mais importante dos últimos tempos. No entanto,
devemos falar sobre dois pontos importantes, que saltaram aos olhos. Esse
recorde de público é lindo de se ver, mesmo impedindo uma boa visitação, porém
contrasta com uma realidade do nosso país continental. Como um país com
carências educacionais e tendo um livro lido por ano/pessoa ter esse sucesso? Não
há um aspecto da sua vida particular ou da vida institucional do país que não
esteja, de uma forma ou de outra, ligado a uma leitura. Porém, muitas pessoas
acreditam que a Terra é plana. Algo que
bastaria ler as mais importantes informações, pelos mais importantes
especialistas. Tenho uma teoria. O preço oferecido e o acesso aos autores foram
as minhas escolhas. Do lado de fora do pavilhão, dava para ouvir os gritos de
jovens pelo seu escritor youtuber preferido. Parecia o fenômeno Beatles. Essa
espetacularização é importante para a aproximação do leitor e futuros leitores.
E como tinha youtuber. Não é negativo. Levando ao caminho da leitura, está
fazendo um papel extraordinário.
Para todos os efeitos, os shows levam a leitura. Se houver
necessidade de leitura em PDF, alguns estandes ofereciam o melhor para esse
leitor, apesar de sempre preferir o papel nas mãos. Não critiquem, mas o cheiro
de livro novo é a primeira imersão desse leitor. A nota mais que negativa, é
mais uma vez, a tentativa dos governos em impor suas vontades e marcar a
edição, com a marca do pilot da censura, transformando em batalha judicial,
algo que teimam em impor. Censura a obra artística é inadmissível. A
justificativa a justiça, foram por duas obras. Uma, “As gêmeas marotas”, do
holandês Dick Bruna, para o público adulto nem estava na Bienal. A foto anexada
no pedido da prefeitura, tem inclusive, o preço em Euros. Uma tentativa se
utilizando de inverdade para justificar o fim. A outra, uma obra da Marvel, que
teve o marketing inverso, foi instantaneamente esgotada. E para aqueles que não
acham importante a influência dos tais youtubers, Felipe Neto teve papel
importante comprando as edições e distribuindo gratuitamente. Não é novidade
esta edição, foi publicada em 2010 e já tivemos o casamento do
mutante Estrela Polar e seu namorado.
Não é tarde para lembrarmos, a queima de livros feitas por
Hitler e o partido Nazista em 1933. Isso para lembrar de fatos mais recentes da
história. Os livros escritos por intelectuais contrários ao regime, foram
queimados em praça pública como parte do programa de propaganda de Goebbels, chamando
de arte degenerada, para apenas convencer a população da necessidade de acabar
com a cultura e movimentos artísticos contrários a suas idéias.
Uma normalização do absurdo, da falta de
educação, do extremismo, do atraso. Isso tudo dá para se conter. Basta um
livro. A pena continua mais e
que a espada.
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