O velho adágio de que o fim justifica os meios, ameaça a
sobrevivência de qualquer princípio moral no planeta, mas volta e meia é usada
para absorver tudo, desde Stálin à mão do Maradona. A escalada da violência em
oito meses de governo é típica de governos que focam na fragilidade da
população, encontrando no discurso o gatilho para o incentivo de mais armas,
mais execuções abalizadas e sem um verdadeiro plano de segurança pública. Quando a ciência mostra que ouve um aumento
de 80% no desmatamento em poucos meses de governo, não é porque quer
desmoralizar a política ambiental (política ambiental do governo?), mas quer
demonstrar que existe um problema sério e que precisa ser resolvido. Mas como
isso pode ser importante para o presidente que tem sua fala, desde a eleição,
dizendo da sua total falta de interesse no tema.
Total falta de interesse na preservação da Amazônia desde o
início. Suas falas sempre foram “no meu governo não vai ter mais um centímetro
para os índios”, “Não temos como administrar a Amazônia”, “Viva o agronegócio”,
e sim são incentivos que tornam o avanço do desmatamento uma casa da mãe Joana.
A truculência daqueles que viam a preservação como um impedimento para levar madeira,
explorar o ouro ou até delimitar espaços, ficou aparente no momento da vitória
do candidato. E como incentivar essa violência? Acabando com o Ibama aos
poucos, sucatear as fiscalizações, demissões em massa, acabar com as pesquisas
científicas na região, liberar as armas para fazendeiros. Uma bandeja pronta
para aqueles que tinham receio e agora, matam índios, tacam fogo em Ibamas e se
não bastasse esse aval, querem mais e mais. Matam a Amazônia com a mesma
truculência dos discursos. O Governo foi alertado pelo Ministério Público três
dias antes de “dia do fogo”. Nada fez achando que não perceberiam. A intenção
era mostrar a Bolsonaro que apoiam suas ideias de “afrouxar” a fiscalização do
Ibama e quem sabe conseguir o perdão das multas pelas infrações.
O Governo do Rio corrobora com as ações do Governo federal.
Estão alinhados na mesma intenção. Aproveitando os medos da população na última
eleição, se posicionaram sempre em relação a combater o “mal” com mais armas
nas ruas. Nada de política pública. Apenas reação. O discurso sempre foi
“comigo vai ser mirar na cabecinha e apertar o gatilho”. Esse discurso pegou a
maior parte da população que dentro do senso comum acha isso a solução para
seus problemas.
O que foi o último espetáculo policial na ponte Rio-Niterói?
Depois de um tempo de incursões em favelas, atirando a esmo, matando inocentes,
levando medo para as populações mais pobres, teve o alerta amarelo quando a
imprensa se revoltou com a situação e teve até denúncia na ONU. Ele precisava
de algo que pudesse reforçar novamente que sua idéia de combate a violência era
o correto. E teve. Um sequestrador com arma de brinquedo é morto na ponte na
última terça. Reféns libetados. Um sniper mata o sequestrador fora do ônibus. O
governador Witzel comemora a morte por bala de sniper como se fosse Copa do
Mundo. A sociedade aplaude, após 4h de caos. A sociedade doente comemora a
morte por tiro de sniper. Me pareceu um grande golpe de marketing para
reabilitar a imagem e a popularidade de um governador abaladas por assassinatos
de inocentes nas ações de sua polícia nas favelas.
Ninguém se importou com a história que teve várias questões
frágeis e ninguém vai se importar. Em conversa com o amigo Ricardo França, ele
verificou muitas dúvidas. Um sequestrador, sem exigências, sem se importar com
celulares e que estava ansioso por algo que haveria por acontecer. O
congestionamento chama a atenção do Rio e do Brasil. Ele permite que as pessoas
permaneçam com celulares, dinheiro e seus pertences. Começa a sair do ônibus DELIBERADAMENTE
sabendo dos atiradores de elite posicionados. Solta reféns sem nada em troca.
Outra vítima dos novos tempos é a semântica. Quando chamam a
volta das relações fascistas, do período de Hitler de “modernidade”, você sabe
que está numa crise de significado.