O que é o intolerável? O importante pensador francês Jacques
Rancière, define sobre imagem pensativa: “é uma imagem que encerra pensamento
não pensado, pensamento não atribuível a intenção de quem a cria e que produz
efeito sobre quem a vê sem que este ligue a um objeto determinado” (Espectador
emancipado, p.103). Afirma também, que o
deslocamento do intolerável na imagem para a imagem intolerável sempre esteve
no centro das tensões da arte política. Se anteriormente via-se um choque entre
imagens referentes às aparências e imagens que revelavam a realidade por de
trás delas; atualmente, considera-se que não exista uma imagem referente à
realidade que se oponha a aparências.
Pensemos no caso das pequenas fotografias tiradas de Auschwitz,
mostrando um grupo de mulheres indo para a morte na câmara de gás, da exposição
Mémoires des camps. As duas formas de conceber o intolerável aparecem nas
críticas à exposição. A de Élisabeth Pagnoux ressaltava a realidade que as
fotografias revelavam, dentro da idéia do intolerável na imagem. Já a crítica
de Gérard Wajcman afirmava que eram aquelas imagens, por si, intoleráveis já
que afastavam o espectador da realidade. Eu acho intolerável tudo que
representa e toda a imagem incluindo bordas e molduras! É importante falar
sobre o assunto sempre! Mas é intolerável!
O ódio que vivemos, que se eclodiu com a barbárie promovida
por fakenews, e pelo modo de agir que deu a vitória a Trump, que está sendo
utilizada por Bolsonaro, está saindo do armário, querendo sua parcela na
sociedade. Já foram contabilizadas agressões, pichações de suásticas, ameaças a
pessoas, grupos de ativistas, organizações e até serviços públicos que se dizem
contrários ao fascismo, que estão fora de controle. Antes, a justiça puniria quem
incitasse o mínimo de ódio. Agora foi institucionalizado com um candidato a
presidente. E nada se faz. Essa ineficiência age como apoio brutal ao que está
acontecendo, que até menospreza a marca deixada com canivete em uma vítima. É
intolerável!
A cegueira pelo candidato revela mais sobre os eleitores do
que o próprio candidato, do qual sabemos suas posições sobre minorias,
adversários, deficientes e mulheres. Cada eleitor, se identifica com algum
ponto dele. Muitos já não se envergonham de falar que é racista, outros
escondem ainda essas atitudes, mas no fundo, desejam o mesmo. Não adianta os
pensadores nacionais e mundiais, não adianta o ativismo na música de artistas
como Roger Waters e Madonna, nem como a ultradireita internacional assustada
com seu personagem na américa latina.
Na época de Hitler, o Brasil criou o integralismo, dentro
das idéias de Hitler e Mussolini. O partido chegou a ter um milhão adeptos, bem
no meio do nazismo pelo mundo. Quando o mundo combatia esse grande mal, o
Brasil demonstrava admiração, pelo criador do partido, Plinio Salgado, filho de
um coronel do exército, e com a chegada nada democrática de Vargas ao poder
seus ideais foram ouvidos. O discurso sempre o mesmo que ouvimos até hoje,
exaltando o nacionalismo, atacando o comunismo, defesa de um partido único
nacional e sempre pregando antissemitismo e contra as minorias. Qual seu lema?
“ O integralista é o soldado de Deus e da pátria, o homem-novo do Brasil que
vai construir uma grande nação”. Você pode imaginar que com a derrota do
Nazismo, o partido e seu ideais foram enterrados de vez por aqui, mas em 2004,
foi formada a frente integralista brasileira, uma organização sem ligação a
qualquer partido oficial, mas eu lema: Deus, pátria e família, está presente
nos discursos que deixam a classe média pouco esclarecida, sempre exaltada em
tempos e tempos.
Temos um histórico nada bonito, de problemas relacionados
aos direitos humanos, e como disse Waters em entrevista, é meu dever como
artista lutar por um mundo melhor, de igualdade e direitos humanos. Quero
chegar ao fim desta eleição aliviado, como se fosse arejar uma casa e uma boa e
vigorosa surra nos tapetes. Vamos meditar sobre a pretensão humana e os limites
da arrogância e tentar nos banhar de vez, tendo a sensação no final de corpo
limpo de vozes da intolerância!
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