Essa foi uma semana quente. Fiz arquitetura e artes
plásticas, com pós-graduação em Patrimônio histórico artístico e cultural. Nada
me entristece mais, do que ver Notre-Dame arder em fogo, destruída em algumas
horas, o que o tempo não foi capaz de detonar. Assim como no caso do Museu
histórico nacional, do qual chorei, Notre-Dame me deu uma sensação de angústia
profunda de um tempo de muita conturbação e ódio desenfreado. A catedral (cathedra=trono
do Bispo) gótica foi construída de 1163 a 1250, majestosa com seu formato de
cruz e os arcobotantes, eram inovações de uma Europa com receio de mudanças
estéticas. Sentimos e fruímos o arrojo de sua criação. E pensar que Notre-Dame viu
a Revolução francesa, a Comuna de Paris, foi inspiração para o trabalho
incrível de Victor Hugo e permaneceu séculos e séculos em pé, mas não foi capaz
de sobreviver ao incêndio da semana passada, foi muito triste.
Rapidamente as redes sociais ficaram cheios de teorias
conspiratórias e como sempre, a direita tratando de espalhar que foi obra dos
muçulmanos. Mas um ponto que chocou mais foi o fato que poucas horas depois do
incêndio, Macron, o presidente francês, pediu que houvesse doações para a
reconstrução e em algumas horas, acumulou alguns bilhões, até mesmo de Lily
Safra, a bilionária senhora que doou R$ 88 milhões. Ela herdou três diferentes
fortunas, sempre uma maior do que a outra. Mas no Brasil não há imposto de
transmissão sobre grandes fortunas. Enquanto isso, nosso Museu Histórico, ao
longo de meses, teve a quantia de R$ 200 mil acumulados para sua reforma. Nosso
presidente na época, desdenhou falando que: “O que quer que eu faça? ”, mas
tuitou profundo pesar com o incidente em Paris.
Mesmo assim, os coletes amarelos na França, também estão indignados com
a rápida coleta de verba bilionária para um bem cultural e quando se trata de
ajudar os trabalhadores ou até mesmo um africano famélico, não há um movimento
sequer.
No mesmo momento em que a catedral de paris ardia, do outro
lado do mundo, A Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar mais sagrado do Islã,
na Cidade Velha, em Jerusalém Oriental, parte palestina da cidade, queimava,
mas sem nenhum alarde internacional. O local é o lugar mais sagrado do
judaísmo, que o venera o nome do Monte do Templo. Os judeus não podem rezar
nele. Dois dias depois, um homem foi preso depois de entrar na Catedral de
São Patrício, em Nova York, com quatro galões de gasolina, isqueiros e
fluido de isqueiro. Na sexta, um incêndio gigantesco no centro histórico de
Lima causou vários deslizamentos de terra e explosões, culminado na destruição
da Igreja Redentor da capital peruana. Ontem, oito ataques a bomba contra
quatro hotéis, três igrejas, onde cristãos celebravam o domingo de Páscoa, deixou
207 mortos no Sri Lanka.
O que está acontecendo? São fatos isolados? Coincidência
acontecerem em um momento de turbulência internacional? De ódio sem freio?
Meses atrás, O sheik Abdul Aziz bin Abdullah, a maior autoridade religiosa,
afirmou que era necessário destruir todas as igrejas da região católica, por
isso está gerando uma grande turbulência conspiratória pelo mundo. Mas como
foram atraídos, em um curto espaço de tempo, muitos incêndios em centros religiosos
católicos pelo mundo, foi a olhos vistos.
Nesse momento, me passa duas histórias pela cabeça. Uma é do
ladrão de elefante pego pelo guarda do circo. Ele pergunta ao ladrão que havia
tanta coisa para roubar e foi logo levando um elefante. Podia até levar cães
amestrados, o macaco e até a foca com desculpas esfarrapadas, mas que podiam
convencê-lo do roubo, mas o elefante? O ladrão então, com a paquiderme preso
numa corda fala ao segurança: - “Que elefante? ” Ou seja, o fato está à frente
de você, mas as cortinas de fumaça para dispersar os verdadeiros intuitos estão
sendo escondidos, para deixar todos à mercê de um clima de medo e instabilidade
global.
Outra é lembrando que Lima Barreto já dizia em 1911 na
Gazeta da tarde em "O Convento": As catedrais góticas irão abaixo
quando o catolicismo não tiver mais adeptos. A conferir.