Já ouviram a expressão: O homem morre pela boca? Essa
expressão é bastante clara, mas até ganhou outras conotações pela força que ela
contém. Quando alguém profere denúncia vazia e é processado pela caluniado ou
fala muita coisa sem informação suficiente e logo é desmentido pela verdade;
mostra essa nossa capacidade olímpica de falar mais do que podemos. Uma espécie
de gosto nacional. Como as formas femininas. Um verdadeiro fenômeno brasileiro.
Mas não estava falando nesse sentido. O homem morre pela boca, pela gula, por
não dar atenção aos índices glicêmicos, de ter o olho maior que a barriga. E
passamos por essa situação, porque acreditamos sermos eternos. Nossa alma pode
ser, mas nós podemos encurtar nosso prazo de validade na Terra, por causa da
comida.
Tenho verdadeira curiosidade por carnes exóticas. Aquelas
que não são comuns no nosso dia-a-dia. Menos o caracol. Entendo a situação
histórica da qual a França colocou o animal como iguaria, mas não consigo
conceber. Já ouvi homens em seus estados sóbrios, descrevendo a maciez e
textura da carne de caracol. Escargot é luxuoso. Prefiro o nome real: caracol. Devo
dizer, apesar da culinária francesa ser uma das mais elogiadas, não me
convencerão. Nenhum animal invertebrado que solta fluidos em sua caminhada
merece confiança, ainda mais no prato. Hoje em dia também resisto a vários
miúdos. Menos o coração. Esse nobre órgão, não merecia essa qualificação. O
coração estará sempre dentro do meu coração.
A verdadeira abjeção a certas comidas não tem lógica.
Existem comidas com maior rejeição pela massa e outras não. Vejamos o caso do
nosso cardápio mais comum: O arroz. Eu não como arroz. Aconselho a todos, a
todos mesmo o consumo diário de arroz e feijão. Mas não faço uso pessoal, desde
criança. Todos que me conhecem, já tratam em um convite de almoço em suas
casas, de fazer aquele macarrãozinho seja de alho e óleo, seja com molho de
tomate. Não tem explicação lógica. Simplesmente não como e me faz mal comer. Me
achava o único com essa aversão, mas ao longo da vida cheguei a conhecer alguns
poucos contados nos dedos de uma mão. Existe vida para mim sem o arroz. Mais
tarde descobri, que tenho uma fobia muito rara chamada de Oryzasativafobia ou Zizaniafobia. Não me imagino em alguma
situação extrema que me obrigasse a comer arroz, como uma ilha deserta com
apenas plantação de arroz.
- Por favor, prove. É um risoto de camarão.
- Agradeço.
- Olha o tamanho do camarão. É super ultra mega
uber VG...parece uma pizza brotinho.
- Por favor, eu acho que deve estar gostoso, mas
não quero.
- O arroz é integral.
- Deve ser ótimo, mas não.
- Olha que não tem mais nada a oferecer...
Quem, numa condição como a minha, nunca sofreu
com uma situação dessa?
Existem aqueles, como em uma situação histórica
de fome, tal qual a francesa, teve que recorrer a outros animais que habitavam
seu entorno, como gafanhotos. Há quem goste de gafanhotos caramelizados,
formigas fritas, escorpião à milanesa, lacraia a quatro queijos...tudo na
verdade, depende de nossa formação cultural. Se pensar bem, não existe
diferença entre o porco e ovelhas, mas ficamos horrorizados em comer cachorros
ou gatos. Dizem por aí, que a maior fome da humanidade seria por carne humana e
que daí viriam nossos mais íntimos pudores. Daí que falamos que uma das origens
do verbo comer, no sentido sexual, poderia vir desse sentido. O que explica
também, nosso fascínio por comer em todos os sentidos. E quem é taurino, pode
ser considerado em dobro.
Mas, eu tenho a convicção que nunca seremos
canibais. Ainda mais sabendo que seríamos servidos com arroz.