O ser humano é um predador voraz! Não necessariamente estou
falando em relação a saciar sua fome literal, mas saciar sua fome de dinheiro,
sua fome em se aproveitar do próximo, sua fome de só olhar para seu umbigo. Estive
participando no domingo e segunda de dois eventos diferentes, mas com o mesmo
propósito: A atenção para nossos bens (arqueológicos, museológicos e
ambientais) e sua permanência no planeta.
Participei de um evento de ocupação cultural dos museus, levando
a arte e intervenção para as crianças e comunidades, uma aproximação com o
desenho de forma lúdica criando peças coloridas de peixes de papel presas em um
sarrafo verdadeiro, montado no museu. Antes dessa experiência, tivemos um tour
em volta de Duna Grande (Sítio arqueológico de sambaqui em Itaipu) e parando na
lagoa de Itaipu. Com o sítio, aprendemos, as formas de vandalismo praticadas a
algo relacionado ao nosso passado. Que nos diz respeito. Duna Grande, que em um
passado não distante tinha a altura de um prédio de três andares, nos males
menores era usada para prática de surf na areia até a praia, teve a grande
parte de sua areia levada para aterramento por construtoras. Tudo foi parado
porque um cachorro avisou seu dono, que havia um achado arqueológico de quase
oito mil anos ali. Para proteger e salvar o achado arqueológico, foram
plantados cactos para uma proteção sutil. Mas os moradores retiravam os cactos
para proveito próprio. Hoje é cercada por arame, que tem pontos de entradas
também. Lá, foram achados os mais importantes achados pré-históricos de uma
família intacta em bom estado, que foram destruídos no incêndio do Museu
Nacional. Os outros sambaquis achados em Camboinhas, foram totalmente
destruídos pelas construtoras na terraplanagem, para construção de corredores
de construções para os mais ricos.
Para a lagoa de Itaipu, o assoreamento está crescendo
vertiginosamente. Existia uma área de lagoa que era enorme e que está sumindo.
Tudo influenciado pela ação humana. Lixo que compromete a reciclagem de número
de aves como o colheireiro, o caranguejo e a flora nas margens que foram
totalmente modificadas. O interesse em construir nessas áreas é muito grande
faz muitos anos e a queda de braço da especulação contra a natureza não tem
tréguas. O novo plano diretor da cidade, admite construções na lagoa, e pode
construir 220 prédios de 6 pavimentos, que tem um planejamento pronto desde
2002. A luta é incorporar a área ao setor de preservação permanente do parque
da Tiririca, mas a força do dinheiro é sempre muito grande. E é sempre a base
de passar por cima de qualquer um como um trator. Além dos óbvios problemas
ambientais, aprovaram o Plano Diretor sem anuência da comissão de habitação.
Por isso foi na calada da noite.
Nós expulsamos todas as tribos indígenas da cidade, sem
direito a um pedaço de terra. Tradições como de Araribóia, que era canoísta, se
perderam. Uma tribo tentou reivindicar um pedaço, mas foi transferida para
Maricá. E lá, por interesses econômicos, estão lutando contra um grupo hoteleiro.
Por conta disso, procurei um trecho no livro Filosofia do
gosto, de Brillat-Savarin, que fala que os índios antropófagos daqui notavam a
diferença no sabor dos índios catequisados e nos não-catequisados. Ou seja, os
índios convertidos adquiriam um gosto que os outros não tinham. Então, pode-se
atribuir um gosto da alma cristã. Além do fato de um registro, na literatura,
que existe uma prova da existência da alma através da percepção do sabor,
deve-se saber não só o gosto da alma, mas a alma do gosto. Era bom? Melhor que
o pagão? Eles poderiam desejar um padre, como alguns desejam a carne mais nobre
do zebu.
Ainda bem que o desejo seria tentar buscar o santo graal,
que seria um santo no espeto, do que provar o nosso cidadão contemporâneo. Com
certeza, era motivo para indigestão!